Feminino inquietante

Escrito por Eulália Camurça , eulalia.camurça@svm.com.br
Eulália Camurça é Jornalista e professora universitária
Legenda: Eulália Camurça é Jornalista e professora universitária

É dos nossos ventres que o mundo recomeça a cada dia. É das nossas bravas lutas do cotidiano que assistimos ao lentíssimo avançar da nossa história. É a partir do nosso sangue, que escorre diante de uma violência doméstica, que mudamos as regras do jogo. Mas seguimos sendo mortas pelo fato de sermos mulheres enquanto nossas meninas ainda sofrem a exploração de seus corpos e o abuso até dos parentes próximos.

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Apesar da nossa correria, o caminho para chegar à igualdade ainda é percorrido a passos lentos. Afinal, seguimos com limitações de funções e ganhando menos, ainda que ocupemos mesmos cargos que homens. Conceição Evaristo me ensinou que não se pode falar em meritocracia quando se parte de patamares completamente distintos, especialmente quando se sofre os efeitos da pobreza e do racismo. Ela e tantas outras mulheres iluminam mentes para refletir sobre questões fundantes e latentes.

É inacreditável que, em 2022, ainda tenhamos que falar em direitos iguais e lutar pelo que poderia ser uma obviedade, como o fim do inceitável machismo. Reiteradamente ficamos estarrecidas ao ouvir áudios aviltantes de desrespeito ou ao sermos assediadas como se nada estivesse acontecendo.

Diante do escudo de guerreiras, seguimos sendo cobradas por manter a beleza, o encantamento, a sensibilidade de quem nasce ou se torna mulher, lembrando a Simone de Beauvoir. Avançamos pautadas pelo amor, que Bell Hooks traduz como uma ação, para além do sentimento, uma reunião de cuidado, conhecimento, respeito e confiança.

Numa ciranda de mulheres sábias, como bem diz a Clarissa Pinkola Estés, vamos recompondo nossos sonhos, lutando nos fronts do machismo e da desigualdade. As lutas são por sobrevivência, por reconhecimento, por isonomia, por empatia, pela autonomia dos nossos corpos. Corpos volantes, corpos pensantes e fascinantes.  São muitas as lutas inglórias, mas há também as gloriosas. O importante é não fraquejar. E olha que o dia a dia é um convite para a desistência, mas deve ser, primodialmente, para resistência.

Eulália Camurça é Jornalista e professora universitária

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