Filiação de Flávio abre caminho para Bolsonaro ingressar no Patriota

Senador se filiou ao partido nesta segunda-feira (31) e o pai, Jair Bolsonaro, está sem partido

Escrito por Diário do Nordeste, Estadão Conteúdo e Daniel Carvalho e Thiago Resende/Folhapress ,
jair bolsonaro
Legenda: Aliados pressionam o presidente para ele decidir qual será a nova legenda para disputar a reeleição
Foto: Marcos Corrêa/PR

O senador Flávio Bolsonaro (RJ) se filiou nesta segunda-feira (31) ao partido Patriota e abriu caminho para que o pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), faça o mesmo.

Flávio participou virtualmente da convenção da legenda. Ele deixou o Republicanos, onde estava desde março de 2020, na quarta-feira (26) e no mesmo dia assinou a ficha de filiação ao Patriota. 

Com a filiação do senador, ficou exposto um racha interno do partido, que se divide sobre o alinhamento com Bolsonaro desde o início do ano. O presidente do Patriota, Adilson Barroso, quer viabilizar o ingresso de Bolsonaro na sigla. Adversários dele, porém, questionam decisões unilaterais do presidente da legenda e a sinalização de que, se escolher o Patriota, Bolsonaro teria pleno comando do partido.

A ala adversária a Barroso aceita discutir a filiação de Bolsonaro, mas queria que as condições fossem melhor explicadas. "Queríamos que isso fosse debatido internamente. Isso nunca foi discutido, sempre foi tratado pelo Adilson", conta o secretário-geral da legenda, Jorcelino Braga.

Eleições de 2018

Bolsonaro se aproximou do Patriota e chegou a indicar que disputaria a eleição de 2018 pelo partido. Porém, acabou sendo candidato pelo PSL, sigla pela qual se elegeu e da qual se desfiliou.

O Patriota hoje tem seis deputados federais na Câmara e tem votado de forma independente em relação ao Governo. Parte da bancada articulava para filiar o apresentador Danilo Gentili, visto como opção para a disputa da Presidência. O presidente do partido, contudo, já atuava em outra frente, em busca da reaproximação com a família Bolsonaro.

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Indefinição sobre partido

Aliados pressionam o presidente para que ele decida qual será sua nova legenda para disputar a reeleição. A indefinição está travando articulações locais de congressistas que pretendem seguir os passos do presidente e se filiar ao mesmo partido que ele. Sob reserva, estes aliados relatam incômodo porque os adversários largaram na frente nas conversas com foco nas disputas para o próximo ano.

Assim como o pai, Flávio Bolsonaro foi eleito pelo PSL, mas os dois deixaram a sigla em novembro de 2019, após rompimento com o presidente da legenda, Luciano Bivar. Começaram, então, a trabalhar pela formação da Aliança pelo Brasil, que não saiu do papel até agora e não se viabilizará a tempo das próximas eleições.

Sem conseguir criar o próprio partido, Bolsonaro chegou a conversar com diversas siglas, inclusive gigantes do centrão, como PP e PL, e até com legendas menores, como o PRTB, partido de seu vice, o general Hamilton Mourão.

Impacto da filiação de Flávio Bolsonaro

A filiação de Flávio deverá resultar na saída de integrantes da legenda ligados ao Movimento Brasil Livre (MBL), que fazem oposição Governo Federal. 

Deverão pedir desfiliação o deputado estadual Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, e o vereador paulistano Rubinho Nunes. Val disputou a Prefeitura de São Paulo em 2020 e planeja concorrer ao governo do estado no ano que vem.

Outro vereador paulistano, Fernando Holiday, já havia sido expulso do Patriota e filiou-se na semana passada ao Novo. Ele se desligou do MBL no começo do ano. A tendência é que Val e Nunes permaneçam sem partido durante um período, até decidirem a legenda à qual se filiarão. Eles afirmam ter convite de quatro partidos.

Racha é levado ao TSE

A possível debandada do clã Bolsonaro ao Patriota fez parte da cúpula do partido acionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a presidente da sigla, Adilson Barroso, acusado de irregularidades na organização da convenção em que foi anunciada a filiação de Flávio.

A ação enviada ao TSE é assinada pelo vice-presidente, Ovasco Resende, o secretário-geral, Jorcelino Braga, e outros seis integrantes do partido. Eles acusam o presidente do Patriota de convocar a convenção 'às escondidas' e de alterar a composição do colégio eleitoral no sistema do TSE para garantir maioria na votação que alterou o estatuto e favoreceu a entrada dos Bolsonaro, tudo isso sem comunicar os correligionários.

"O Presidente Adilson Barroso Oliveira está a praticar atos individuais e abruptos na gestão de um partido de caráter nacional", afirmam. "Pretendendo alterar o colégio eleitoral da convenção nacional, suprimindo votos desinteressantes e inserindo votos a seu favor, o presidente nacional Adilson Barroso Oliveira também suprimiu as direções estaduais que pugnavam pela tomada desta decisão de modo democrático e com ampla publicidade nas fileiras partidárias", prosseguem.

Na ação, os integrantes afirmam que nunca foram contra a filiação do grupo político de Bolsonaro, mas sustentam que a decisão sobre sua entrada no partido deve ser tomada de modo democrático. Eles dizem que a Comissão Executiva e o Conselho Político Nacional do partido chegaram a convocar o presidente da sigla para firmar uma diretriz nacional sobre o tema, mas enfrentaram resistência.

"Sabendo-se que o exmo. sr. presidente da República Jair Bolsonaro tem pretensões à reeleição e busca acomodar diversos apoiadores e mandatários, compete à convenção nacional do Patriota decidir democraticamente se o partido terá candidatura presidencial própria em 2022 e, em caso positivo, se é vontade da maioria que o candidato seja o exmo. sr. presidente da República Jair Bolsonaro e que seus apoiadores ocupem posições no Patriota."

O pedido é para suspender os atos do presidente do Patriota. O processo foi distribuído ao ministro Edson Fachin.

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