Chacina do Curió: 3º PM réu diz ter sido colocado como patrulheiro da equipe no dia do crime

Josiel Gomes contou que o nome dele na escala apareceu “de caneta”, como uma substituição de última hora

Escrito por Emanoela Campelo de Melo e Lucas Falconery ,
Legenda: Esse é considerado o maior julgamento da Justiça Cearense
Foto: Rannjon Mikael/TJCE

O policial militar Josiel Silveira Gomes, um dos oito acusados de envolvimento na Chacina do Curió, alegou atuar na região do Jangurussu e ter entrado para a equipe atuante na Grande Messejana como patrulheiro na ocasião que resultou na morte de 11 pessoas, em depoimento neste domingo (3). O interrogatório encerrou às 15h57, concluindo os relatos da viatura RD1307, no Fórum Clóvis Beviláqua.

Josiel, que trabalhou por um ano e meio como policial militar, contou que o nome dele na escala apareceu “de caneta”, como uma substituição de última hora, e negou ter trabalhado anteriormente com os também acusados no processo, Gerson Vitoriano de Carvalho e Thiago Veríssimo Andrade Batista.

O policial estava sentado atrás, na lateral esquerda da viatura, mas afirmou que não ouviu disparos e nem observou mortes nos atendimentos daquele dia. Josiel se recusou a responder os questionamentos da acusação e da assistência de acusação.

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“Eu fico triste pelo Ministério Público ter tantos dados e não prender os verdadeiros culpados. Deveria ter feito investigação mais técnica, mais profissional”, declarou Josiel.

Josiel, Gerson e Thiago estavam no expediente do dia 11 de novembro de 2015 até a madrugada do dia seguinte, na viatura RD1307, no momento em que acontecia uma série de homicídios no Curió, conforme as informações detalhadas pela Justiça. 

Os 3 relataram o desconhecimento sobre a chacina, mas uma câmera de segurança usada num comércio local registrou a presença da viatura RD1307. Contudo, os policiais não pararam para socorrer as vítimas caídas no chão.

Durante o depoimento, assim como Thiago, Josiel chorou pela situação. “O que eu tenho mais raiva é ter meu nome sujo na internet, escrever e sair que sou um assassino”, frisou. 

O policial passou 9 meses preso e lembrou o motivo de ter entrado para o serviço policial: a busca por melhores condições de vida.

“Por dificuldade financeira, resolvi fazer o concurso da Polícia Militar. Meu pai me ensinou a ser homem de verdade, e não bandido. Me solidarizo com os familiares das vítimas. A gente não pode prender inocente”, ponderou.

Policial trava embate como promotora durante julgamento

Após ouvir Josiel, o júri recebeu Thiago Aurélio de Sousa Augusto que, conforme a denúncia, estava com outros 2 policias na viatura RD1072, solicitada para ir numa ocorrência da Rua Elza Leite de Albuquerque, entre às 00h55min e 1h15min, devido à morte de 3 pessoas.

Os policiais presentes na viatura informaram, às 1h24min, que foram ao local, mas não identificaram nenhuma situação anormal. Apesar de vários chamados, moradores contaram que a equipe só chegou por volta de 2h15min.

Com isso, a acusação entende que os policiais se omitiram de prestar socorro e de impedir novos ataques, além da participação na prática de homicídios. Thiago, policial desde 2007, negou ter visto algum corpo na rua.

Thiago conhecia o policial Valtermberg Chaves Serpa, vítima de homicídio também na Grande Messejana. A morte do policial Serpa, inclusive, é apontada como um motivador da chacina.

Durante o depoimento, o Ministério Público exibiu um vídeo em que Thiago Aurélio passa próximo ao local descrito. Ao aceitar responder as perguntas da acusação, o policial travou um embate com a promotora. Na sequência, foi definida uma pausa da oitiva.

PRIMEIRO PM INTERROGADO

O PM Gerson Vitoriano Carvalho foi o primeiro réu interrogado ainda nesse sábado. Concluídas as perguntas a ele, feitas por promotores e assistentes de acusação, o colegiado de juízes suspendeu a sessão por uma hora e retomou por volta de 20h55, quando foi dada oportunidade para os advogados de defesa questionarem o réu.

O advogado Carlos Bezerra Neto, que atua na defesa dos PMs, declarou ao Diário do Nordeste que os defensores optaram "por testemunhas eminentemente técnicas" para sustentar que, na época do crime, os policiais "não deixaram de cumprir as determinações que vieram de cima, da Ciops [Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança]".

Neste domingo, Thiago Veríssimo Andrade Batista de Moraes, chorou ao ser chamado para depor e teve de ser encaminhado a uma sala separada para se restabelecer. Ele dirigia a viatura RD1307 e é acusado de "omissão dolosa a fim de facilitar o cometimento dos crimes contra vida que o grupo desejasse praticar".

PRIMEIRO JULGAMENTO

Na madrugada do último dia 25 de junho, após seis dias de julgamento, o Tribunal do Júri condenou os primeiros quatro PMs réus pelas mortes da Chacina do Curió. As penas somaram 1,1 mil anos no total. Foram condenados: Wellington Veras; Ideraldo Amâncio; Marcus Vinícius Costa e Antônio Abreu.

TERCEIRO JÚRI

Uma terceira sessão do julgamento já está agendada para este ano. No próximo dia 12 de setembro, será a vez de julgar todos os oito réus que compõem o processo 3 da Chacina do Curió.

Nesta ocasião, estão previstos 21 depoimentos, sendo seis de vítimas sobreviventes, sete de testemunhas e oito interrogatórios.

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