Prefeito de Mongaguá (SP) chora durante live ao falar da morte de pai e irmão por Covid-19

Na transmissão ao vivo, ele desabou ao comentar sobre as críticas que vem recebendo dos comerciantes do município, que está em lockdown

Escrito por Klaus Richmond/Folhapress ,
Prefeito de Mongaguá (SP) chora durante live ao falar da morte de pai e irmão por Covid-19
Legenda: O pai e o irmão dele, que eram comerciantes, estavam internados e morreram em menos de uma semana
Foto: Reprodução/Facebook

O prefeito de Mongaguá, Márcio Melo Gomes (Republicanos), 43, no litoral sul paulista, chorou durante uma live realizada na última terça-feira (30) ao falar sobre a morte do pai e do irmão por Covid-19. Eles estavam internados e morreram em menos de uma semana.

Na transmissão ao vivo, o gestor desabou ao comentar sobre as críticas que vem recebendo dos comerciantes do município, que está em lockdown para evitar a proliferação da doença na cidade. Lá, só atividades essenciais podem funcionar, e com restrições de horário.

"Como eu queria hoje sair dessa live aqui e poder ouvir do meu pai e do meu irmão assim: 'eu quebrei. O meu comércio quebrou'. Sabe por que? Porque nós já 'quebramos' e, com a vida, nós conseguimos dar a volta por cima. E eu não vou ouvir deles isso mais", explicou o prefeito. O pai e o irmão dele eram comerciantes.

"Infelizmente, por essa doença, eles perderam a vida. E não há nada mais precioso que a vida de vocês, mas principalmente, a vida de quem vocês amam", completou na sequência.

Emoção

Márcio Melo Gomes conta que quase desabou na tarde desta quarta-feira (31) ao receber uma mensagem inesperada do filho mais novo, de 14 anos, por meio de um aplicativo.

"Suas falas estão rodando o Brasil e tenho certeza que salvando muitas vidas. Só estou te falando isso para te alertar e para você pedir desculpas para Deus, ok?", disse o adolescente.

Missão religiosa

O político confessa que chegou a "questionar os planos de Deus" após as perdas recentes do irmão Givaldo Melo Gomes Júnior, 33, e do pai Givaldo Alves Gomes, 64.

Conhecido popularmente como Cabeça - mesmo apelido do pai e do irmão, por conta da origem nordestina da família -, viu a repercussão do desabafo emocionado durante a live como uma missão religiosa de convencimento às pessoas no combate ao vírus.

"As feridas não estão cicatrizadas [pausa para chorar], mas acredito numa missão espiritual de Deus nisso tudo", afirmou à reportagem.

"Estou destruído, tentando buscar forças, mas me apego na minha fé. Tenho um tio padre, duas tias freiras e há dez anos vou todos os meses para Aparecida [do Norte]. No último, estive com o meu pai, que nunca tinha ido lá. Foi um propósito de Deus tudo isso", completa.

Críticas

Durante a transmissão ao vivo, o político subiu o tom para criticar a falta de consciência de parte da população, principalmente pelo pedido recorrente de moradores pela reabertura do comércio.

"Não existem mais vagas em hospitais, não estão vendo? Eu tinha quatro respiradores quando assumi e hoje temos 20, todos em uso. Não fiz isso para aparecer. Trocaria aquele momento para tê-los novamente do meu lado", explica.

Cabeça conta ter trabalhado ainda criança com o pai em uma pousada em Peruíbe, município vizinho, mas ficou marcado por uma vida em um açougue da cidade. O irmão que perdeu era dono de um restaurante, mas, mesmo assim, não refutou dizer que o comércio precisa parar.

O pai de Márcio Melo Gomes estava internado no Hospital Regional Jorge Rossmann, em Itanhaém, enquanto o irmão na Santa Casa de Misericórdia de Santos, em leito particular.

Choque emocional

Ele conta que precisou esconder do irmão, na UTI, o falecimento do pai na segunda-feira (22) anterior por preocupação de um choque emocional que pudesse trazer prejuízos à sua saúde.

"Quando o meu pai faleceu havia um buraco dentro de nós. O meu irmão estava internado, mas consciente, e não queríamos prejudicá-lo emocionalmente. Vivemos um luto, mas sem poder por para fora. A perda do meu irmão foi muito difícil de assimilar".

Em caso de recuperação, o político conta que aceitou uma promessa de caminhar a pé até Aparecida do Norte, mas lamenta não ter conseguido cumprir. O propósito foi sugerido por amigo pessoal e vereador da cidade.

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