'Gegê do Mangue' destruiu carro de R$ 650 mil em acidente no Ceará duas horas depois da compra
Os dois líderes de uma facção criminosa adquiriram veículos e imóveis luxuosos, no Ceará, antes de serem assassinados
A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra quatro empresários e dois contadores por praticar lavagem de dinheiro para os líderes de uma facção criminosa paulista, Rogério Jeremias de Simone, o 'Gegê do Mangue', e Fabiano Alves de Sousa, o 'Paca', traz que 'Gegê' adquiriu um veículo de R$ 650 mil e, duas horas depois da compra, destruiu o automóvel em um acidente.
Conforme a denúncia, em outubro de 2017, Francisco Cavalcante Cidrão Filho entrou em contato com a empresa de João Eudes Alves Aragão e João Bruno Rocha Aragão para adquirir dois carros BMW X6, para as esposas de 'Gegê do Mangue' e 'Paca', que iam chegar de São Paulo. Os automóveis, segundo o MPF, custaram um total de R$ 1,3 milhão (R$ 650 mil cada) e foram colocados no nome de um funcionário da empresa que vendeu os veículos.
A entrega dos carros de luxo foi efetuada diretamente a Rogério Jeremias e Fabiano Alves, segundo a denúncia. Mas, duas horas depois, o primeiro homem se envolveu em um acidente e um veículo teve perda total. Em razão disso, foi negociada uma terceira BMW com a empresa, para substituir o veículo acidentado.
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O Ministério Público afirma que acidente também provocou o pagamento de um seguro, feito no nome de Magda Enoé de Freiras, esposa de José Cavalcante Cidrão e cunhada de Francisco Cavalcante. Segundo o MPF, a mulher emprestou o nome para adquirir 5 apólices de seguro, no valor total de R$ 2,87 milhões, com prêmio total de R$ 99,7 mil, para assegurar veículos luxuosos adquiridos pelos líderes da facção criminosa.
'Gegê' e 'Paca', através dos representantes, ainda teriam comprado, na mesma loja de veículos, três Range Rover, pelos valores de R$ 735 mil, R$ 480 mil e R$ 475 mil; e um Porsche Cayenne SE H-Y, por R$ 450 mil, de acordo com o ente ministerial. As negociações, conforme o MPF, ocorreram entre os meses de junho e outubro de 2017.
Compra de imóveis valiososo
Segundo a denúncia, os irmãos José Cidrão e Francisco Cavalcante realizaram as principais negociações de 'Gegê' e 'Paca' em território cearense. "Nessas ocasiões, os irmãos se colocavam como empregados das vítimas, informando a terceiros que seus patrões seriam empresários dos ramos da soja e da música sertaneja interessados em realizar investimentos no Estado do Ceará", descreve o documento.
Dessa forma, Cidrão e Cavalcante teriam adquirido uma casa em um condomínio na Lagoa do Uruaú, pelo valor de R$ 1,15 milhão (pago em três parcelas de R$ 300 mil e uma final de R$ 250 mil).
Os valores foram repassados ao vendedor por uma empresa que estava no nome de Fernando Soares Farias, que alegou à Polícia Federal (PF) que já tinha feito negócios com os irmãos em outras oportunidades e tinha o "dever moral de auxiliá-los".
E ainda teriam comprado, nos mesmos moldes, um apartamento em um condomínio no bairro Cocó, em Fortaleza, por R$ 1,8 milhão; uma casa no Alphaville Porto das Dunas, em Aquiraz, por R$ 2,1 milhões; e outra casa no Alphaville Eusébio, por R$ 1,8 milhão. O imóvel localizado no Eusébio, que está alienado para o Estado, vai a leilão no próximo dia 1º de junho, no valor de R$ 3,7 milhões, por decisão também da 32ª Vara Federal.
A defesa dos irmãos José Cidrão e Francisco Cavalcante e de Fernando Farias informa, por nota, "que os seus constituintes não foram citados (informados) da denúncia bem como não sabem ainda do que estão sendo acusados, portanto, se manifestará após tomar ciência dos fatos e do amplo acesso ao procedimento". O advogado de Magda Enoé (esposa de Cidrão) também alega que a cliente não foi citada e se manifestará no momento oportuno.
Os advogados Gustavo Brasilino de Freitas e Henrique Davi de Lima Neto, que representam João Eudes e João Bruno, pai e filho respectivamente, afirmaram que receberam com surpresa a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal. A defesa disse que os dois foram ouvidos tanto na Polícia Civil quanto na Polícia Federal e na conclusão das investigações eles, sequer, foram indiciados.
“Então veio o Ministério Público, em contrariedade à conclusão das investigações, e denunciou. Agora, iremos apresentar a nossa defesa na 32ª Vara Federal e, conhecendo o trabalho do magistrado, sabendo que ele é uma pessoa muito sensata e muito humana, com as explicações técnicas, jurídicas, acreditamos na absolvição sumária dos dois”.
Mortos por suspeita de desvio de dinheiro
'Gegê do Mangue' e 'Paca' foram assassinados a tiros, em uma reserva indígena em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza, no dia 15 de fevereiro de 2018. De acordo com os levantamentos da Polícia Civil do Ceará (PCCE), a facção criminosa paulista não aceitava a vida de luxo que a dupla levava em terras cearenses e suspeitava de desvios financeiros.
Dez pessoas foram acusadas por participação no crime, que teve uso até de um helicóptero. Quatro estão presas, o piloto Felipe Ramos Morais foi colocado em liberdade e cinco réus seguem foragidos. Os acusados que já foram localizados devem ser ouvidos pela Justiça Estadual do Ceará, por videoconferência, nos dias 1, 2, 7 e 8 de junho deste ano. São réus pelo crime:
- Gilberto Aparecido dos Santos, o 'Fuminho' (preso);
- André Luís da Costa Lopes, o 'Andrezinho da Baixada' (preso);
- Jefte Ferreira Santos (preso);
- Carlenilto Pereira Maltas (preso);
- Felipe Ramos Morais;
- Erick Machado Santos;
- Ronaldo Pereira Costa;
- Tiago Lourenço de Sá Lima;
- Renato Oliveira Mota;
- Maria Jussara da Conceição Ferreira Santos.
Confira na íntegra posicionamento da defesa dos empresários
"A gente recebeu com muita surpresa essa denúncia oferecida pelo Ministério Público. Por quê? porque houve investigações tanto no âmbito da (Polícia) Civil quanto no âmbito da Polícia Federal. em que os dois foram ouvidos e explicaram toda a situação. E na conclusão dessas investigações, nenhum dos dois foi indiciado. Ou seja, a conclusão das investigações não vislumbrou nenhum cometimento de crime. Então, veio o Ministério Público, em contrariedade à conclusão das investigações, e denunciou. Agora, iremos apresentar a nossa defesa escrita na 32ª Vara Federal e conhecendo o trabalho do magistrado, sabendo que ele é uma pessoa muito sensata e muito humana, com as explicações técnicas, jurídicas, acreditamos na absolvição sumária dos dois, porque realmente não há nada que leve a crer no cometimento de crime. No começo das investigações, eles tiveram a iniciativa de procurar a Polícia e entregaram os carros que foram objeto de venda, explicaram tudo. Não foi nem a Polícia que os procurou. Agora, nós aguardamos a Justiça e temos a certeza de que eles serão inocentados".
Gustavo Brasilino de Freitas e Henrique Davi de Lima Neto