Irmãos escoceses procurados no Ceará podem ter sido assassinados, diz polícia britânica

Os irmãos são apontados como líderes de uma organização criminosa no Reino Unido especializada no tráfico de drogas. Um suposto comparsa da dupla foi preso em Fortaleza, em 2020

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Os irmãos escoceses James e Barry Gillespie foram procurados no Ceará. Falta de informações faz polícia britânica acreditar que eles tenham sido assassinados
Legenda: Os irmãos escoceses James e Barry Gillespie foram procurados no Ceará. Falta de informações faz polícia britânica acreditar que eles tenham sido assassinados
Foto: Reprodução

Os escoceses James e Barry Gillespie, apontados como líderes de uma organização criminosa no Reino Unido (na Europa) especializada no tráfico de drogas, podem ter sido assassinados no Brasil, segundo a polícia britânica. Os irmãos chegaram a ser procurados no Ceará, onde um suposto comparsa foi preso pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) e pela Polícia Federal (PF). 

A informação foi revelada pelo detetive Michael Lochrie ao site BBC Scotland. "Se realmente foi o caso, precisamos considerar quando e onde isso pode ter acontecido. Acreditamos que eles não têm contato com seus familiares há vários anos", afirmou.

A publicação traz ainda uma informação revelada por outro jornal, o Daily Record, de que as autoridades britânicas suspeitam que os irmãos Gillespie - que ficaram conhecidos como 'Irmãos Pablo Escobar' - tenham sido assassinados por um grupo criminoso, que exigia mais dinheiro para proteger a dupla.

R$ 66 mil
aproximadamente (ou 10 mil libras), seriam pagos pela polícia britânica, por informações sobre o paradeiro dos irmãos Gillespie, conforme anunciado em julho de 2020. Eles são originários de Rutherglen, South Lanarkshire, na Escócia. 

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Comparsa de dupla foi preso no Ceará

A Interpol suspeitava que James e Barry Gillespie estavam juntos do britânico James Joseph White, preso em um apartamento de luxo no bairro Meireles, em Fortaleza, no dia 19 de junho de 2020, em uma ação realizada com apoio da Polícia Federal. Mas os irmãos não foram encontrados.

O homem preso no Ceará seria o braço direito dos irmãos Gillespie e teria colaborado para fundar um império multimilionário de tráfico de drogas e armas na Escócia. "A gente pensava que ia encontrar os três principais líderes da quadrilha. Mas encontramos somente um. Eles teriam alugado esse apartamento no início deste ano", revelou o delegado da PF, Glayston Araújo, em entrevista ao Sistema Verdes Mares, em junho de 2020.

Devido à relação com a América do Sul, de onde importavam as drogas, os três homens teriam fugido para o continente. "Nós tínhamos a informação, já há mais de um ano, que os três principais líderes dessa organização criminosa tinham vindo foragidos para o Brasil. E no início deste ano, veio a informação da Polícia britânica de que eles estariam em Fortaleza", acrescentou Araújo.

Com James White, foram apreendidos R$ 53 mil em espécie e um automóvel de luxo. A Polícia suspeitava que o suspeito estivesse armado, mas nenhuma arma de fogo foi encontrada na residência.

Legenda: O britânico estava morando em um prédio de luxo em Fortaleza, onde foi preso
Foto: Reprodução/Polícia Federal

O britânico já tinha extensa ficha criminal no Reino Unido, que incluía homicídio, sequestros, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, tráfico de armas e explosivos, segundo a PF.

Além dos crimes cometidos em outros países, ele é suspeito de cometer o crime de uso de documento falso, no Brasil. Com ele, foi apreendida uma identidade com nome de outra pessoa. Há ainda a suspeita de que ele teria lavado dinheiro no Ceará.

A defesa de James White, representada pelo advogado Túlio Magno, afirma que ele foi extraditado para o Reino Unido em agosto de 2022, "o que culminou no arquivamento do feito (no Supremo Tribunal Federal) no dia 11 de outubro de 2022".

Magno afirma, em nota, que solicitou ao STF o deferimento da extradição de James White, "mas, mediante a tomada de compromisso por parte do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, no sentido o Estado estrangeiro se comprometeria perante a Governo da República Federativa do Brasil a: (i) não submeter o extraditando James Joseph White a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de extradição; (ii) computar o tempo da prisão que, no Brasil, foi imposta a James Joseph White por força da extradição; (iii) não entregar o extraditando, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame”.

A defesa ainda pediu para o Governo do Reino Unido “não considerar qualquer motivo político para agravar eventual pena imposta a James Joseph White, empós julgamento que garanta o devido processo legal, bem como o efetivo exercício do contraditório e da ampla defesa; e, principalmente, (v) transformar eventual pena corporal, perpétua ou de morte, em pena privativa de liberdade, respeitado o limite máximo de cumprimento de 30 (trinta) anos, tal como previsto no art. 96 da Lei no. 13.445/2017”.

Com relação aos irmãos James e Barry Gillespie, igualmente procurados pela Interpol, James White "negou qualquer vínculo com essas pessoas, não se tendo notícias de seus paradeiros", garantiu Túlio Magno.

O advogado ainda afirma não poder confirmar se os irmãos Gillespie estão mortos, porque nunca atuou "em suas defesas".

Funcionamento da organização criminosa

As autoridades britânicas chegaram aos nomes dos três principais líderes da organização criminosa na Operação Escalada, após a prisão de nove comparsas. Com o grupo, foram apreendidos dois veículos que continham arsenais escondidos, incluindo pistolas, metralhadoras e granada.

Uma reportagem do jornal BBC, publicada em 11 de dezembro de 2017, mostra que a quadrilha era especializada na técnica de esconder armas no corpo de veículos luxuosos, que passavam despercebidas em vistorias rápidas. Os criminosos ainda possuíam um forte aparato tecnológico "antivigilância", para não ser descoberto.

Além de traficar armas, cocaína, maconha e até heroína, a organização criminosa é conhecida por agir com violência. Um antigo comparsa teria sido sequestrado, amarrado e torturado pelo grupo, na Inglaterra, em 2015. A quadrilha também é suspeita de ligação com os assassinatos de um blogueiro, na saída de um clube de sexo, na Holanda, em 2016; e de um jovem, na Escócia, em 2017. E ainda nas tentativas de homicídio contra um técnico de futebol júnior e um advogado, ambas na Escócia, em 2018.

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