Duas estátuas, dois destinos

Escrito por Gilson Barbosa ,
Jornalista
Legenda: Jornalista

Machado de Assis (1839-1908) e José de Alencar (1829-1877) foram contemporâneos e bons amigos. Um era admirador dos livros que o outro escrevia, reconhecendo-lhe o talento criativo. Há outras afinidades entre Machado e Alencar. Ambos tiveram vários de seus livros lançados pela famosa Livraria Garnier, do francês Baptiste-Louis Garnier (1823-1893), que marcou época no mercado editorial do país, publicando obras de nossos autores mais representativos no século XIX. Machado atuou ali, inclusive, como revisor. Alencar chegou a ensinar ao amigo um pouco da língua inglesa.

Em 1868, quando o poeta Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871) visitou o Rio de Janeiro, recomendado que fora pelo político baiano Joaquim Jerônimo Fernandes da Cunha (1827-1903), “um dos pontífices da tribuna brasileira” e amigo de Alencar, conforme registrou o cearense, este escreveu longa carta a Machado de Assis, a 18 de fevereiro daquele ano. Alencar dizia ao amigo que Castro Alves, então desconhecido na cidade, era seu hóspede e pedia-lhe apoio para divulgar o trabalho do baiano. “É preciso abrir-lhe o teatro, o jornalismo, a sociedade, para que a flor desse talento cheio de seiva se expanda nas auras da publicidade. Lembrei-me do senhor (…), o único de nossos modernos escritores que se dedicou sinceramente à cultura dessa difícil ciência que se chama crítica (…). Do senhor, pois, do primeiro crítico brasileiro, confio a brilhante vocação literária, que se revelou com tanto vigor”. E Machado realmente entregou-se à tarefa de divulgar o novo talento junto à Corte, a pedido de Alencar.

Ao fundar a Academia Brasileira de Letras, em 1897, Machado escolheu José de Alencar, que falecera 20 anos antes, para seu patrono na cadeira de número 23 da ABL. No ano de 1929, a ABL instalou na entrada do seu prédio, no Rio, a estátua de seu fundador, de autoria do escritor paulista Humberto Cozzo (1900-1981). Em Fortaleza, por sua vez, a Associação Cearense de Imprensa (ACI) inaugurou, também em 1929, no centenário de nascimento de Alencar e na praça que leva seu nome, uma estátua em sua homenagem, igualmente da autoria de Cozzo.

Machado, homenageado com um busto em Lisboa e uma outra estátua em Madri, até hoje tem sua estátua bela e conservada no Petit Trianon, sede da ABL. Porém, em meio ao abandono que caracteriza os monumentos de nossa capital, a de Alencar, trabalhada em granito branco de Itaquera, teve destino bem diverso. Está totalmente danificada, pichada e sem os dizeres da placa. Na “restauração” levada a efeito em 2020, pelo ex-prefeito Roberto Cláudio, a estátua do autor de “Iracema” foi massacrada com uma mão de tinta amarelo ouro sobre sua cor original. Como se vê, as duas estátuas tiveram destinos distintos. A de Machado resiste dignamente ao tempo. Quanto à de Alencar,… ! Um desrespeito a sua memória. Triste!

Gilson Barbosa é jornalista

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