Após pedido de recuperação judicial, Azul vai reduzir voos em 6 cidades do Nordeste; veja quais

A Azul Linhas Aéreas vai reduzir a oferta de voos do seu hub de Recife para vários destinos no Nordeste a partir deste mês. Essa deve ser a primeira consequência mais relevante para a malha da região após a companhia ingressar com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos.
A redução de voos já é notada em, pelo menos, cinco destinos, que sempre tiveram maior quantidade de voos à capital pernambucana. Além de Recife, os destinos são:
- Natal
- Fernando de Noronha
- João Pessoa
- Campina Grande
- Aracaju
Perguntamos a companhia aérea se a redução de voos tem ligação com a eventual devolução de aeronaves ATR 72-600, que costumam operar os trechos. Porém, em nota, a Azul indica que não houve alterações na malha para alguns dos destinos citados. Ocorre, porém, que a companhia aérea compara partidas no mês de junho, com meses futuros (meses em que já houve a redução).
A redução se deu justamente entre maio e junho (31/05 e 01/06), quando a Coluna provocou a companhia aérea por mudanças na malha.
Menos voos em junho
São 138 voos a menos nestas cidades em junho na comparação com maio.
Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), foram 414 partidas de Recife para os cinco aeroportos mencionados. Neste mês, estão previstas 276 partidas de Recife.
Como exemplos, havia média superior a 3 partidas diárias de Recife para Natal, agora a média prevista é de 2; de 2 para 1 em João Pessoa; de 4 para 2,6 em Noronha; de 2,5 para 2 em Aracaju, de 1,8 para 1,5 em Campina Grande.
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Considerando que todos os voos são realizados com o turboélice ATR de 70 lugares, estamos falando de 9.660 assentos a menos por mês em Recife só em partidas para destinos do Nordeste.
Como consequência, um voo entre Recife e Natal, por exemplo, pôde ser encontrado, só ida, por R$ 4 mil em procuras realizadas nos últimos dias de maio.
Nordeste deverá ser o mais afetado
Com o agravamento da situação financeira da Azul e entrada em recuperação judicial, a região Nordeste deverá continuar sendo uma das mais afetadas do país em redução de voos, assentos e bases.
Após cortar voos em, pelo menos, cinco estados do Nordeste no primeiro trimestre do ano, a entrada da companhia com o processo voluntário de reestruturação de dívidas, sob o Capítulo 11 da Lei de Falências americana, e a recente informação da redução de 35% da frota, é possível que um novo passo de reduções de voos ocorra.
Na redução do 1º trimestre, a falta de aeronaves já foi caracterizada como causa da redução de voos na região Nordeste.
Em Fortaleza, a Azul terá uma das menores movimentações da história.
Em Recife, hub da companhia na região, entre os meses de maio e outubro de 2024 e 2025, há redução média de 17% em partidas da companhia e de 5% em assentos, de acordo com dados da Anac.
O fato da Azul iniciar voos internacionais utilizando-se de aeronaves de empresas como a portuguesa Euroatlantic (para Porto e Madri) pode ter relação com a necessidade de devolver aeronaves widebody (fuselagem larga).
Redução de frota
Como plano de saída da recuperação judicial, a Azul prevê redução de frota da ordem de 35%. A companhia hoje possui da ordem de 180 aeronaves.
Em coletiva de imprensa no dia 30 de maio, a Azul esclareceu que parte da redução de frota que precisará fazer, baseia-se em aeronaves que já não estão operando, como alguns Embraer 195 e Boeing cargueiros 737.
É possível haver também impacto no número de Cessna Caravans, da Azul Conecta, subsidiária da Azul, podendo acarretar mais fechamento de bases.
Por outro lado, estaríamos falando possivelmente de mais de 50 aeronaves devolvidas. Se 10 aeronaves que estão voando forem regularmente devolvidas, certamente haverá redução de voos e assentos em outras regiões do país.
Rotas de Campinas–SP (hub maior) para cidades como Alta Floresta–MT e Santa Maria–RS já aparecem sem previsão de operação após o mês de agosto.
Redução de dívida
Dentre outras ações e redução de frota, a companhia espera reduzir aproximadamente US$ 1,6 bilhão em financiamento durante o processo, eliminação de mais de US$ 2 bilhões em dívidas e previsão de até US$ 950 milhões em novos aportes de capital no momento da saída do processo.
A Azul opera desde aeronaves de 9 assentos até aeronaves com mais de 300 assentos. Essa diversidade de frota quase exclusiva no Brasil pode também ser seu ‘calcanhar de Aquiles’, pois quanto mais diferentes modelos de aeronaves, mais estrutura e treinamentos diferentes precisarão ter seus pilotos para operarem, o que incrementa os custos da empresa.
Perguntamos à companhia, que possui frota de 184 aeronaves, que quantidade de aviões restariam ao final de 2025, porém, não recebemos resposta.
É possível que a redução de aeronaves recaia também em aeronaves widebody (fuselagem larga), que normalmente realizam voos internacionais. Esses voos e aeronaves, costumam trazer mais riscos para as aéreas, pois, naturalmente, envolvem mais custos para serem operados.
Ademais, poderá ser um duro revés ao que considero a empresa mais empreendedora do Brasil, voando para mais de 150 destinos, grande parte de destinos regionais, justamente o extrato menos desenvolvido da aviação brasileira.
No Nordeste, a empresa deixou de voar de forma regular com seus ATRs em cidades como São Raimundo Nonato-PI, Juazeiro do Norte-CE, Mossoró-RN. Assim, o dano já está feito e a baixa de novas aeronaves pode piorá-lo.
Por outro lado, a companhia informa que continuará, dentre outros pontos, a operar normalmente, a pagar os tripulantes como de costume, mantendo benefícios.
Segundo a Azul, “o processo de reestruturação financeira que implementaremos é uma ferramenta legal comumente usada nos Estados Unidos que permite às empresas operar e atender seus públicos de interesse normalmente, enquanto trabalham nos bastidores para ajustar sua estrutura financeira.”
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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.