Preso que vendeu arma de fogo para PM e cometeu outros crimes é condenado pela Justiça do Ceará

Homem é acusado de se associar a policiais para cometer crimes. Esse é o segundo caso de "informante" da Polícia sentenciado, em decorrência da Operação Gênesis

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
As conversas da quadrilha foram interceptadas por decisão judicial. José Abdon se comunicava mesmo estando preso
Legenda: As conversas da quadrilha foram interceptadas por decisão judicial. José Abdon se comunicava mesmo estando preso
Foto: Natinho Rodrigues

Um acusado de se associar a policiais para cometer crimes e de, mesmo preso no Ceará, comercializar ilícitos - inclusive uma arma de fogo para um PM - foi condenado pela Justiça Estadual a 33 anos e 4 meses de prisão. Esse é o segundo caso de "informante" da Polícia sentenciado, em decorrência da Operação Gênesis.

A sentença foi proferida pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas no dia 25 de abril deste ano e publicada, no último dia 16 de maio. José Abdon Gonçalves Filho deve cumprir a pena em regime inicialmente fechado e teve a prisão preventiva mantida, mas já recorreu da decisão.

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José Abdon foi condenado pelos crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e comércio ilegal de arma de fogo. O réu integrava um processo criminal com 19 acusados de participar de uma quadrilha (junto de outros civis e policiais militares), mas teve o processo desmembrado para responder sozinho.

Conforme a sentença, Abdon tinha três funções no grupo criminoso: "1) selecionar alvos para que o grupo executasse extorsões, 2) negociar a compra de entorpecentes, 3) repassar as informações para os policiais integrantes da organização criminosa que, consequentemente, abordavam os fornecedores da droga no momento emque eles faziam a entrega e realizavam a extorsão".

As conversas da quadrilha foram interceptadas por decisão judicial. Em um diálogo, mesmo de dentro do Sistema Penitenciário, Abdon autorizou o comparsa Francisco Antônio Duarte, o 'Dudu', a pegar a sua pistola Ponto 40 com outro homem e a vendê-la para um policial militar, por R$ 5,5 mil.

O PM pede para baixar o valor da arma para R$ 4,5 mil, e o detento aceita. "Observa-se, também, que Duarte afirma que o proprietário da arma é Abdon e que o mesmo encontra-se preso. Tal informação demonstra não ser empecilho para o prosseguimento da negociação criminosa", considerou a Justiça.

Outras conversas obtidas pelos investigadores também mostraram negociações de drogas e de veículos, realizadas por José Abdon de dentro da prisão.

A defesa de José Abdon Gonçalves Filho já recorreu da sentença. "Ocorre Excelência, como todos nós somos sabedores a peça acusatória não pode ser genérica, os fatos devem ser individualizados e com características de concretude, não devem nascer da imaginação de ninguém muito menos do Ministério Público que tem um papel importantíssimo na sociedade", alegou.

Outro 'informante' condenado

Um homem acusado de se associar a policiais no Ceará (considerado um "informante" da Polícia) para cometer crimes como extorsões, tráfico de drogas e tráfico de armas foi condenado pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas, da Justiça Estadual, a 90 anos e 7 meses de prisão.

Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, o colegiado de juízes da Vara manteve a prisão preventiva e decretou que Francisco Antônio Duarte deve cumprir a pena em regime inicialmente fechado. "Deixo de realizar a detração do acusado, uma vez que o tempo de prisão não será hábil a modificar o regime a ser imposto", considerou a sentença judicial, proferida no último dia 27 de maio.

Os crimes cometidos por Francisco Duarte, conhecido como 'Gordinho' ou 'Dudu', junto de policiais militares, foram descobertos a partir de interceptações telefônicas, autorizadas pela Justiça, em outra investigação, que tinha como alvos policiais civis - os quais 'Dudu' também estaria associado.

A quadrilha formada por PMs foi desarticulada na Operação Gênesis, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE), e pela Coordenadoria de Inteligência (Coin), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS).

"Em relação aos fatos aqui apresentados, agentes públicos e outros indivíduos conjugaram esforços para obter dinheiro por intermédio de empreendimentos ilícitos. Nesse passo, as conversas demonstraram que os denunciados, diuturnamente, se articulavam com o intuito de praticar ações para extorquir e espoliar suas vítimas, que, na maioria dassituações, eram selecionadas porque já delinquiam. Ademais, os acusados, inclusive policiais, angariavam recursos provenientes de suas ações e de materiais ilícitos posteriormente negociados", descreve a denúncia do Gaeco.

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