Homicídios são impulsionados por disputa de territórios entre três facções criminosas em Fortaleza
Especialistas debatem a influência da presença das organizações criminosas na violência vivenciada principalmente na periferia da Capital
A violência na periferia de Fortaleza se agravou com o surgimento das facções criminosas, há menos de dez anos. Hoje, três facções se digladiam pelas ruas, ruelas e travessas da Capital, por domínio de territórios para o tráfico de drogas. Nessa guerra, os homicídios se multiplicam.
Áreas com mais homicídios no ano passado, a Área Integrada de Segurança (AIS) 9 tem forte predominância de uma facção cearense; na AIS 2, há a presença das três facções - cearense, carioca e paulista; e na AIS 3, há um acirrado embate entre as facções cearense e carioca.
Já nas Áreas com menos homicídios registrados em 2020, a AIS 1 repete a mesma disputa entre as facções cearense e carioca; a AIS 10 tem forte predominância da facção cearense; e a AIS 4, por sua vez, tem presença marcante da facção carioca. As informações foram colhidas junto de fontes policiais.
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"A gente tem hoje, além de grupos que se expandiram no Brasil, oriundos do Sudeste, Rio e São Paulo, mas também tivemos a criação de uma organização local. São organizações que chegaram a jovens, sobretudo que estão no sistema prisional, que estão morando em situação de risco, de vulnerabilidade, onde o poder público não chegou com oportunidade também. Esses grupos encontraram nesse território um lugar de domínio violento, marcado por mortes, opressão", considera o membro do Comitê de Prevenção e Combate à Violência (CPCV), da Assembleia Legislativa do Ceará, sociólogo Thiago de Holanda.
Para o pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), sociólogo Luiz Fábio Paiva, essas facções criaram um sentimento de pertencimento:
"As facções criaram algumas consequências. Primeiro, nós já tínhamos conflitos armados, graves e sérios no Ceará. Mas as facções redimensionaram o conflito. A facção não tá só no seu bairro, tá em toda a cidade, zona metropolitana e em todo o Estado. Criaram uma espécie de comunidade moral, mais eficiente do que era a quadrilha e a gangue. Porque, agora, o cara veste a camisa da facção e tem uma relação quase religiosa".
Esse controle das facções também abarca o restante da comunidade. As pessoas têm medo em falar da presença dos grupos criminosos nos locais. Integrante do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), no bairro Bom Jardim, o sociólogo Caio Feitosa descreve que "isso acaba impactando em diversas áreas da vida social. O controle da própria violência. O que se faz e o que não se faz. O que se pode falar e o que não se pode falar. A relação entre moradores de uma área e de outra. Todos os meios e as tecnologias que esses grupos administram. Não só estão mais organizados, como estão mais presentes e construíram mais interdições".