Aumento da Covid-19 desafia Rússia no 20º ano de Putin no poder

Potência mundial sobe para 5º na lista dos países mais atingidos pela doença, enquanto presidente luta para mudar Constituição e se manter no poder. Jornalista cearense na Rússia relata como a população está lidando com o vírus

Escrito por Redação , mundo@svm.com.br
Legenda: Praça Vermelha fica esvaziada em Moscou, principal foco do surto com 104.189 casos e 1.010 mortes; capital russa prolonga o confinamento até dia 31
Foto: Foto: AFP

Ao completar, na última quinta-feira, 20 anos no comando da Rússia, o presidente Vladimir Putin, de 67 anos, enfrenta agora um inimigo invisível: o novo coronavírus, que se propaga com velocidade pelo território desta potência nuclear, desafiando o governo do Kremlin em um contexto de oposição crescente e luta pela sobrevivência política do homem que desenhou a história desta nação de mais de 146 milhões de habitantes no século XXI.

Marcado pelo autoritarismo, Putin adiou, por causa da quarentena, a votação de uma reforma constitucional que poderia garantí-lo no poder até 2036, resultando em 37 anos ininterruptos no comando. Enquanto outros países europeus afrouxam as medidas de prevenção contra o coronavírus, a Rússia vê os casos testados positivamente aumentarem dia após dia.

Aline Veras, jornalista cearense e filóloga especializada em literatura russa, que mora no país há 5 anos, conta que as autoridades estão orientando os cidadãos a ficarem em casa. "Eu vejo que os russos estão tranquilos, que não existe pânico, mas sim cautela em relação ao vírus".

Com quase 200 mil pessoas infectadas e mais de 1.800 mortes até ontem, a Rússia explica a taxa de mortalidade reduzida pela adoção rápida de medidas de isolamento. A filóloga, no entanto, diz crer que o governo não divulga publicamente os números reais de infectados e mortos.

EUA

A pandemia do novo coronavírus na Rússia expõe a histórica rivalidade entre o país e os EUA. Agentes russos foram acusados de agir em conluio com a campanha de Donald Trump nas eleições americanas de 2016. Aline ressalta que, mesmo durante a pandemia, a rixa entre russos e americanos é perceptível. "Muitas pessoas criticam, outras elogiam a oferta do governo de enviar aparelhos respiratórios para os americanos, quando a Rússia ainda não atingiu o pico de infecções", comenta.

O país é criticado por reprimir a oposição, a imprensa e por disseminar notícias falsas.Alexei Nalvany, principal opositor de Putin, já foi preso durante protestos e, recentemente, foi alvo de investigações da polícia russa.

Para a jornalista cearense, Putin se mantém no poder devido ao grande número de apoiadores e à melhoria no cenário econômico do país. "Não foi difícil para Putin mudar a Constituição diversas vezes, podendo até se tornar líder vitalício. A confiança que muitos cidadãos russos depositam no presidente é a força que o mantém".

Para Aline, a pandemia não deve alterar os desafios políticos da sociedade russa. "Não acho que alguma coisa vá mudar radicalmente depois que tudo voltar ao normal".

198.676 russos oficialmente infectados com covid-19

Pelo 7º dia consecutivo, a Rússia registrou, ontem, mais de 10 mil novos casos de Covid-19, o que eleva o total a quase 200 mil. É o 5º país com mais contágios no mundo.

1.827 mortes registradas na Rússia pelo coronavírus

O maior país em superfície do mundo contabiliza 1.827 mortes. Já foram feitos 5,2 milhões de testes, divulgou, ontem, o Governo.