Como a aviação regional pode aprender com o caso Parnaíba de atração de voos

Escrito por
Igor Pires igor.aer.ita@gmail.com
Legenda: Latam vai operar a rota Fortaleza - Parnaíba
Foto: Renato Bezerra

A atração de uma grande companhia aérea para operar em Parnaíba, como a Latam, pode mostrar um caminho viável de negociação para outras cidades da região Nordeste chegarem a ter vez com a aviação comercial.

Uma cidade como Sobral, que é até maior que Parnaíba e que também possui infraestrutura para receber voos de aeronaves como A320 e Boeing 737, precisa ter sua vez. Está claro que o município cearense precisará de forte negociação para ensaiar voos a jato.

Ainda, aeronaves maiores possuem a possibilidade de permitir tickets mais baixos, pois rateiam os custos entre mais passageiros.

Não adianta ter um aeroporto qualificado como o de Sobral e este apenas servir para uma dúzia de empresários ou artistas fazendo shows na região. O aeroporto da cidade já tem mais de 3 anos de ociosidade.

Mossoró também precisa se valer do caso de Parnaíba e receber voos de maior porte, porém, o caso potiguar é diferente: eles não recebem voos a jato, porque o aeroporto mal comporta o público de um ATR, conforme mostramos em janeiro de 2024.

A Voepass certamente mostrou à Latam como há demanda por voos nacionais através de conexões rápidas em Fortaleza. Não tenho dúvidas que Mossoró receberá voos comerciais tão logo a reforma recentemente prometida de R$ 70 milhões seja concluída.

Outra cidade que precisa ser vista pela Latam é a cidade de Campina Grande na Paraíba. Uma cidade de quase 500 mil habitantes, não ter vez com a companhia aérea é anômalo.

Verdade que a Voepass servia a Latam na cidade, como servia Mossoró e que a Azul inundou a cidade de assentos com seu mini-hub regional, dificultando a entrada de novas companhias, porém, ficou para trás.

Dessa forma, voos de Campina Grande para Fortaleza com a Latam seriam muito oportunos, sobretudo porque o público de João Pessoa também poderia se servir destes. Seriam voos também curtos, como de Parnaíba, com bastante potencial.

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Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba precisam aprender a negociar como o Piauí fez. Poderia citar 3 futuros aeroportos modernizados e novos que precisam negociar com Latam, Gol e Azul.

O 1º caso é o do futuro aeroporto da Costa dos Corais em Maragogi, Alagoas. O aeroporto naturalmente já nasce com potencial de receber todas as três, como Jeri conseguiu. Alagoas é um dos estados que mais crescem na atração de voos no Nordeste.

Outros dois casos, são de aeroportos que deviam servir grandes cidades, porém, não dispõem ainda de infraestrutura: Feira de Santana-BA e Caruaru-PE.

A cidade baiana é a maior cidade do interior nordestino e já contou com voos da Azul para Campinas, por exemplo, há menos de 7 anos.

Precisa ter uma nova chance. Caruaru também já teve voos a jato nos anos 2000. Para os aeroportos, estão sendo prometidos recursos para ampliação e modernização de itens, como pistas de pouso e decolagens e terminal de passageiros.

O interior do Nordeste todo tem potencial para voar muito mais.

Latam voará entre Parnaíba e Fortaleza

Surpreendentemente, o Governo do Piauí atraiu a maior companhia aérea do Brasil para o novo aeroporto de Parnaíba. Belíssima novidade para o litoral piauiense que se ligará ao emergente hub Latam em Fortaleza, às quintas e sábados a partir de setembro.

Digo surpreendentemente, não por demérito piauiense, mas porque a Latam é também a companhia que menos bases no Brasil opera, são aproximadamente 55 aeroportos.

Será uma das menores base da Latam, referente à população: Parnaíba possui aproximadamente 160 mil habitantes.

Em 2022, o aeroporto teve um pico de movimentação de passageiros, atingindo quase 30 mil viajantes passageiros embarcando e desembarcando, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

No aeroporto, operavam Azul, Voepass e Azul Conecta com ligações para Fortaleza, Teresina e Campinas.

Porém, a Latam tem feito movimentos recentes que surpreenderam, mostrando que a companhia está capitalizada, está lucrando, recebe novos aviões praticamente toda semana e quer crescer mais.

Dois desses movimentos, como escrevemos, foram o lançamento de Juazeiro do Norte - Fortaleza e ligações entre Petrolina e Recife.

Sabemos que há subsídios envolvidos. O Governo do Piauí reduziu a alíquota do ICMS sobre querosene de aviação.

Porém, defendo que não faz sentido dispor de um aeroporto como o de Parnaíba (aeroporto de porte internacional) e ficar esperando as companhias aéreas.

Elas não farão os movimentos sozinhas. É uma pena, mas não farão, sobretudo no Nordeste.

Todos os estados do Nordeste instituíram programas de redução de ICMS sobre querosene para atrair voos. Aparentemente, o Piauí seguiu o movimento agora e atraíram a Latam.

Trata-se de um voo que durará menos de 1 hora realizado com Airbus 320 Neo, baixo custo, muito econômico. Dificilmente a Latam terá prejuízo.

Também porque estará bem conectada em Fortaleza, permitindo que várias porções do país cheguem e partam de Parnaíba.

Parnaíba já recebeu, até março passado, antes do último infortúnio da Azul, um interessante voo triangular entre Confins-MG, Jeri (Cruz-CE) e Parnaíba.

Parnaíba e Jeri são próximas e eram ligadas com uma aeronave também muito econômica, E2-195 da Embraer, que o custo do voo (20 minutos) entre elas para se ligarem a Confins é baixo.

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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

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