Carlos Alberto Parreira, Eduardo Bandeira Mello, Tite e outros nomes prestaram uma última homenagem ao Velho Lobo
O lendário ex-jogador e treinador Mario Jorge Lobo Zagallo, falecido nasexta-feira (6) aos 92 anos, está sendo velado neste domingo (7) na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro.
Vestidos de preto, com o amarelo da Seleção ou com as cores dos clubes que Zagallo jogou e treinou, dezenas de pessoas foram à CBF render as últimas homenagens na despedida do "Velho Lobo".
Próximo do caixão também estão exibidos os cinco troféus de Copa do Mundo conquistados pelo Brasil.
Zagallo, ex-ponta-esquerda conhecido por seu brilhantismo tático, esteve presente em quatro desses títulos, mais do que qualquer outro na história do futebol.
Ao lado de Pelé, ele conquistou como jogador as Copas de 1958 e 1962. No Mundial de 1970, foi o treinador da equipe que faturou o tricampeão no México e, em 1994, foi assistente técnico no tetra nos Estados Unidos.
"O trabalho dele foi absolutamente revolucionário, foi disruptivo e não só nós tínhamos os melhores jogadores do mundo, como tínhamos, inquestionavelmente, o melhor treinador do mundo", disse à AFP Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo, que Zagallo defendeu como jogador e técnico.
Foi no Flamengo que Zagallo começou a jogar futebol, na década de 1950, e foi de lá que as portas para a seleção brasileira foram abertas.
"Acho que todo treinador deveria se inspirar naquilo que ele fez na Seleção de 1970", acrescentou Bandeira.
'Patrimônio do futebol'
Ao Globo Esporte, Márcio Braga, também ex-presidente do Flamengo, classificou Zagallo como "patrimônio do futebol brasileiro".
"O Zagallo foi um grande atleta e um excelente técnico. Patrimônio do futebol brasileiro, sem sombra de dúvidas. Em material de técnicos que eu tenha lidado, o Zagallo, o Cláudio Coutinho e o Telê Santana são os três maiores nesses 40 anos que passei no Flamengo", afirmou.
Também ícone da seleção Brasileira, o ex-treinador Carlos Alberto Parreira relembrou ao GE como conheceu Zagallo. A parceria entre os dois durou cerca de 50 anos.
"Eu estava fazendo um estágio pela Escola de Educação Física e me convidaram para ir a um treino do Botafogo e, antes do treino, ele nos recebeu, a mim e outros companheiros. Eu o cumprimentei, um prazer muito grande. Ele educamente me cumprimentou, falou com todo mundo. Foi o início de uma relação que durou mais de cinco décadas", ressaltou Parreira.
O primeiro trabalho entre os dois foi em 1970, quando Parreira era preparador físico da Seleção comanda por Zagallo.
"Foi um privilégio um jovem como eu, no início da carreira, ter conhecido uma pessoa tão importante e tão boa como o Zagallo. Ele se dedicava, se doava e sempre disposto a ajudar, a colaborar. Foi um privilégio tê-lo tido como amigo durante esse período todo", acrescentou Parreira em depoimento ao GE.
Entre outros que prestaram homenagem estavam o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, e o técnico do Flamengo, Tite, que comandou a Seleção até dezembro de 2022.
"Ele foi um exemplo para todos os brasileiros", disse Claudio Alvarenga à AFP, um motorista de 64 anos que chegou cedo para ser um dos primeiros a passar pelo caixão.
"Você pode viajar pelo mundo, só vai encontrar um Zagallo. Ninguém mais na história ganhou quatro Copas", complementou Alvarenga.
"Gênio tático"
Zagallo morreu na sexta-feira por falência múltipla dos órgãos em um hospital do Rio, após sofrer uma série de problemas de saúde nos últimos meses.
O velório público será seguido por uma missa privada e depois pelo sepultamento no cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou Zagallo de "um dos maiores jogadores e técnicos de futebol de todos os tempos", declarou três dias de luto nacional a partir de sábado, ordenando que bandeiras fossem hasteadas a meio mastro em todo o Brasil.
O mundo do futebol também rendeu homenagens ao 'Velho Lobo'.
"A influência de Zagallo no futebol, e no futebol brasileiro em particular, é suprema", disse o presidente da Fifa, Gianni Infantino.
"Em tempos de necessidade, o Brasil olhou para 'O Professor' como uma presença calma, um guia e um gênio tático", acrescentou Infantino.
Os campeões mundiais Ronaldo, Ronaldinho e Romário também homenagearam o ídolo, e o atual astro da Seleção e do Real Madrid Vinícius Júnior o chamou de "lenda".
Além de Zagallo, somente o alemão Franz Beckenbauer (1974 e 1990) e o francês Didier Deschamps (1998 e 2018) venceram a Copa do Mundo como jogador e como treinador.
Nostalgia dos dias de glória
Amado tanto por seus feitos no futebol quanto por sua personalidade, Zagallo é lembrado por seu humor caloroso, profunda superstição e paixão pelo esporte.
Ele era o último titular do time campeão do mundo em 1958 ainda vivo, depois da morte de Pelé em dezembro de 2022, aos 82 anos.
A despedida ocorre em um momento difícil do futebol brasileiro, que parece longe dos dias de glória da era Zagallo.
O CFB demitiu o técnico Fernando Diniz do comando da Seleção na última sexta-feira, após uma série de três derrotas nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026.
O Brasil está atualmente em sexto lugar nas Eliminatórias e está sem treinador, tendo fracassado na tentativa de contratar o italiano Carlo Ancelotti, que renovou contrato com o Real Madrid.
O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues – que retornou ao cargo na última quinta-feira em meio a uma complicada batalha judicial – não quis falar sobre a situação da Seleção.
"Só quero falar do Zagallo hoje", disse Rodrigues aos jornalistas.
"Hoje nós temos que aproveitar, e é muito pouco tempo para falarmos de uma lenda tão importante para o futebol brasileiro e o futebol mundial", acrescentou o dirigente.