Maquiadora do Jangurussu se une a amigas e cria produtora audiovisual Princesinhas da Favela
Projeto busca enaltecer os trabalhos da comunidade e elevar a autoestima de jovens que sonham em se tornar modelos profissionais
Foi após várias recusas racistas durante entrevistas de emprego como maquiadora que Helen Sá resolveu mudar a própria trajetória profissional. Uma delas foi decisiva.
"Após três horas de atraso, fui pra sala da entrevista e a primeira fala da recrutadora foi: ‘para que esse piercing? Minhas clientes não vão querer ser atendidas por você, você parece ser agressiva, minhas clientes são mulheres chiques. Acho que isso revela algum problema na sua alma e você precisa de um psicólogo’", relata Helen.
"Eu fiquei pasma, rindo de nervoso, foi então que comecei a falar sobre mim, que minha beleza e estética era uma questão cultural, de construção de identidade, comentei que estudava ciências sociais na UECE, falei um pouco sobre o conceito de cultura e pedi meu currículo de volta”, relembra.
No outro dia Helen teve um insight e imaginou o projeto juntamente com suas amigas. Criado em 2018, Princesinha de Favela (PPDF), busca exaltar a beleza e cultura de quem vive nas periferias. Seu nome foi inspirado em uma música de forró.
O projeto conta com quatro fundadoras. Helen de Sá, 28, maquiadora e produtora cultural, idealizadora e diretora de beleza da produtora PPDF. Georgia Pinheiro, 23, produtora de Dança do Coletivo Princesinha De Favela e compõe a equipe de beleza, sua especialidade é voltada para penteados afros, como tranças. Thais Rodrigues (mais conhecida como Ruivinha), 22, produtora executiva do projeto princesinha de favela, atriz do La Casa duz Vetin, dançarina do Princesinhas do Passinho, cantora e idealizadora do canal brega 085. Todas moradoras do bairro Jangurussu.
Flávia Almeida, 26, produtora cultural, arte-educadora, trabalha com fotografia e audiovisual desde os 19 anos e mora Granja Portugal, no Grande Bom Jardim. É diretora de fotografia e o Projeto Princesinha de Favela como produtora e fotógrafa e é idealizadora do Coletivo Motim.
“Como se diz, ‘na tora’”
Sem dinheiro para financiar as refeições da equipe, Ruivinha comenta que os primeiros ensaios foram realizados de forma improvisada, com equipamentos, produtos de cabelo e maquiagem emprestados pela comunidade.
“A gente filmava em meio à praça pública, colocando os materiais em cima dos bancos das praças, era se ajudando assim. Então esse processo em que a gente pode aprender com as nossas práticas, como se diz, ‘na tora’, ensinou muito à gente o que a gente quer fazer a partir de agora. Acho que a gente sempre foi uma produtora audiovisual, a gente só não sabia disso”, relembra Helen.
As gravações eram realizadas dentro da casa das fundadoras e as modelos eram moradoras dos próprios bairros. “É um processo muito intenso, porque a gente passa o dia todo fazendo a produção, a maquiagem demora muito e as fotos também eram muito demoradas”, explica Flávia.
“Começou como um projeto, virou coletivo e agora, produtora”
A Princesinha de Favela foi aprovada em um dos editais disponibilizados pela Lei Aldir Blanc. Com isso, conseguiu investir em materiais e equipamentos próprios e puderam oferecer remuneração à equipe.
Após muito esforço e determinação, o projeto subiu de patamar e se tornou produtora de audiovisual fotografia, audiovisual e moda, lançando sua primeira campanha em fevereiro deste ano. Além de realizarem a produção de casting.
“São três anos de produções autorais, acho que chegou o momento de expandirmos nossa rede. Nossa meta é contribuir com a comunidade através do nosso trabalho, existem tantos profissionais incríveis e tão invisibilidades pelo racismo e preconceito de classe. Estamos torcendo muito para que a situação do mundo melhore logo, temos muito trabalho para mostrar”, ressalta Helen.
Centro Cultural Bom Jardim
Contar a história do projeto Princesinha da Favela faz parte do mês de comemoração ao Dia da Mulher do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ).
"A Princesinha de Favela se lançou, é uma produtora potente e com uma qualidade incrível. Um projeto social que nasceu dentro da periferia de Fortaleza hoje está inserido oficialmente no mercado audiovisual graças à Lei Aldir Blanc e ao talento gigante de todas as pessoas envolvidas. O CCBJ tem orgulho de poder formar e capacitar mulheres para que elas possam produzir projetos como esse, cheios de potencial, qualidade e significado dentro do Grande Bom Jardim e em todas as periferias de Fortaleza”, afirma a CCBJ.
SERVIÇO:
Princesinha de Favela: produtora de moda, audiovisual e fotografia.
@projetoprincesinhadefavela
princesinhadefavelaarte@gmail.com