Psicóloga denuncia racismo em loja: ‘vendedor pediu minha bolsa para eu entrar no provador

Na loja, gerente informou que procedimento era protocolo. Shopping diz que apura caso. Boletim de ocorrência foi registrado

Escrito por Redação ,
Bolsa verde em post denunciando caso de racismo
Legenda: Michele publicou foto indicando a bolsa que carregava, que precisou ser entregue para poder entrar no provador e experimentar itens
Foto: Reprodução

Uma mulher entra em uma loja de roupas, seleciona algumas peças para experimentar e se direciona ao provador. A cena seria comum não fosse pelo constrangimento de ser solicitada a entregar a bolsa ao vendedor para ter acesso ao provador.  

O caso aconteceu com a psicóloga Michele Maciel, de 33 anos, em uma loja da Capital cearense nessa sexta-feira (22), que denuncia ter sofrido uma situação de racismo em uma unidade da Adidas, localizada no North Shopping Fortaleza.  

“Na hora fiquei estarrecida, porque isso nunca havia acontecido comigo. O vendedor pediu minha bolsa e pertences para eu entrar no provador. Frequento outras unidades da loja e isso nunca tinha acontecido. Entreguei meus pertences e entrei no provador em choque, sem conseguir dizer nada a respeito”.  

A psicóloga relata que, após entrar no provador, ficou sentada ainda em choque. “Passou o mundo pela minha cabeça, me questionando se fiz algo para que entendessem errado, comecei a pensar se fosse uma pessoa branca isso teria acontecido?”.  

Veja também

Atuação questionada 

Após conseguir reagir à situação, Michele diz ter saído do provador e ter falado ao vendedor: “me interessei pelas peças, mas não vou levá-las porque estou me sentindo muito incomodada com o que acabou de acontecer”, ao que ele respondeu: “é, eu percebi. Você quer falar com a gerente?”.  

“Eu estava muito nervosa, gaguejava bastante. A gerente veio falar comigo e em nenhum momento houve uma escuta sensível, ela sempre queria explicar que aquilo era um protocolo da loja, mas protocolos podem ser mudados. Não consigo interpretar isso como não sendo racismo”, contesta.  

Ao sair da loja, Michele se direcionou ao seu carro e, segundo ela, a reação possível foi de chorar no interior do veículo. “Desde então pensei muito sobre o ocorrido, escutei outras pessoas que frequentam a loja que me disseram não passar por isso, então como funciona esse protocolo?”.  

A psicóloga relatou que fez o Boletim de Ocorrência para denunciar formalmente à polícia a situação ocorrida, entrou em contato com a ouvidoria do shopping e prestou uma reclamação no site Reclame Aqui.  

“Não é para fazer burburinho, é pra que isso seja repensado e que mudanças de protocolos sejam realizadas e situações como essa não voltem a acontecer”.
Michele Maciel
psicóloga

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSPDS) informou que a Polícia Civil (PC-CE) apura uma denúncia de racismo, que teria ocorrido em uma loja de departamento no bairro São Gerardo.

"O caso aconteceu nessa sexta-feira (22), após a vítima, uma mulher de 33 anos, ter sido obrigada a entregar seus pertences enquanto utilizava um provador. Nesse sábado (23), um Boletim Eletrônico de Ocorrência (BEO) foi registrado pela vítima e transferido para a Delegacia do 3º Distrito Policial, que ficará a cargo das investigações".

Apuração do caso

Por nota, o North Shopping Fortaleza informou que “não tolera nenhuma forma de discriminação e ressalta que, assim que tomou conhecimento do ocorrido, buscou contato com a cliente e com a loja para que todas as medidas cabíveis de enfrentamento ao tema sejam tomadas”.  

“O shopping reforça ainda que a situação narrada não faz parte dos valores da empresa, que baseia a abordagem com o público de forma geral em valores como ética, respeito, humildade e transparência”, acrescentou.  

A unidade franqueada da Adidas no North Shopping afirmou que "repudia com veemência toda e qualquer forma de preconceito e discriminação".

De acordo com a unidade franqueada, "é política da loja dar ao cliente a opção de deixar seus pertences com os funcionários com o objetivo de oferecer mais conforto e praticidade. Mas é apenas uma oferta que pode ser recusada, jamais foi condicionante para utilizar o provador de roupas".

Não houve, na conduta do colaborador, nenhuma intenção de constrangimento ou preconceito. Tampouco, recaiu sobre a cliente suspeita em qualquer campo. Se houver interesse, podemos apresentar imagens do atendimento da cliente em questão e de outras pessoas que transitaram na loja nos últimos dias e receberam a oferta da guarda de seus pertences".
Unidade franqueada da Adidas no North Shopping

A reportagem entrou ainda em contato com a assessoria da Adidas Brasil. Nesta segunda-feira (25), nota enviada ao Diário do Nordeste informou que a empresa está ciente e apurando o caso.

“A Adidas informa estar ciente do ocorrido na loja do North Shopping Fortaleza e busca a apuração do caso para aplicação de medidas cabíveis. A marca destaca ainda que não compactua com quaisquer formas de discriminação e preconceito e reforça que trabalha para promover a diversidade e inclusão por meio do esporte", diz o texto enviado.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados