Ceará registrou 155 ações e ataques de facções criminosas em menos de dois anos

O número foi divulgado nesta quinta-feira (21) por meio do relatório da Rede de Observatórios da Segurança

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
incendio ataque
Legenda: Em setembro de 2019, dezenas de veículos foram incendiados por criminosos em Fortaleza, RMF e no Interior do Estado
Foto: Camila Lima

O avanço das facções criminosas no Estado do Ceará vem sendo notado nos últimos anos por meio das ações cinematográficas protagonizadas por membros destas organizações. São ataques promovidos à luz do dia contra o Governo, ameaças proferidas sem nenhuma discrição em meio aos muros na periferia, escolas invadidas, ordens de toque de recolher ditadas aos comerciantes, dentre outros. Conforme levantamento da Rede de Observatórios da Segurança, em menos de dois anos, o Ceará registrou pelo menos 155 ações de grupos criminais.

A pesquisa divulgada nesta quinta-feira (21) pela Rede mapeia dados referente à violência ocorrida nos estados do Ceará, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, de junho de 2019 até maio deste ano de 2021. Somadas todas estas localidades, foram 222 ações e ataques de facções. Os números indicam o Ceará em disparada na primeira colocação com mais casos.

O relatório recorda que setembro de 2019 foi o período com mais ataques seguidos no Ceará. De acordo com levantamento do Diário do Nordeste, em 10 dias, pelo menos 28 municípios do Estado sofreram com as ações criminosas. À época, as ofensivas mais comuns se tratavam de incêndios contra veículos e prédios públicos.

A pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança e mestra em Sociologia, Ana Letícia Lins, destaca que com o passar dos meses se percebeu uma redução nas ofensivas, mas a continuidade dos registros, com uma nova configuração.

"A gente percebe que apesar de em 2019 não termos uma situação daquela de dias seguidos de ataques, registramos situações diversas ações que continuam acontecendo, como ataques às instituições bancárias, a questão das expulsões de moradores, questões de facções querendo barrar acesso a internet, acesso à gás dentro de alguns bairros", contou Ana Letícia.

Os ataques em 2019 tornaram o Ceará uma vitrine das ações espetaculares das facções criminosas diante ao País"
Ana Letícia Lins
Pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança

Ainda segundo os estudiosos que participaram da pesquisa, "é possível perceber que um processo de reordenamento espacial das facções está em curso após sucessivas baixas nas lideranças, certa dificuldade de articulação entre a rua e o presídio, bem como a própria escassez de recursos materiais e humanos diante de um conflito de tamanha magnitude".

Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, por meio de nota, que "reformulou seus setores de inteligência e tem focado os trabalhos investigativos na identificação e captura de chefes de grupos criminosos, bem como na quebra hierárquica da estrutura criminosa no Ceará".

Disse ainda que em dois momentos distintos no ano de 2019 os setores de inteligência atuaram com as forças policiais, frustraram várias ações criminoas e capturaram cerca de 400 pessoas. 

"Na época, a repressão aos infratores foi enérgica e mostrou que o Estado não recuou, pondo em prática medidas efetivas no combate ao crime organizado. Desde então, o Estado não registrou outras ações coordenadas por grupos criminosos contra o patrimônio público ou privado nos anos de 2020 e 2021". 
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS)


Corrupção policial

A Rede ainda trouxe no relatório números acerca da corrupção policial. Foram 28 registros no Ceará em menos de dois anos. Na sequência estão Rio de Janeiro e São Paulo, ambos cada um com 16 ocorrências contabilizadas.

Em menos de um ano, o Ministério Público do Ceará (MPCE) deflagrou quatro fases da Operação Gênesis, relacionada à extorsão envolvendo agentes da Segurança Pública do Ceará. A quarta e mais recente fase foi deflagrada nessa terça-feira (20).

De acordo com balanço do órgão ministerial, na primeira fase, deflagrada em setembro de 2020, foram cumpridos 17 mandados de prisão e de busca e apreensão. Já na segunda fase, em outubro do ano passado, foram 16 mandados. Na 3ª fase, em maio deste ano, foram cumpridos 26 mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão.

Nessa terça-feira, o Diário do Nordeste revelou que policiais acusados de integrar uma organização criminosa desarticulada na 4ª fase cometeram diversas extorsões em Fortaleza nos anos de 2016 e 2017 e em um dos episódios chegaram a cobrar meio milhão de reais de um traficante em troca de não prendê-lo. As fases da Operação Gênesis são exemplo do envolvimento dos policiais em casos de corrupção no Estado.

 

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