Senado italiano vota processo de Salvini por sequestro de migrantes

Em agosto de 2019, pouco antes da crise do governo, ele bloqueou o navio humanitário "Open Arms" durante dias, em frente à ilha siciliana de Lampedusa

Escrito por AFP ,
Legenda: Matteo Salvini
Foto: AFP

O Senado italiano vota, nesta quarta-feira (12), a autorização para abrir um processo judicial contra Matteo Salvini, líder do partido de extrema direita Liga e ex-ministro do Interior, por ter bloqueado mais de 100 migrantes no Mediterrâneo.

Salvini é acusado pela Justiça da Catania (Sicília) de "abuso de poder e sequestro de pessoas", um crime punível com pena de até 15 anos de prisão e que o impediria de ocupar cargos públicos. "Na quarta-feira irei ao Senado. Estou absolutamente tranquilo", disse ele à imprensa.

"Não sei quanto custará em termos de pessoal e de dinheiro provar que sou um criminoso, mas não tenho medo e explicarei que defendi meu país", afirmou Salvini em entrevista ao jornal "La Stampa".

Ele, que aplicou uma política rígida contra a imigração, com a qual conseguiu se tornar um dos líderes mais populares da península, considera justa a medida que envolveu o fechamento dos portos e o bloqueio de migrantes que arriscam suas vidas atravessando o Mediterrâneo.

"Quero olhar o juiz nos olhos e explicar que defender as fronteiras do meu país é para mim um direito, um dever, e não um crime", insistiu.

Em julho do ano passado, Salvini impediu que 116 imigrantes desembarcassem na Itália por quase uma semana, enquanto estavam a bordo de um navio da Guarda Costeira. Então ministro do Interior de um governo formado pela Liga e pelo antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E), Salvini esperava, com essa medida, que os outros países europeus compartilhassem o fardo migratório.

Se o Senado decidir a favor de um julgamento, dificultará as ambições políticas de Salvini, que deseja liderar um futuro governo de extrema direita.

A Liga é agora minoria no Senado, onde o M5E e o Partido Democrata (centro esquerda), aliados no governo há seis meses, desfrutam da maioria dos votos dos 319 senadores.

De acordo com a Constituição italiana, o Parlamento pode impedir que um ministro seja processado por sua administração, se os parlamentares considerarem que agiu no âmbito de suas funções e no interesse do Estado.

Salvini aproveitou a oportunidade para enfatizar que a decisão de bloquear os migrantes foi tomada coletivamente, pois era a linha adotada pelo governo e apoiada pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte. Para Conte, que desde agosto lidera um Executivo formado pelo Partido Democrata e o M5E, essa versão não corresponde à verdade.

Em junho de 2019, após um ano no poder, Salvini fortaleceu seus poderes após obter a aprovação de uma lei que o autorizava a limitar e até a impedir o trânsito de embarcações em águas italianas.

Em agosto de 2019, pouco antes da crise do governo, ele bloqueou o navio humanitário "Open Arms" durante dias, em frente à ilha siciliana de Lampedusa.

No próximo 27 de fevereiro, uma comissão do Senado também deverá decidir sobre a abertura de um julgamento nesse caso.

Se aprovarem a autorização, o ex-ministro será julgado por um tribunal especial composto por três magistrados reconhecidos. Provavelmente terá de esperar anos, dada a lentidão da Justiça italiana e as possibilidades de recurso.