Terra devastada

Escrito por Sávio Alencar , salencarlimalopes@gmail.com

Legenda: Sávio Alencar é pesquisador em literatura
Foto: Arquivo pessoal

Quando aceitei o convite de Wagner Mendes, jornalista desta casa, para escrever estas mal traçadas, me animou a possibilidade de dar notícias da nossa vida literária, cobrindo lançamentos de livros, fatos do mercado editorial, comentários sobre a produção literária brasileira recente – enfim, um giro pelo mundo dos livros e da literatura. Um mundo, como sabemos, de muitos agentes: escritores, leitores, editores, críticos, professores, pesquisadores.

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A realidade, no entanto, se impõe. Enquanto nós, leitores, estamos às voltas, aturdidos, com uma pilha de livros que não para de crescer, uma das colunas do sistema literário brasileiro sofre severos ataques, que começam lá mesmo, na inimiga nº 1 do atual governo: a Universidade.

Recentemente, a revista “Estudos de literatura brasileira contemporânea”, da Universidade de Brasília, informou, em nota, a paralisação de suas atividades, iniciadas ainda em 1999.

Referência sobretudo para a comunidade acadêmica de Letras, a publicação resulta de um trabalho de articulação entre professores e pesquisadores, dentre os quais destaco a professora Regina Dalcastagnè, coordenadora do Grupo de Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, responsável pela publicação.

62 números depois, a “Estudos” não tem como continuar. A nota assinala a inviabilidade de futuras edições: sem financiamento para manutenção básica, uma equipe de editores, pareceristas e assistentes editoriais realizava, até então, um trabalho de natureza voluntária, uma realidade comum entre os periódicos científicos do Brasil. A equipe? Professores e estudantes.

Outras áreas do conhecimento também já comunicaram o fechamento de suas revistas. Não se trata de caso isolado. Lembro Darcy Ribeiro, que sintetizou a questão de forma definitiva em sua famosa frase: “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é projeto”. Um projeto, acrescento, de terra devastada. T.S. Eliot se espantaria ao descobrir que, neste país, não só abril é o mais cruel dos meses.

Sávio Alencar
Editor e pesquisador de literatura

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