Detentos produzem para marcas de moda e construção

Além de ocuparem o tempo livre, os internos ganham três quartos do salário mínimo, como é previsto em lei

Escrito por Carol Kossling - Repórter ,

As empresas cearenses estão a cada ano se sensibilizando com uma importante questão social do dia a dia da comunidade local, que é a ressocialização de pessoas que cometeram crimes. As marcas Famel e Dona Florinda dão oportunidades para detentas e detentos que estão em institutos penais do Estado. Já o Sindicato da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE) dá assistência aos que já passaram pelas instituições e buscam uma nova chance no retorno à sociedade.

O grupo cearense Araújo Brilhante, dono das marcas Florinda e Famel, ampliou sua parceria com a Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado do Ceará (Sejus), por meio do projeto que emprega internos do sistema penitenciário na confecção de peças de roupas. O grupo já mantinha uma unidade de produção no Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura da Costa, que representa 30% da produtividade de uma coleção completa das marcas, e, agora, implanta uma linha de macramê, técnica manual de tecer, no Instituto Penal Professor Olavo Oliveira (IPPOO II).

Ressocialização traz nova chance em 21 empresas 

Procura

Segundo a empresária Fátima Brilhante, sócia da Araújo Brilhante, a procura dos internos pelo trabalho é grande já que, além de ocuparem o tempo livre, todos os contratados trabalham 40 horas semanais, ganham três quartos do salário mínimo, como prevê a Lei de Execuções Penais. Apesar de não poder ter acesso ao dinheiro de imediato, eles podem determinar seu uso. "Muitos enviam o salário para a família e fazem uma espécie de poupança para quando saírem montarem um pequeno negócio. Isso é importante, porque eles começam a ter projetos e sonhos", disse Fátima.

Cinco internos selecionados pela empresa já começaram a produzir blusas, vestidos e outros itens em macramê, supervisionados por um egresso que já sabia a técnica e a ensinou aos participantes. O período de teste teve início em agosto e, nesse intervalo de tempo, a produção chegou a cem peças mensais.

Perspectivas

Para Fátima Brilhante, apesar do projeto não ser algo lucrativo a nível financeiro, o maior ganho é o social, pois a capacitação dos internos diminui a estatística da criminalidade quando eles saem da penitenciária. "Dentre os presos que passam por algum projeto social, 82% não retornam ao crime", afirmou. Para ela, o trabalho impacta a pessoa como um todo, ela já sai de lá com outra perspectiva e não tem motivo para o crime. A empresária conta que a ideia de iniciar um projeto que empregasse detentos na fabricação de roupas surgiu em 2001, quando costumava passar de carro em frente a uma unidade penitenciária feminina no seu trajeto para o trabalho, em Pacajus, e ficava imaginando como poderia ajudar na recuperação daquelas pessoas.

Mesmo com a boa vontade, a tarefa não foi fácil. O maior desafio, explica Fátima, foi conseguir um facilitador do projeto. "Existe preconceito e um medo muito grande". Ela cita, ainda, a dificuldade em encontrar uma atividade que não dependa de muitos instrumentos, já que há várias ferramentas que são proibidas no local, como as tesouras.

Experiência

Fátima afirma que o projeto realizado pelas marcas Famel e Florinda é o que alcança maior durabilidade nas penitenciárias do Ceará. Iniciado há dez anos, a unidade de produção no Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura da Costa emprega, atualmente, 16 mulheres e fabrica cerca de 2.400 mil peças por mês. A meta para 2016 é ampliar o número para 5 mil peças/mês.

Além da nova linha de produção no presídio Professor Olavo Oliveira, a empresária também afirma que estuda a possibilidade de instalar uma unidade da fábrica em Caucaia, que empregaria detentas que já passaram pelo projeto no presídio. "Percebemos que há um número expressivo de detentas que saíram ou estão perto de sair da penitenciária e residem em Caucaia. É uma forma de aproveitarmos melhor a mão de obra que nós treinamos e dar oportunidades a essas pessoas", disse.

Ela ressalta, ainda, o interesse em colaborar para que outras empresas abracem a causa. "Me coloco à disposição para auxiliar outros empresários", conclui.

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