‘Alemão’ é preso em Brasília

Escrito por Redação ,
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Bandido já está à disposição da Justiça Federal no Ceará e deve chegar a Fortaleza nos próximos dias

Após nove anos foragido da Justiça do Ceará e de São Paulo, apontado como o homem que comandou o maior roubo a banco na história do País - o ataque à sede do Banco Central, em Fortaleza, em agosto de 2005, com o furto de R$ 164,7 milhões - o cearense Antônio Jussivan Alves dos Santos, o ‘Alemão’, 41 anos, natural de Boa Viagem, finalmente, foi capturado.

O bandido foi cercado pela Polícia Federal, em Brasília, depois de uma longa investigação que envolveu até a Interpol, pois havia notícias de que ele teria fugido para o exterior. Nos últimos dias, a PF descobriu, em São Paulo, novas pistas de onde ele poderia estar escondido, conforme o Diário do Nordeste revelou, com exclusividade, na edição do último sábado (23).

Nas últimas semanas, a PF fechou o cerco ao acusado através de interceptações telefônicas (rastreamento) e no trabalho de investigação de campo (campanas) em favelas paulistas. Foi graças a este mesmo trabalho que as autoridades detectaram um plano montado pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para resgatar, em Fortaleza, os integrantes da quadrilha que atacaram o BC e que estavam recolhidos em duas unidades carcerárias cearenses: o Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), em Aquiraz, e o Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira II (IPPOO II), em Itaitinga.

A confirmação da prisão do bandido foi obtida pelo Diário do Nordeste já nas primeiras horas da manhã de ontem. Ainda de madrugada, por volta das 3 horas, a advogada de ‘Alemão’, Erbênia Rodrigues, recebeu uma ligação do delegado Antônio Celso, da Divisão de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio, da PF, confirmando a prisão de seu cliente. Às 6 horas, Erbênia Rodrigues embarcou num vôo com destino a Brasília.

NOME FALSO
Bandido era dono de fazendas e postos

Na casa do assaltante, a Polícia encontrou R$ 80 mil e uma pistola. Ele havia comprado fazendas e postos, em Goiás

Segundo a Polícia Federal, a prisão de Antônio Jussivan Alves dos Santos, o ‘Alemão’, aconteceu quando ele chegava a uma loja de pneus no Pistão Sul, em Taguatinga/DF (cidade satélite). Ele já estava sendo monitorado pelos ‘federais’ desde a semana passada e quando foi apanhado estava usando documentos ‘frios’. Em Brasília, ‘Alemão’ se passava por fazendeiro e usava o nome falso de Antônio Joaquim de Oliveira Paiva.

Tão logo foi detido, ‘Alemão‘ levou os policiais federais até sua residência, localizada na comunidade de Riacho Fundo 2, onde a PF acabou prendendo a mulher dele, Rosângela Oliveira Pontes, que também usava nome falso. Em seguida, a PF fez a prisão de dois supostos ‘laranjas‘ do acusado: Antônio Ferreira da Silva e Antônio Rivaldo de Oliveira Silva. O primeiro foi capturado em Mato Grosso e cuidava de postos de combustíveis que ‘Alemão‘ havia comprado. O segundo foi localizado na cidade de Cocalzinho, em Goiás, e cuidava de um sítio também adquirido pelo cearense. Na casa de ‘Alemão’, os policiais conseguiram encontrar cerca de R$ 80 mil (ainda em cédulas de R$ 50,00 furtadas do BC), além de uma pistola de calibre 380. A princípio, o bandido negou que houvesse dinheiro ali, mas, em seguida, voltou atrás quando os ‘federais’ disseram que, se fosse preciso, iriam demolir a casa inteira até achar o dinheiro.

Até a noite passada, ‘Alemão’ permanecia recolhido numa cela do Departamento de Polícia Federal. Ainda de manhã ele teve autorização para conversar com sua advogada. Erbênia Rodrigues contou que seu cliente estava tranqüilo e não se queixou de ter sofrido maus-tratos por parte dos policiais federais.

Segundo a PF, ele teria ficado com a maior parte dos R$ 164,7 milhões do BC e ‘doado’ R$ 10 milhões à facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC).

CERCO POLICIAL
Federais seguiam os passos do acusado

Desde o último fim de semana, a Polícia Federal seguia os passos de ‘Alemão’. Por duas vezes, chegou bem perto de prendê-lo, mas os agentes preferiram não se aproximar, pois evitaram um confronto em que poderia haver mortes. Na tarde de segunda-feira, ele estava sozinho e desarmado. Foi, então, cercado na porta da loja de pneus.

A primeira chance que os ‘federais’ tiveram para prendê-lo foi no sábado passado, mas ele foi encontrado num bar em que estava com várias pessoas amigas. Para evitar um tiroteio em que inocentes poderiam também ser feridos, os ‘federais’ optaram por ficar a distância.

No domingo, seria feita uma segunda tentativa, mas ele foi jogar dominó na casa de amigos e estava acompanhado. A prisão foi adiada.

‘Alemão’ tinha uma vida sem ostentação em Brasília. Preferiu investir dinheiro em Goiás e Mato Grosso, onde comprou fazendas e postos de combustíveis, colocando sempre os bens em nome de ‘laranjas’. A PF suspeita que ele também fez investimentos em sua cidade natal, Boa Viagem (a 221Km de Fortaleza).

O furto no BC já resultou na morte de quatro pessoas, prisão de 40 e vários seqüestros, sendo quatro deles no Ceará.

Silêncio

‘Alemão’ permaneceu silente na sede da Polícia Federal de Brasília e já informou que só dará declarações perante o juiz. Sua transferência para Fortaleza não tem ainda data definida, mas, segundo sua advogada, deverá ser nos próximos dias, conforme informou o delegado Antônio Celso. A mulher de ‘Alemão’ também permanece presa, pois foi autuada por uso de documento falso e ‘lavagem’ de dinheiro.

FIQUE POR DENTRO
Quadrilha cavou túnel para retirar o dinheiro

O furto milionário na sede do Banco Central, em Fortaleza, aconteceu depois da escavação de um túnel que media 80 metros de extensão por 50 centímetros de diâmetro. Para os especialistas, o buraco foi uma verdadeira obra de engenharia, dotada de ventilação, iluminação, escoras que afastavam o risco de desabamento, e ainda um sistema de roldanas através do qual o dinheiro - em sacos contendo milhares de notas de R$ 50,00, pesando cerca de 3,5 toneladas - foi retirado dali entre a noite do dia 5 e a madrugada do dia 6 de agosto de 2005, um fim de semana. O roubo só foi descoberto no dia 8 (segunda-feira), quando os funcionários do BC chegaram para trabalhar. ´Alemão´ surgiu nas investigações logo na primeira semana após o furto. A PF descobriu que dois parentes de Jussivan estavam envolvidos na ação criminosa.

Fernando Ribeiro/Nathália Lobo
Editor/Repórter