Energia eólica e solar: novas esperanças
A prestigiadíssima revista científica Nature Communications publicou os resultados de um estudo que concluiu ser possível atender 85% das necessidades de eletricidade dos Estados Unidos utilizando energia eólica e solar. Melhorias em sistemas de armazenagem poderiam aumentar esse número.
O estudo foi desenvolvido por cientistas da University of California, da China’s Tsinghua University, do Carnegie Institution for Science e do Caltech, que analisaram os dados sobre demanda de energia hora a hora, de 42 países por um período de 39 anos - uma aplicação clássica de big data/analytics.
Além dos 85% observados para os Estados Unidos, o estudo permitiu observar que nos demais países, esse número oscila entre 72% e 91%, sem levar em conta eventuais melhorias nos sistemas de armazenamento, que se tivessem capacidade para armazenar 12 horas de consumo, elevariam esses números para 83% e 94%.
Mas há aspectos geográficos a considerar: se para os países próximos à linha do Equador, como o Brasil, seria mais fácil mudar totalmente para fontes de energia sustentáveis, de vez que dispõem de sol por períodos mais longos, outros países, como a Alemanha, por exemplo, podem ter dificuldades para atender às suas necessidades por meio da energia eólica e solar, por estarem em latitudes mais altas.
Além do aperfeiçoamento dos sistemas de armazenamento, outra solução seria países de uma mesma região compartilharem recursos. O professor Dan Tong, da Universidade Tsinghua e principal autor do artigo, disse a título de exemplo que, um sistema que juntasse a energia gerada pelo sol abundante da Espanha, Itália e Grécia, com a gerada pelo vento abundante da Holanda, Dinamarca e região do Báltico, seria muito consistente e estável.
Alguns países estão reduzindo sua dependência de combustíveis fósseis, o que é essencial para mitigar as emissões de carbono e limitar o impacto das mudanças climáticas; em 2020, a Europa gerou mais eletricidade a partir de fontes renováveis do que a partir de combustíveis fósseis, mas mesmo com esses esforços e os números trazidos pelo relatório, ainda haveria centenas de horas por ano em que a demanda não seria atendida, havendo a necessidade de fontes alternativas.
Além disso, medidas como o aumento do número de veículos elétricos, podem gerar novos e graves problemas ambientais, como já é o de descarte de baterias inservíveis.
Não há soluções fáceis para o problema, que é de todos nós, e não apenas de governos e empresas.
Vivaldo José Breternitz é Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor do Programa de Mestrado em Computação Aplicada da Universidade Presbiteriana Mackenzie
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.