Equipe venceu o Fortaleza nos pênaltis, no sábado (6)
Enquanto jogadores do Ceará, comissão técnica e o restante da torcida comemoravam o título do Campeonato Cearense na Arena Castelão, Gustavo Rodrigues precisava cumprir uma missão: pagar a promessa de atravessar o campo de joelhos após a vitória do Alvinegro, que garantiu a 46ª taça nas cobranças de pênaltis, no último sábado (6). O torcedor do Vovô, natural de Canindé, é devoto de São Francisco e tem Dimas Filgueiras como ídolo.
Ajoelhado no gramado do estádio, com o terço erguido nas mãos, ele atravessou metade do campo para agradecer a graça alcançada. Tirou a camisa para mostrar as marcas do amor pelo clube: duas grandes tatuagens no peito. Uma com o escudo do Ceará e outra em referência a Cearamor, torcida organizada.
"Ceará, eu te amo! "É para o Dimas e para o Preto, que não estão mais aqui com a gente. O Dimas me ajudou muito. E para essa nação tão grande", enquanto ia, de joelhos, na travessia pelo gramado da Arena.
"Quando me vejo em momentos difíceis, primeiro Deus e depois São Francisco. Ele é muito milagroso. Quem tem fé nele, alcança. Estou até um pouco emocionado, me arrepiando. O Ceará vinha há cinco anos naquela peleja e nada dava certo, e desceu da Série A para a B. É o time do meu coração, da minha paixão. Eu tinha que pagar aquela promessa", disse.
Saulo Mineiro abriu o placar para o Alvinegro, e depois o Fortaleza empatou com Lucero. Assim, a decisão foi nos pênaltis. Gustavo estava no estádio para trabalhar na segurança. Sem emprego fixo, ele faz bicos na área. Mas também já atuou como caseiro e serviços gerais. Vinte minutos antes do jogo acabar, Gustavo pediu ao supervisor para acompanhar o restante da partida.
"Eu fiquei ali na escadaria fazendo revista, ver se vem alguém armado, etc. E a polícia fica atrás, dando apoio. Eu estava trabalhando de segurança, para ganhar um dinheirinho. Impaciente. Quando foi para os pênaltis, eu nem quis escutar. Quando o Ceará sagrou-se campeão, parece que eu tirei um peso da minha cabeça."
"Fiquei num canto reservado lá embaixo, perto da torcida organizada, sozinho. No meu trabalho lá, é um bico. Eu trabalho bem direitinho. Eu já tinha falado para ele (o supervisor), que disse: 'Depois, você pode pegar a sua diária, entregue a camisa, que é a farda, e pode assistir o resto do jogo.' Foi tudo bem planejado, no tempo de Deus. A ansiedade foi tão grande que deu certo", revelou o torcedor.
Com a taça garantida, Gustavo precisava cumprir a promessa. Ao ver o repórter Lucas Catrib, do Sistema Verdes Mares, aproximar-se da grade da torcida após o fim do jogo, ele tentou.
"Falei com o repórter que queria pagar minha promessa. Eu trabalho aqui, só que o segurança não me conhecia. Mas o repórter foi tão gentil comigo. 'Ele vai entrar aqui comigo, a gente dá um jeito.', relembra as palavras do repórter. "Deixei minhas coisas na entrada do campo e fui cumprir minha promessa. Do meio do campo até a trave", completa.
PROMESSA
Em campo, depois de atravessar o gramado que testemunhou o 46º título do Alvinegro no estadual, o alvinegro beijou o gramado, emocionado. O zagueiro Luiz Otávio, que se recupera de uma lesão, viu a cena e presenteou o torcedor com a camisa comemorativa da noite.
"Quando eu cheguei naquela trave ali, uma coisa veio na minha cabeça. O que eu prometi a São Francisco, eu cumpri. Eu estou chorando, não vou mentir para vocÊ. Saí dali uma pena. Quando fui passando, o Luiz Otávio disse: 'Eu estava olhando daqui... Você cumpriu sua promessa?' Cumpri. Então, ele tirou a camisa de campeão de 2024 e me deu. E está aqui em casa", revelou.
AMOR PELO CEARÁ
Gustavo tem outros sete irmãos. Todos torcedores do maior rival, o Fortaleza. Como isso aconteceu? Aos 11 anos, ele foi levado por um amigo ao antigo Castelão. O jogo? Um Clássico-Rei.
"Era o Castelão mesmo e tinha arquibancada, não tinha violência, era torcedor com torcedor. Eu não lembro o placar, mas acho que o Ceará ganhou esse Clássico. Quando terminou o jogo, ele (o amigo) perguntou: Gustavo, qual time você gostou? Não gostei desse time colorido aí, não. Até brinquei com ele. Com todo respeito ao nosso rival. Eu gostei desse preto e branco. Jogava o Petróleo, jogadores que já se foram", relembra.
"Então, fiquei com aquela paixão pelo Ceará Sporting Club. Essa paixão ficou no meu sangue. Eu estava tão emocionado lá, que só Deus sabe. Eu tenho quatro filhos, e o Ceará é meu quinto filho. Eu tinha um amor muito grande também pelo Dimas."
DIMAS FILGUEIRAS E ERICK PULGA
O Ceará entrou em campo para o Clássico da final com a camisa em homenagem a Dimas Filgueiras. O eterno "Soldado Alvinegro, falecido em dezembro de 2023, foi jogador, técnico, presidente e dedicou 46 anos de trabalho ao clube. Gustavo acompanhou alguns treinos do time quando morava perto da sede.
"E eu criei aquele amor por ele (Dimas), pela educação dele. Eu me lembro muito do Dimas. Gosto muito. Ele me acolheu. A gente chegava lá e ele recebia muito bem. Tanto torcedores como jogadores, ele me dava ingressos. Cheguei a lavar carro dos jogadores, no tempo do Sérgio Alves, o Mota, o preparador de goleiros. A minha paixão é muito grande pelo Ceará", relembra.
"Meu ídolo mesmo é o Dimas Filgueiras. Sempre fui fã dele, como jogador e como treinador do Ceará, mas respeito todo o elenco e diretoria. O menino que está surgindo agora, o Erick Pulga, vai ser um grande jogador. Estive dentro do campo mas não o vi, para dar um abraço nele", completou.
O Ceará volta a campo na quarta-feira (10), quando enfrenta o Sport pelas quartas de final da Copa do Nordeste. A Verdinha FM e o Diário do Nordeste acompanham todos os detalhes da partida ao vivo e em tempo real.