Espírito argentino e mística de estádio: sensação da Série C, Floresta sonha com acesso
Verdão está no quadrangular de acesso e com chances de jogar Série B em 2026
Sem medo de errar, o Floresta é a sensação da Série C do Campeonato Brasileiro 2025. O Lobo da Vila é o time mais surpreendente entre os 20 participantes e está entre os oito clubes que sonham com o acesso nos dois quadrangulares. E certamente você, mesmo torcendo para outros clubes, acompanhou por curiosidade e com crescente interesse a saga do Verdão nesta Terceirona.
Dos oito na luta pelo acesso, Náutico, Ponte Preta, Guarani/SP não são surpresas por suas camisas pesadas, tradição na Série A e investimento. Já Londrina e Caxias são clubes fortes com torcida em suas cidades e jogam a segunda divisão constantemente. São Bernardo/SP e Brusque/SC estão entre os emergentes e com investimento.
Quem sobrou? Bingo! O Verdão da Vila, que surpreendeu os favoritos na 1ª Fase e sonha com o acesso. Em seu 5º ano na terceira divisão, o Lobo deu um passo à frente em performance após 4 anos seguidos lutando pela permanência.
E esse passo a frente permitiu o Floresta a sonhar e estar a poucos jogos do acesso, algo muito relevante para um clube que se tornou profissional apenas em 2015. Ou seja, em 10 anos de profissionalização, o Verdão pode alcançar o maior feito de sua história.
Em 22 dias, o Floresta pode fazer seu maior jogo. No dia 11 de outubro, contra o Caxias, no Centenário, com chances de acesso, pela última rodada do quadrangular final.
E o Diário do Nordeste conversou com pessoas que vivem o Verdão intensamente e buscou entender os segredos desse simpático time que tem surpreendido os mais fortes e ganhou a simpatia do torcedor cearense.
'Espírito Argentino'
O Floresta se transformou após a campanha decepcionante no Campeonato Cearense 2025, quando disputou o quadrangular do rebaixamento e garantiu a permanência na última rodada. O técnico Marcelo Chamusca deixou o clube, chegando Leston Júnior, que foi vice-campeão da Série D em 2020 com o Verdão e conseguiu o acesso nacional.
Com mais de 70% do elenco reformulado, o Floresta chegou à Série C com o objetivo de permanecer, como em anos anteriores. No entanto, a equipe foi encorpando, com um espírito argentino. Ainda que não tenha nenhum jogador hermano no elenco, o técnico classificou o time assim, pelo espírito competitivo.
Não por acaso, o Verdão detém a 2ª melhor defesa da Série C, com apenas 15 gols sofridos, em 21 jogos. E na 2º Fase, tem a melhor defesa, ainda sem sofrer gols.
Essa vontade de realizar transformou o nosso time em muito competitivo, aguerrido. A gente brinca, às vezes, que nós somos, talvez, o time brasileiro mais argentino da Série C. A gente tem muita coisa assim que é e sempre foi característica muitas vezes do futebol argentino, né? Um time brigador, um time que vende muito caro resultado. As poucas derrotas que nós tivemos na competição foram derrotas em que os adversários verdadeiramente tiveram que produzir muito para nos vencer, e eu sempre coloquei para eles que quanto mais sólido for nesse tipo de competição, ela vai premiar sempre o equilíbrio, né? E esse equilíbrio parte por ser uma equipe que sofre um pouco."
Para o treinador, o diferencial também foi ter um elenco comprometido, que acreditasse nas ideias dele.
"A gente conseguiu incutir isso na cabeça dos jogadores. Eles compraram a ideia. O treinador de futebol é um vendedor de ideia. Ele depende que os 30 caras que estão aí comprem a ideia, né? E esse grupo comprou essa ideia de ser um time muito comprometido, muito organizado. E eu acredito que isso tá muito ligado a isso, né? Nós fomos a segunda melhor defesa na primeira fase e hoje somos a melhor defesa da segunda fase. Então, sem dúvida nenhuma, tem sido um diferencial pra nossa campanha."
Como joga a Verdão
E quem acompanhou os jogos do Floresta na competição pode comprovar o que o Leston afirma. O Verdão é 'osso duro de roer' em campo, e a tática utilizada pelo treinador é a seguinte: um 5-4-1 quando defende e um 3-5-2 quando ataca.
O goleiro titular no início da campanha foi Dalton, muito seguro. Após a lesão dele, Dheimison entrou no momento decisivo e tem se destacado com grandes defesas.
Os três zagueiros, Vaz, Ícaro e Kayke são altos e se posicionam muito bem, sendo fortes no jogo aéreo defensivo como a competição exige.
Os laterais Ludke e Diego Matos são mais defensivos, com Rodrigo Henrique e Guilherme Nunes sendo os volantes que protegem a defesa e saem para o jogo.
Gustavo Xuxa é o meia que cai pela esquerda, e Romarinho é o atacante que se movimenta o campo todo.
O centrovante do time é Jeam, mas ele também cai pela esquerda.
Outros jogadores muito importantes ao longo da campanha são: o zagueiro Rafael Furlan, o meia Pablo, o lateral Rubens, o volante Igor Dutra e o atacante Ruan, que entram constantemente ao longo dos jogos ou já foram titulares em algum momento.
Ambiente diferente e competição interna
Com 10 anos de profissionalismo e um clube de bairro, da Vila Manoel Sátiro, o Floresta ainda não tem um número de torcedores que faça de seus jogos um caldeirão para os adversários, como acontece com Londrina, Caxias, Náutico, Ponte Preta e Guarani/SP, só para citar os times que lutam pelo acesso.
Portanto, o ambiente do clube é diferente dos de massa no Estado, como Ceará e Fortaleza. O treinador do Verdão, que já trabalhou em um clube de massa com o Santa Cruz/PE analisou como este ambiente contribuiu para o sucesso do time em 2025.
"O Floresta é um clube diferente, o Floresta não tem o apelo de mídia, a torcida, cobrança de torcida. Então, o externo do Floresta é muito tranquilo para os parâmetros de futebol no Brasil. Então, se você não tiver internamente, um ambiente muito competitivo, esse brilho no olho... Isso cria um ambiente que eu chamo de ambiente seguro, né? E todos os profissionais em qualquer área, quando se deparam com um ambiente seguro, a chance de conseguir performar no seu mais alto nível é maior. E eu acredito que essa junção de um ambiente seguro com um lado muito competitivo fez com que a gente tivesse aí essa campanha que a gente tá construindo até agora."
"É muito gratificante poder participar historicamente do Floresta. Eu tô aqui na segunda temporada. Viver esse momento é muito gratificante viver com com esse grupo espetacular, grupo trabalhador, dedicado, é muito bom e tomara que a gente consiga colher melhores frutos ainda do que a gente tá colhendo.
"A gente gosta de jogos grandes, gosta de jogos decisivos e pela experiência assim é muito bom eh passar passar essa vivência pro pessoal que mais novo ou pro pessoal que não tem tanta tanta experiência nesses nesse tipo de campeonato ou nesse nesses fases de acessos e tudo mais. É muito bom poder ser um líder do grupo e e tá passando isso para pras demais pessoas".
Estádio como amuleto
Neste ambiente diferente, sem grande torcida, o Floresta manda seus jogos no Estádio Domingão. Em outros anos, as partidas foram no estádio Presidente Vargas, em Fortaleza (CE), com um gramado melhor. Mas, em 2025, o clube começou a jogar na praça esportiva de Horizonte e, como foi dando certo, virou uma espécie de amuleto.
Apesar da estreia com derrota por 2x0 para o Londrina, na 2ª rodada, a mística tem dado certo. São nove jogos de invencibilidade, com seis vitórias e três empates. Em dez confrontos, foram apenas cinco gols sofridos, média de um gol a cada duas partidas.
"Em outros anos a gente jogava no PV. Eram raros os jogos no Domingão. Então, para mim, no primeiro momento foi uma surpresa o clube optar por atuar lá, mas depois que os resultados começaram a acontecer virou um talismã, né? E, se a gente se identificou com aquilo ali, os jogadores se adaptaram, né? E tem sido o diferencial. Nós estamos aí, nós estamos na geral da competição entre as três melhores campanhas de mandante. Então, isso é sinal que o Domingão fez, vem pra gente aí nessa temporada. Tomara que continue fazendo nesses dois jogos que nós temos ainda para realizar lá."
Melhor estrutura
Quem chega ao CT Felipe Santiago, na Vila Manoel Sátiro, logo se impacta com a estrutura do Floresta. E para quem visitou em outros anos, como no caso do Diário do Nordeste, constata que em 2025 o clube está mais estruturado, crescendo a olhos vistos.
Em 2015, o Verdão jogou a Série C do Cearense, e a partir daí, chegou a Série A Cearense em 2018. Nesse período, foi campeão da Fares Lopes (2017) e vice da Série D (2020).
A ascensão no futebol também foi acompanhada por crescimento em estrutura, para ser competitivo em outros níveis.
Nazareno Silva, gerente de futebol que chegou ao clube em novembro de 2024 para coordenar as categorias de base e, posteriormente, a equipe profissional, destacou a evolução notável do Floresta, tanto dentro quanto fora de campo. Ele enfatiza que, apesar de ser um clube jovem, o Floresta já acumula mais da metade desse tempo em competições nacionais, almejando agora um acesso à Série B.
"A gente vê que o Floresta tem esse DNA de um clube que cumpre com seus compromissos, entrega condições de trabalho para os atletas. Geralmente são os atletas que têm um trabalho muito forte dentro de campo através da comissão e tem o respaldo, né, de todos os colaboradores aqui, de todos os setores dando essa sustentação pro trabalho".
Expectativa
Para um clube com apenas 10 anos de profissionalismo, com uma torcida praticamente familiar, como parentes de jogadores e dos demais funcionários, o ambiente é de muita emoção e proximidade.
A comemoração após a vitória diante do São Bernardo por 2x0 no Domingão, que classificou o time para o quadrangular foi linda, emocionante, com muitas lágrimas.
Agora no quadrangular, o Verdão, que já fez história por estar na luta pelo acesso, promete emocionar ainda mais, independente do desfecho daqui 22 dias, se conseguirão ir para a Série B ou não, mas uma coisa é certar: eles vão lutar e dar a vida por eles e por suas famílias.