Golpe dos Precatórios: quadrilha cearense fez mais de 100 vítimas no PR, RS e SP

Parte do grupo foi capturada nesta quarta-feira (22). Foram cumpridos 15 mandados de prisão temporária e feita uma prisão em flagrante

Escrito por Luana Severo e Messias Borges ,
Caixas de aparelhos celulares, dinheiro em espécie, máquinas de cartão
Legenda: Os materiais apreendidos serão analisados pela Polícia, que segue com a investigação
Foto: Messias Borges

Uma quadrilha de estelionatários cearenses está sendo investigada por aplicar golpes em vítimas do Paraná, de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Parte do grupo foi capturada nesta quarta-feira (22), em uma operação integrada entre as Polícias Civis do Ceará e do Paraná, que cumpriram 15 prisões temporárias e uma em flagrante. A identidade dos presos não foi divulgada.

Os criminosos foram localizados nas cidades de Fortaleza, Aquiraz, Maracanaú, Pacatuba, Itapiúna e Lavras da Mangabeira. Segundo o titular da Delegacia de Estelionato do Paraná, Emannoel David, foram apreendidos, com eles, aparelhos celulares, computadores e valores em espécie, que serão ainda analisados no curso da investigação.

Conforme o inquérito, os estelionatários analisavam dados abertos de tribunais de Justiça, disponíveis na Internet, em busca de listas de precatórios a serem pagos. Depois, cruzavam essas informações com bancos de dados da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) nos estados para identificar quem, com precatórios a receber, já estava sendo assistido por algum jurista.

Feito isso, os criminosos entravam em contato com os clientes dos escritórios de advocacia, se passando pelos advogados deles, para pedir que fossem depositados valores para serem liberados os precatórios.

A vítima acreditava que estava falando com o próprio advogado. E, em alguns casos, os estelionatários falavam que eram da secretaria do escritório. São abordagens elaboradas, faziam crer que eram do escritório original daquela demanda [judicial].
Emannoel David
Titular da Delegacia de Estelionato do Paraná

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Cada vítima perdeu R$ 10 mil

O caso chamou a atenção da Polícia do Paraná após serem registrados ao menos 50 boletins de ocorrência na capital do estado, Curitiba — número que pode ultrapassar 100, se considerados os casos no interior. No entanto, no decorrer da investigação, a Polícia do Paraná descobriu outras vítimas em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Já os beneficiários dos depósitos foram identificados como sendo todos do Ceará.

A estimativa é de que, por vítima, os estelionatários conseguiram tirar em torno de R$ 10 mil. Contudo, não se sabe ainda para onde foi o dinheiro — que ultrapassa R$ 1 milhão.

"Os falsos advogados continuavam o tratamento [com as vítimas] como se fossem advogados. Tentavam tirar o máximo de dinheiro possível e não as bloqueavam. Quem acabava bloqueando [os números] eram as vítimas", quando se davam conta do golpe, continuou David. O delegado paranaense detalhou ainda que os precatórios dos golpes eram de diferentes fontes — "pensões, precatórios alimentícios, dos governos, INSS", citou.

Para evitar que as vítimas estranhassem o sotaque dos criminosos, as comunicações entre as partes eram feitas somente por mensagem de texto, via WhatsApp. Segundo o delegado Emannoel David, apenas quando as vítimas contataram os próprios advogados para tirar satisfação sobre o assunto foi que descobriram terem caído em um golpe.

Prisões

Chamada "Lobo em Pele de Cordeiro", a operação em parceria entre as Polícias do Ceará e do Paraná resultou em 16 prisões, sendo 15 temporárias e uma em flagrante. No entanto, eram 20 mandados de prisão e quase 70 de busca e apreensão em aberto.

A prisão em flagrante foi efetuada em Maracanaú, no bairro Jereissati, quando os policiais foram cumprir mandados de busca e apreensão e encontraram dois revólveres no imóvel. Um homem de 38 anos, que já responde pelo crime de receptação, foi conduzido à Delegacia Metropolitana de Maracanaú e autuado por posse irregular de arma de fogo.

Os presos devem responder, em geral, por estelionato, associação criminosa, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos privados e falsificação de documentos públicos.

Em nota enviada ao Diário do Nordeste, "o escritório FP Advogados, representado pelo sócio FIlipe Pinto, que atua na defesa de um dos envolvidos na matéria, afirma que acompanhará todo o processo criminal, realizando assim uma defesa técnica e comprovando a inocência de seu cliente". 

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