Advogado preso com bilhetes na saída do presídio vira réu na Justiça; OAB-CE apura infração ética
Alaor Patrício Júnior foi preso pela terceira vez, na última semana. A reportagem teve acesso a documentos anexados ao processo, que indicam envolvimento em diversas práticas criminosas por parte do acusado
O advogado Alaor Patrício Júnior, preso três vezes em menos de dois anos, agora é réu na Justiça do Ceará. O magistrado da Vara de Delitos de Organizações Criminosas acolheu denúncia ofertada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE), com acusação contra Alaor e dois comparsas dele pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico de drogas, organização criminosa e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.
A prisão mais recente de Alaor aconteceu no último dia 10 deste mês. Desde então, segue encarcerado em uma unidade prisional no Estado. O nome do advogado esteve em holofote pela primeira vez no ano de 2019, quando foi detido em flagrante na saída da Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Elias Alves da Silva (CPPL IV), em Itaitinga, levando diversos bilhetes com conteúdo que fazia menção à facção criminosa.
A defesa do acusado afirma que a prisão neste mês de março aconteceu de forma ilegal e que foi forjada, porque, segundo eles, não houve novo crime que ensejasse mais uma captura. Já sobre Alaor ter se tornado réu, os advogados que o representam dizem não poder negar a existência de provas contundentes. "Não vamos negar o que tem de imagens, que ele teve arma, drogas. Ele veio de uma família simples e foi ludibriado nas relações com amizades ilícitas. Vamos fortalecer pedido de pena de grau mínimo".
O suspeito foi capturado por policiais civis da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas (Draco) que cumpriram mandado de prisão preventiva. A Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Ceará (OAB-CE) disse ter acompanhado o advogado para "garantir a legalidade da prisão no que tange às prerrogativas da advocacia". Dois dias após a prisão, O Tribunal de Ética e Disciplina da instituição instaurou processo administrativo disciplinar para apuração da infração ética e/ou disciplinar "inclusive com a aplicação da suspensão preventiva quando constatada a repercussão prejudicial à dignidade da advocacia".
Relatório
Na última semana, a reportagem do Sistema Verdes Mares exibiu com exclusividade vídeos nos quais Alaor Patrício Júnior aparece ostentando drogas, armas de fogo e com falas de referência ao crime organizado no Ceará. A reportagem teve acesso à novos documentos, dentre eles relatório da análise dos bilhetes encontrados com o advogado na saída da unidade prisional.
Os bilhetes foram encaminhados para exame grafotécnico e, após análise, a Polícia Civil do Ceará disse que eles apresentam conteúdos com "menções de cunho criminoso com referências a organizações criminosas, tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo, ameaça, auxílio para fuga de presos".
Veja as mensagens
"Com o causídico, no ato de sua prisão, foram apreendidos vários bilhetes repassados por presos com status de liderança da organização criminosa Comando Vermelho, com orientações diversas sobre tráfico de drogas, aquisição de armas, facilitação de fuga, retaliações a criminosos com dívidas com a facção criminosa. Os referidos bilhetes eram direcionados a outros criminosos que se encontram em liberdade", segundo os investigadores.
No último dia 23 de fevereiro, a Polícia Civil remeteu os autos à Justiça e disse ter encerrado seu trabalho no caso após constatar a materialidade delitiva e a autoria "claramente identificada". A defesa de Alaor diz acreditar na veracidade das perícias, no entanto, destaca que irá dar entrada no pedido de revogação da prisão preventiva.
Acusação
Alaor chegou a ser monitorado por tornozeleira eletrônica durante meses. Em novembro de 2020, quando a denúncia contra ele ainda não tinha sido apresentada, a Justiça decidiu revogar a medida cautelar. À época, o MPCE já havia destacado aguardar os laudos de exame de comparação de grafia.
A denúncia contra Alaor, Alan Marcos Azevedo Rocha e Valdemberg Rodrigues da Silva foi apresentada no último dia 25 de fevereiro. Na peça acusatória, o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) reiterou que o advogado é membro de facção.
"As anotações partem de presos com status de liderança da organização criminosa Comando Vermelho – CV, com orientações diversas sobre tráfico de drogas, aquisição de armas, facilitação de fuga, retaliações a criminosos com dívidas com a facção criminosa. Os referidos bilhetes eram direcionados a outros criminosos", conforme trecho da denúncia.
Em sua defesa, o acusado disse nos autos que foi forçado a entregar os bilhetes, mas não poderia informar a identidade de quem o ameaçou. Alaor ainda disse às autoridades que não advoga mais para Alan Marcos e Valdemberg.