Grávida que escapou de disparos de PMs em Hidrolândia diz que trauma fica para resto da vida
A jovem estava no mesmo veículo atingido por disparos feitos pelos agentes. Três pessoas ficaram feridas na ação
A irmã da criança de 10 anos baleada por policiais militares em Hidrolândia, no interior do Ceará, Amanda Carneiro, disse, nesta segunda-feira (12), que o episódio marcou as vítimas pelo resto da vida. Grávida de três meses de gêmeos, ela também estava no veículo atingindo pelos disparos e, além do irmão, viu o namorado, Pedro Henrique Peres, de 21 anos, e o amigo, Raimundo Diogo, de 22 anos, serem atingidos.
"Isso tudo foi um choque muito grande, tanto para mim quanto para eles, é um trauma que vai ficar para o resto da vida, tanto fisicamente para alguns, e psicologicamente para todos nós e isso é muito revoltante."
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A criança e os dois jovens foram baleados por PMs enquanto saíam de um campo de futebol na noite de sexta-feira (9) no município. Amanda Carneiro confirmou que ela e as vítimas foram até o local para brincar e estourar bombinhas de São João. Ela relata que eles foram surpreendidos pelos agentes quando saíram do campo.
"A gente já tinha saído do campo, estava indo devagar no veículo. A princípio, houve o primeiro disparo e ali eu ainda não sabia que era bala, mas, logo em seguida, veio diversos outros disparos. Quando olhei para trás, o Diogo já estava falando 'é tiro, é tiro, me atingiu'. Meu irmão já estava lá no veículo saindo muito sangue do pescocinho dele. Pensei que ia perder ele ali mesmo. Tanto ele, como meus amigos", relembra.
Sobre o caso, a Polícia Militar informou que a composição foi acionada para atender uma ocorrência de disparos de arma de fogo efetuados por indivíduos que estariam em um carro escuro. Um veículo, com as mesmas características repassadas, foi localizado trafegando com os faróis desligados no bairro Nova Hidrolândia, conforme o relato da equipe.
No momento da ação, Pedro Henrique Peres conduzia o automóvel, mesmo após ser atingido no olho. Ao paparem em um sinal vermelho, ele, Amanda e Diogo saíram do automóvel e pediram aos polícias para que sessarem os disparos.
Veja vídeo dos jovens se dirigindo ao hospital
"Pedro Henrique desceu do veículo e perguntou 'qual era a necessidade daquilo tudo?', por que não tinha necessidade nenhuma e a abordagem foi feita de uma forma super errada. E, inclusive, o Diogo também desceu do veículo e, assim que desceu, não conseguiu se sustentar em pé por conta que ele foi baleado nas costas e no joelho. Ali, eu pedi para meu namorado ir para o banco do passageiro e comecei a conduzir o veículo. Quem prestou os socorros pro Diego foram os policiais, por que a gente não tinha condições de colocar ele de novo dentro do veículo", conta a jovem.
Segundo Amanada Carneiro, enquanto as vítimas eram atendidas na unidade hospitalar, os agentes da Polícia Militar insistiram na tese de que os jovens estavam realizando disparo e chegaram a acompanhá-la até o veículo para procurar por alguma arma de fogo.
"Ele [policial] perguntou: 'cadê a arma? cadê a arma?', respondi 'que arma o que, senhor? A gente não anda armado não'. Consegui encontrar a bombinha entreguei para ele, tanto a bombinha rasga lata e o fósforo que a gente usou", relata Amanda à TV Verdes Mares.
A jovem condenou a atitude dos policiais, que julgou como "despreparo". "Para eles estarem na rua, eles precisam ter um preparo, tanto físico quanto psicológico, principalmente. E eles não souberam diferenciar um barulho de uma bomba para um barulho de um tiro? Inclusive, no momento da ação deles, a gente não tinha soltado mais nada", disse.
Pedro Henrique Peres perdeu a visão do olho direito, enquanto Raimundo Diogo teve uma bala alojada retirada da coluna e respondia com movimentos no domingo (11). A criança de 10 anos está internada no Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza, mas ainda não teve estado de saúde divulgado oficialmente.
"Eu quero que esse caso não passe impune. Que seja feito o que tem que ser feito! Eu quero justiça, todos nós queremos"
CAMILO PEDE INVESTIGAÇÃO
No domingo (11), o governador Camilo Santana afirmou que determinou "rigor absoluto na investigação, bem como à secretaria de Proteção Social apoio às vítimas".
O gestor ainda disse lamentar profundamente o caso, também relatando que os envolvidos foram afastados imediatamente do trabalho nas ruas.
POLICIAIS MILITARES AFASTADOS
Os policiais militares envolvidos na ação foram ouvidos em termo de declaração pelo comando do Batalhão ao qual são subordinados e tiveram as armas de fogo recolhidas para envio a Perícia Forense.
"A Polícia Militar instaurou o Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar os fatos. Os policiais militares foram afastados das funções operacionais até a elucidação do caso", explicou a instituição.