Regime racista deixa marcas na África do Sul

Separação étnica entre pessoas teve auge na criação dos 'bantustões', em 1951, para confinar população de cor negra

Escrito por Adriano Queiroz - Repórter ,

Em 1913, o mundo estava prestes a presenciar os horrores da 1ª Grande Guerra, que deixou 20 milhões de mortos, sobretudo na Europa. A uns 10 mil quilômetros dali, no extremo meridional da África, a divisão entre pessoas por cor começava oficialmente, em uma nação que havia ficado independente do Reino Unido apenas três anos antes.

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Nascia o apartheid, palavra africânder que significa segregação. Segundo a mestra em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Cristiane Mare da Silva, esse sistema acabou "resultando em um conjunto de leis, condições de vida e negação de direitos" às populações não-brancas do país, principalmente aos negros.

O regime racista no país durou 78 anos. Embora a flexibilização das regras discriminatórias já viesse sendo adotada, desde o final da década de 1980, somente em 1991, uma série de decisões do Parlamento e do governo do presidente Frederik Willem de Klerk, o último branco a ser chefe de Estado daquela nação, pôs fim a uma das páginas mais sujas da história humana recente.

Ao longo das quase oito décadas de apartheid, a separação racial foi se acentuando e só começou a ser afrouxada a partir de pressão da resistência negra no país, liderada por Nelson Mandela, ou Madiba, como era conhecido carinhosamente pelo povo que representava. Mandela ficou preso por quase 28 anos, dos quais 18 cumpriu em um presídio de segurança máxima na ilha de Robben. Ele integrava o principal grupo de resistência à segregação racial, o Congresso Nacional Africano (CNA).

Também pesou para acelerar o fim do regime a crescente rejeição mundial ao apartheid, que incluiu uma dura intervenção diplomática da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Na década de 1970(ver mapa acima), a política racista da África do Sul foi qualificada como um crime contra a humanidade. As pressões internas e externas começaram a surtir efeito a partir de 1982, quando Mandela foi transferido da prisão em Robben. Seis anos depois, ele passou a cumprir prisão domiciliar, até ser libertado em 11 de fevereiro de 1990. No dia 17 de junho do ano seguinte, o parlamento sul-africano aprovou lei que revogava o apartheid, sancionada no dia 27 por De Klerk e publicada em Diário Oficial daquele país no dia 30 de junho de 1991. Em 15 de outubro de 1993, Mandela e De Klerk foram agraciados com o Prêmio Nobel da Paz, pelos esforços de ambos para encerrar a segregação na África do Sul e promover a democracia. Em 1994, aconteceram as primeiras eleições multirraciais do país com vitória do CNA, garantindo a indicação de Mandela presidente.

dsa