Policiais penais são demitidos pela CGD por cobrarem R$ 11 mil a colega de profissão em extorsão
Um dos servidores, ex-presidente do Sindicato da categoria, afirma que é vítima de uma 'perseguição' e garante que irá recorrer da decisão
Dois policiais penais foram demitidos pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD) por extorquirem um outro policial penal e cobrarem R$ 11 mil dele. A dupla ameaçava divulgar imagens da esposa do colega de profissão em uma relação extraconjugal, segundo as investigações.
A punição contra os policiais penais Valdemiro Barbosa Lima Júnior e Natanael Eduardo de Andrade Lima foi publicada pela CGD no Diário Oficial do Estado (DOE) da última segunda-feira (2). Valdemiro, que é ex-presidente Sindicato dos Agentes e Servidores Públicos do Sistema Penitenciário do Estado do Ceará (Sindasp-CE), afirma que é vítima de uma "perseguição" e garante que irá recorrer da decisão. Já Natanael não foi localizado pela reportagem para comentar o assunto.
De acordo com a CGD, a extorsão ocorreu no dia 26 de abril de 2016. Além de cobrarem o pagamento de R$ 11 mil, Valdemiro Barbosa e Natanael Andrade teriam exigido que o servidor convencesse outro policial penal de retirar uma ação trabalhista contra o Sindicato, em um prazo de 24 horas.
A vítima da suposta extorsão, que ocupava um cargo de direção na antiga Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus), denunciou o caso à Delegacia de Assuntos Internos (DAI) da CGD. Durante as apurações, conforme a Controladoria, Valdemiro ligou para o servidor para acertar a entrega do dinheiro e de um documento em que o outro policial confirmaria a desistência do processo trabalhista. A vítima sugeriu uma praça, mas o ex-presidente do Sindasp preferiu que a entrega ocorresse na sede do escritório de advocacia que representava o Sindicato. Entretanto, a vítima não compareceu ao local.
O caso extraconjugal da mulher do policial penal foi veiculado em um blog na Internet, que associou o episódio a um mau desempenho do agente público na função. A matéria e áudios sobre o assunto foram amplamente compartilhados nas redes sociais, inclusive em grupos da categoria profissional no aplicativo WhatsApp, de acordo com testemunhas.
Comprovou-se demasiadamente, com base no irrefutável conjunto probatório ventilado nos autos, as graves irregularidades na conduta dos acusados, de modo que a punição capital é medida que se impõe, pois além de trazer evidentes prejuízos à imagem da Secretaria da Administração Penitenciária perante a sociedade, que espera comportamento exemplar de um profissional voltado à segurança penitenciária, também serve de péssimo exemplo aos demais integrantes da instituição.
Policial penal demitido diz que é vítima de 'perseguição'
Procurado pela reportagem, Valdemiro Barbosa afirmou que é vítima de "perseguição" e que a suposta extorsão foi uma "armação". "Deixa eu contextualizar. Nós estávamos dias antes de acontecer aquele movimento de 2016, de greve (dos antigos agentes penitenciários, hoje chamados de policiais penais). Nós estávamos tentando negociar e não se concretizava. A gente tinha ido a uma reunião, no dia anterior, na Cosipe (Coordenadoria do Sistema Penal) para cobrar o pagamento de diárias dos agentes, porque tinham dado um 'calote' (ou seja, não tinha sido pago)", conta o ex-presidente do Sindasp.
No dia seguinte, recebi uma ligação do coordenador. Ele disse que tinha conseguido o dinheiro e queria marcar um almoço comigo. Eu não quis marcar almoço, porque não tinha o que falar com ele. Só disse 'paga o pessoal então'. Ele já estava com o delegado, tinha prestado uma queixa e queria fazer um flagrante de um dinheiro que eu nunca pedi.
"Isso é uma mentira deslavada, uma tentativa de calar uma liderança sindical", completa Valdemiro, que hoje é diretor-executivo da Federação Nacional Sindical dos Servidores Penitenciários (Fenaspen) e criador da Associação dos Agentes Socioeducativos e Policiais Penais do Estado do Ceará (Assepp-CE). Ele garante que irá recorrer da decisão administrativa, na CGD, e procurar a Justiça Estadual sobre o caso.
Ao ser interrogado na DAI, Valdemiro confessou ter feito críticas ao trabalho do outro servidor, em um grupo do Sindasp, mas negou ter extorquido o homem. Contou ainda que foi procurado por outra pessoa, que estaria sendo ameaçada pelo policial penal que diz ter sido extorquido.
Já Natanael Andrade, também em depoimento, corroborou que Valdemiro fez críticas ao outro servidor em um grupo fechado, mas também negou ter participado de qualquer extorsão. Ele afirmou ainda que tomou conhecimento do relacionamento extraconjugal da esposa do colega de profissão apenas pelas redes sociais.