O novo prefeito de Fortaleza

Na saúde, talvez hoje o maior desafio do serviço público na cidade, sugiro um programa de saúde digital e acessível, com destaque para a telemedicina

Escrito por Machidovel Trigueiro Filho ,
Vice Diretor da Faculdade de Direito da UFC, Coordenador do CRIA - Centro de Referência em Inteligência Artificial da UFC, Pós Doutor na USP, Professor Visitante na FIU/EUA, Professor Pesquisador em STANFORD/EUA. Foi eleito o “Empreendedor Digital do Ano no Brasil” pela Associação Brasileira de Startups e a Startup Brasil.
Legenda: Vice Diretor da Faculdade de Direito da UFC, Coordenador do CRIA - Centro de Referência em Inteligência Artificial da UFC, Pós Doutor na USP, Professor Visitante na FIU/EUA, Professor Pesquisador em STANFORD/EUA. Foi eleito o “Empreendedor Digital do Ano no Brasil” pela Associação Brasileira de Startups e a Startup Brasil.

O novo gestor municipal de Fortaleza terá uma oportunidade única (antes inimaginável) de promover a transformação digital da cidade, tornando-a melhor e mais inteligente. Atualmente, nossa cidade enfrenta desafios complexos que exigem soluções criativas e inovadoras. Escrevi estas breves linhas, colocando-me no lugar do novo prefeito, com o intuito de contribuir com ideias e projetos para a cidade. Seguindo essa direção, eu focaria em desenvolver uma administração municipal inteligente e sustentável, utilizando um poderoso “data center municipal” (a ser desenvolvido em Fortaleza) e integrado às mais recentes tecnologias de IA (inteligência artificial) e IoT (internet das coisas). A seguir, apresento algumas ideias: a primeira seria a implementação de um sistema integrado de gestão urbana em todas as secretarias e regionais, utilizando sensores e redes de dados, dentro da construção de um grande “data center municipal”, com monitoramento do trânsito, segurança e infraestrutura em tempo real. Isso criaria uma rede de “bairros inteligentes” que otimizaria recursos e melhoraria a eficiência de serviços essenciais, como transporte público, saúde, gestão de resíduos e segurança, para citar alguns. A criação de um “painel de controle” da cidade, acessível tanto aos gestores quanto à população em seus dispositivos móveis, permitiria o acompanhamento de inúmeros indicadores, como mobilidade, qualidade do ar, consumo de energia e uso de água. Os cidadãos também teriam acesso a dados abertos e transparentes, podendo acompanhar em tempo real a utilização dos recursos públicos. Por outro lado, a prefeitura teria um melhor conhecimento dos usuários, integrados a uma grande plataforma alimentada por dados brutos dos contribuintes fiscais e principalmente dos usuários dos serviços da cidade, monitorados por IA, transformando-os em “dados trabalhados”, tudo dentro da obediência aos limites da LGPD – Lei Geral de Proteção dos Dados, ferramentas essas que serão essenciais para a tomada de decisão do administrador público, no atual modelo de gestão global e interligado.
 
Ainda nessa linha de cidade conectada e sustentável, implantaria Wi-Fi público (via satélite) em toda a cidade, integrado a uma plataforma de dados abertos, permitindo que cidadãos e turistas se conectem à rede e acessem informações sobre trânsito, horários de transporte público, segurança e eventos culturais, além de deixar suas contribuições e sugestões. Também implementaria sensores de trânsito inteligentes que ajustem automaticamente os semáforos com base no fluxo de veículos monitorados por IA, reduzindo congestionamentos e aumentando a eficiência do transporte. No mesmo contexto, a iluminação pública inteligente contaria com postes que ajustam a intensidade conforme a necessidade e possuem sensores de presença, contribuindo para a redução do consumo de energia. Projetos de mobilidade urbana sustentável, redução de emissões de carbono (como o projeto Fortaleza Carbono Zero) com o estímulo a veículos elétricos e a construção de usinas solares públicas para abastecimento dos edifícios municipais e o aproveitamento da abundância de sol para gerar energia limpa e sustentável.
 
Em termos de educação, a educação digital seria uma prioridade, com a implementação de plataformas híbridas e a digitalização do currículo, incorporando novos conhecimentos e garantindo que todos os estudantes da rede pública tenham acesso a dispositivos e internet de alta qualidade. Livros digitais, atualizáveis e integrados a lousas digitais, substituiria gradativamente os livros físicos, que têm durabilidade limitada. Plataformas como a do Google já permitem modelos inovadores de ensino, facilmente adaptáveis às escolas municipais. Também investiria em “Escolas 4.0”, equipadas com laboratórios de tecnologia, aulas de programação, robótica, IA e ciências de dados desde o ensino fundamental, preparando os jovens para o mercado de trabalho do futuro.
 
Na saúde, talvez hoje o maior desafio do serviço público na cidade, sugiro um programa de saúde digital e acessível, com destaque para a telemedicina. Utilizaria todas as ferramentas digitais possíveis, desde prontuários médicos digitais até marcação de consultas e exames, visando otimizar o atendimento, reduzir filas e melhorar a qualidade dos serviços, monitorados por IA. A telemedicina seria amplamente promovida, principalmente em áreas periféricas, com plataformas integradas de saúde. Além disso, implantaria clínicas móveis digitais em bairros periféricos, oferecendo serviços de saúde e diagnóstico conectados à internet, e criaria um aplicativo de saúde onde os moradores poderiam agendar consultas e receber lembretes de vacinação, com dados integrados ao data center municipal.
 
Na infraestrutura tecnológica, criaria o Parque Tecnológico de Fortaleza, voltado para incubação de startups, atração de investidores e desenvolvimento de novas tecnologias. Outra ideia, seria alimentar uma espécie de CITE – Centro de Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo, com uma abordagem moderna, em um modelo totalmente diferente do que se tem hoje na prefeitura de Fortaleza, que é o CITINOVA, sem protagonismo algum, totalmente desconectado da realidade, diante do grande potencial envolvido nos temas ligados a inovação e inteligência artificial. Nesse novo espaço, estimularia a contratação de empresas de tecnologia por meio de um “concurso público municipal de startups”, focando em soluções inovadoras para Fortaleza. Um evento anual, como a Fortaleza Tech Week, também poderia existir, reunindo líderes globais de tecnologia e empreendedorismo, posicionando a cidade no mapa da inovação. Por fim, garantiria inclusão digital e social para todos, com acesso à internet de alta qualidade, inicialmente por cabos e repetidores, e, finalmente, via satélite, com Wi-Fi gratuito para toda a cidade. Não há mais tempo a perder. Fortaleza já atraiu recentemente os cabos submarinos de fibra ótica, integrando-a ao “cinturão digital”. Super “Data Centers” estão se estabelecendo no bairro da Praia do Futuro. No entanto, isso não é suficiente. O novo gestor precisa agir rapidamente para inserir a cidade nessa nova realidade mundial. O caminho da IA é irreversível. Cabe a nós aplaudir os pioneiros e visionários. Acredito que o próximo prefeito estará atento a alguns dos caminhos aqui apontados, mesmo que de forma gradual, para garantir que Fortaleza se torne uma cidade mais inteligente, humana e próspera para todos, seja no Meireles ou na periferia. Isso é possível com inteligência, inovação e coragem.

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