Segurança Pública no Ceará: Um Olhar sobre as Redes Complexas e o Combate ao Crime Organizado

Nesse contexto, além dos métodos tradicionais de combate ao crime, é essencial incorporar novas abordagens científicas ao debate

Escrito por
Igor Cesar Conti de Almeida producaodiario@svm.com.br
Delegado da Polícia Federal
Legenda: Delegado da Polícia Federal

O estado do Ceará enfrenta desafios significativos na segurança pública, marcados pela presença de facções criminosas que disputam territórios para a exploração de diversas atividades ilícitas. O número de homicídios tem aumentado, impulsionado pelos conflitos entre essas organizações, que transformam bairros e comunidades em zonas de tensão. A sensação de insegurança é uma preocupação crescente para a população cearense. Nesse contexto, além dos métodos tradicionais de combate ao crime, é essencial incorporar novas abordagens científicas ao debate. A teoria das redes complexas, tradicionalmente aplicada na física e em outros campos científicos, pode fornecer uma perspectiva inovadora e eficaz no enfrentamento ao crime organizado.

Esta teoria permite a análise detalhada das conexões, topologias e interações dentro de sistemas complexos, revelando padrões que não são imediatamente visíveis a olho nu. Boa parte dos homicídios no Ceará resulta das disputas territoriais entre facções criminosas, que se rivalizam pelo controle de áreas estratégicas para o tráfico de drogas e outras atividades ilícitas. Tais organizações apresentam diferentes níveis de maturação e coesão interna. Algumas são estruturas consolidadas, com hierarquias bem definidas e vastas redes de influência, enquanto outras estão em estágios iniciais de formação, tentando expandir seu domínio. Compreender essas peculiaridades é fundamental para a formulação de estratégias de combate que sejam realmente eficazes.

A teoria das redes complexas oferece uma ferramenta analítica robusta para desmantelar organizações criminosas ao mapear as interações e conexões entre os membros de uma rede criminosa. Por meio dessa abordagem, é possível identificar os "nós" mais conectados e influentes dentro da organização, que normalmente simbolizam os pontos críticos de controle e coordenação. Identificar esses nós centrais permite que as forças de segurança direcionem seus esforços em desarticular os elementos-chave da rede, causando um impacto significativo na capacidade operacional da organização criminosa, com menor dispêndio de energia e recursos.

Afora a identificação desses pontos de maior conexão, os “hubs”, essa teoria também permite compreender a resiliência e a estrutura das redes criminosas em confronto. Organizações mais robustas e bem conectadas são mais difíceis de desmantelar, enquanto redes menos conectadas ou emergentes representam alvos mais vulneráveis a falhas e ataques direcionados. Ao priorizar o combate às redes menos robustas num primeiro momento, as forças de segurança podem, em tese, reduzir a violência decorrente de confrontos territoriais e enfraquecer o fenômeno de expansão de facções emergentes. Essa abordagem estratégica não só facilitaria a desarticulação de organizações criminosas, mas também contribuiria para a redução de homicídios e a melhoria da segurança pública a longo prazo.

Um outro viés da aplicação da teoria das redes na seara criminal é a possibilidade de dar maior destaque repressivo aos membros que desempenham atividades especializadas na rede criminosa. É o que ocorre, por exemplo, com o explosivista em uma organização dedicada a arrombamentos de instituições financeiras ou de carros-fortes; os hackers em quadrilhas dedicadas a crimes cibernéticos; e os químicos em laboratórios de produção de drogas, cuja expertise é fundamental para a fabricação e qualidade do produto. É fundamental que esses entes recebam a mesma atenção repressiva que atualmente se destina às lideranças dessas organizações. Focar em membros com habilidades técnicas específicas enfraqueceria significativamente a capacidade operacional da rede criminosa, uma vez que a remoção desses especialistas causaria desorganização e retardo em suas operações.

Em síntese, a aplicação da teoria das redes complexas no combate ao crime organizado se mostra como uma abordagem promissora, oferecendo insights valiosos sobre como desmantelar as redes criminosas de maneira eficiente. No entanto, é necessário reconhecer que a solução para a redução dos indicadores de violência vai além das ações repressivas. Para alcançar esse intento, é necessário adotar uma abordagem multifatorial, que envolva a integração de políticas sociais, educativas e econômicas, visando abordar as raízes estruturais da criminalidade. Somente por meio de uma estratégia abrangente, que combine inteligência, repressão eficaz e desenvolvimento social, será possível alcançar uma redução sustentável da violência e melhorar a qualidade de vida no Ceará e em outras regiões afetadas pelo crime organizado. 

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