Risco de extinção do Perse assusta setor de turismo

Escrito por Manoel Linhares ,
Manoel Linhares é presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH Nacional
Legenda: Manoel Linhares é presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH Nacional

Muita preocupa um forte rumor de bastidores de que o governo federal irá extinguir o Perse - Programa Emergencial para Retomada do Setor de Eventos com a justificativa de que os recursos destinados a subsidiá-lo teriam chegado ao fim. Não seria o primeiro movimento para acabar com o único benefício concedido exclusivamente para o turismo. Pelo contrário, a tentativa de por fim ao programa parece sistemática, uma vez que, entre idas e vindas, ele foi aprovado diversas vezes no Congresso Nacional.

Antes de mais nada, precisamos considerar três pontos básicos: a razão do Perse ter sido criado, quais os setores foram atendidos e em que condições as empresas poderiam se habilitar. O motivo de sua edição, tenho certeza, ainda está vivo em nossa memória, uma vez que seus beneficiados, a indústria do turismo, grande geradora de emprego, ficou quase dois anos paralisada, por força das restrições sanitárias impostas pela pandemia. No caso da hotelaria, 80% dos meios de hospedagem permaneceram fechados completamente e o restante funcionou com 5% de ocupação, principalmente, para atender médicos e pessoas ligadas às atividades essenciais que trabalharam durante o isolamento social. Entre os critérios para as empresas se habilitarem no programa, também estava a inscrição no Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur) e a renegociação e o pagamento de dívidas tributárias e não tributárias com a União.

Como forma de aprofundar o debate sobre a questão, já que as justificativas do governo para o término do Perse, além do fim dos recursos, estão possíveis fraudes, nossa proposta é que a Receita Federal torne público, através da Lei da Transparência, todos os valores envolvidos até hoje. As empresas que não estão em conformidade, deveriam ser obrigadas a devolver os recursos que se juntariam aos milhões arrecadados com pagamento das dívidas fiscais das empresas honestas.

A sociedade precisa ter acesso a esses números até mesmo para avaliar a iniciativa e sua real efetividade, já que os cofres públicos devem receber cerca de R$ 28 bilhões através da renegociação de débitos até o término do programa. É fundamental também diferenciar as empresas realmente aptas a estarem no Perse, através do cruzamento de dados, num verdadeiro trabalho de investigação, para identificar quem cumpre as exigências adequadamente.

Outro ponto que precisa ser destacado e esclarecido pelo governo é a sua abrangência que aceitou entre seus beneficiários empresas como o IFood, uma corporação internacional típica da indústria 4.0, que consolidou seus negócios durante a pandemia, e que não atende às exigências básicas do programa, como ser inscrito no Cadastur - Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos.

Entendemos o zelo do governo federal com o gasto público, mas não é aceitável que aqueles que estão contribuindo para retomada da economia do país sejam punidos com o fim de uma iniciativa que ainda é fundamental para a expansão do turismo brasileiro e cuja extinção traria grandes dificuldades financeiras para as empresas do setor que já fizeram seus investimentos, além de consolidar uma enorme insegurança jurídica e fiscal no país.

Nossos senadores e deputados federais já mostraram antes que estão atentos às questões que envolvem nosso segmento e comprometidos com o bem comum e com o progresso do Brasil. A permanência do programa, após ser cortado por uma medida provisória, comprova que a indústria nacional de turismo passou a receber a atenção proporcional à sua relevância como parte fundamental da cadeia produtiva do turismo.

O governo federal e os congressistas reconheceram a importância do turismo brasileiro como vetor da economia, principalmente devido à união de diversas lideranças setoriais que por diversas vezes, de maneira inédita, percorreram os gabinetes dos parlamentares para mostrar-lhes a importância e o impacto do setor na economia brasileira. Caso contrário, o que teríamos hoje, certamente, seria cenário devastador para uma das principais indústrias do país.  

Por último, mais do que uma vitória, a (re) aprovação do Perse pelo Congresso Nacional é a comprovação da força do associativismo e a certeza gratificante de que vivemos em um país democrático, em que os compromissos podem ser debatidos abertamente pelo Poder Legislativo federal e de que a Casa do Povo está aberta para debates e pautas suprapartidárias que possam estimular o desenvolvimento da economia do turismo brasileiro.

Manoel Linhares é presidente da associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH Nacional

 

 

 
Advogada
Conceição Martins
25 de Setembro de 2024
Graziela Monte é psicóloga e coordenadora de Desenvolvimento Organizacional do ISGH
Graziela Monte
23 de Setembro de 2024
Adolfo Ciríaco é empresário contábil
Adolfo Ciríaco
22 de Setembro de 2024
Wellington Sampaio é advogado e diretor jurídico da Associação das Administradoras de Condomínios do Estado do Ceará (Adconce)
Wellington Sampaio
22 de Setembro de 2024
Professor Aposentado da UFC
Gonzaga Mota
20 de Setembro de 2024