Racha das Gatas: grupo de mulheres se diverte e promove solidariedade em Messejana

Durante o período da pandemia, a equipe criou o projeto ‘RDG Solidário’ voltado para ajudar famílias carentes

Legenda: Atualmente, mais de 100 mulheres participam do Racha das Gatas
Foto: Reprodução/Instagram

“Vamos bater um rachinha?”. Normalmente escutamos essa expressão entre os homens, que escolhem um dia da semana, para se reunirem com amigos. Mas esse desejo de jogar futebol em um momento de lazer também foi sentido por Priscila Menezes e algumas amigas. A prática esportiva foi incentivadora para o início do “Racha das Gatas”.  O berço do projeto foi em Messejana, bairro que é o ponto de encontro das meninas até hoje. A princípio era apenas um grupo com 10 mulheres, hoje o “Racha da Gatas”, abraça mais de 100 mulheres de todas as idades.

Desde o início, as organizadoras buscaram criar um lugar de inclusão para todas as mulheres apaixonadas pelo esporte. Os primeiros encontros foram sem pretenção, mas aos poucos sentiram a necessidade de acolher e ajudar. Um sentimento que ultrapassou as quatros linhas e se expandiu até a comunidade. O Racha das Gatas foi assunto para o podcast Elas no Esporte.

Durante o período de isolamento social rígido, por conta da pandemia de Covid-19, o racha teve que paralisar as atividades em campo. Fora dele, as meninas bateram um bolão de solidariedade ao criar o  “RDG Solidário”, uma ação com o intuito de ajudar famílias carentes e pessoas em situação de necessidade durante o período.

Sem recursos financeiros, o Racha das Gatas, se transformou em um mutirão para arrecadar dinheiro, muitas ações dentro da comunidade foram realizadas, entre elas a mais popular: a venda de rifas. Todo valor arrecado foi revertido em alimentos doados para as famílias carentes do bairro.

“A gente não se preocupa só com o esporte. Nosso projeto tem um cunho comunitário muito forte também. Fazemos projetos sociais para ajudar a comunidade. Fizemos distribuição de cestas básicas recentemente. 45 famílias foram beneficiadas com isso, coisas assim me fazem pensar que eu estou no lugar certo. A gente se sente em família”, explica a zagueira Érika Fernanda, integrante da equipe.

Além dos alimentos, o grupo também fez doações de máscaras e álcool em gel para comunidades carentes de diversas regiões de Fortaleza. A ação aconteceu tanto na primeira onda, quanto agora na segunda.

“Atualmente, outra rifa está acontecendo. Parte do dinheiro vai para a compra de cestas básicas e a outra será destinada a ajudar animais em situação de rua. Tudo isso é apenas o começo. O grupo tem vontade de expandir o projeto solidário para ajudar mais pessoas no futuro”, explica Priscila Menezes, organizadora do projeto.

O começo do projeto

O “Racha das Gatas” hoje é composto por mais de 100 mulheres, mas a iniciativa surgiu após um encontro entre quatro amigas. “A ideia surgiu de quatro amigas numa mesinha de bar. As meninas moravam na rua do campo onde a gente joga hoje. Os pais delas jogavam lá. Aí a gente pensou: Poxa, eles jogam e a gente não? Vamos criar esse lazer do esporte para a mulherada. Para ser um ponto de encontro entre as amigas”, relembrou a organizadora Priscila Menezes. 

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O primeiro racha aconteceu no dia 11 de julho de 2019. No começo, as meninas encontraram dificuldades físicas e sofreram um pouco para se adaptar ao campo Society, algumas tinham experiência, mas não demorou muito para se adaptassem. Com o tempo, o projeto foi se expandindo e mais mulheres foram agregadas ao time, que é bastante diversificado. Entre as jogadoras, há mulheres de todas as idades, estilos e classes sociais. O que une todas elas é a paixão pela bola no pé. 

“O ponto principal é a paixão pelo esporte, a paixão pelo futebol. Atrelado a isso tem a amizade, a resenha, a diversão. É um espaço totalmente de inclusão. Não importa qual a sua idade, se você joga pouco ou muito. Até mesmo se nunca jogou! Estamos aqui de braços abertos”, ressalta a zagueira Erika.

Mulheres voluntárias de olho no futuro  

O time é formado 100% por mulheres. Tanto em campo, quanto na organização administrativa. Para conseguirem jogar, cada uma se responsabilizava por uma cota voltada para pagar o campo, aos poucos foram chegando alguns patrocínios independentes. À medida que o projeto cresceu, foram criados uniformes, identidade visual, escudo e uma organização mais consolidada. Todo trabalho é voluntário, com o custeio do espaço dos rachas feito pelas todas elas.  

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Legenda: Organização e atividades são desenvolvidas apenas por mulheres no bairro Messejana
Foto: Reprodução/Instagram

Até agora o time só participou de um torneio. A ideia das meninas é expandir a atuação da equipe para outras competições. Através de muito esforço, o grupo conseguiu uma oficialização da Federação Cearense de Futebol (FCF) para a realização de um campeonato de Fut7 feminino, mas a pandemia atrapalhou o seguimento da ideia.  

“A gente chegou a criar uma seleção. Fizemos uma peneira entre as meninas do racha. Tentamos ser justas, imparciais, chegamos a treinar com um treinador e auxiliar voluntários. Conseguimos agregar vários profissionais que acreditaram no nosso projeto. Nutricionista esportivo, preparador físico, preparadora de goleira e até mesmo ajuda psicológica para aliviar a pressão das competições”, comenta Priscila.  

Agora, a expectativa é de resgatar a ideia para pôr em prática assim que a pandemia acabar. As meninas pretendem, mais à frente, criar uma própria competição e contar com a inclusão de outros times da cidade.