Opinião: O velho-novo desafio de lidar com a violência nas arquibancadas
Futebol cearense registra novos episódios de brigas em jogos do Cearense

25 de janeiro de 2025. Estreia do Fortaleza no Cearense, vitória diante do Horizonte e briga entre os próprios torcedores do Leão na arquibancada do Domingão. A imagem que não sai da cabeça: jogo paralisado, Tinga indo até os tricolores para pedir o fim da confusão.
26 de janeiro de 2025. Ceará enfrenta o Ferroviário no Clássico da Paz, o primeiro do estadual, vence e vê os torcedores alvinegros brigarem entre si nas arquibancadas do PV. A imagem que não sai da cabeça: jogo paralisado, cadeiras sendo arremessadas.
Início de temporada, ambas as equipes na elite do futebol brasileiro, partidas sem pressão... Violências nas arquibancadas são complexas e vão muito além dos resultados. Mas, se nesse contexto positivo, mais um episódio assim ocorreu, como lidar com a falta de limites para esse absurdo? Em qual momento perdemos a régua do tolerável?
Foram dois dias seguidos de correria, balas de borracha, preocupação. De socos e pontapés na vontade de ir ao estádio e torcer pelo time de coração.
Não é um contexto só dos tricolores e do Fortaleza, nem só dos alvinegros e do Ceará. As cenas se repetem em várias torcidas e times pelo mundo. Quando vamos, enquanto sociedade, debater essa realidade sem mascarar com discurso raso de "não são torcedores?" São, sim, porque vivem os clubes, estão nos estádios, gastam com camisa, pagam sócio-torcedor, participam da festa...
Seria um passo valioso reconhecer isso. Depois, entender a profundidade do problema - que é, sobretudo, social - e tratar com a seriedade merecida. Tem muita gente qualificada estudando esses fenômenos. Não é hora de ouvir essas pessoas e dar as mãos ao que o conhecimento oferece?
Entidades de futebol, clubes, atletas, torcidas organizadas, segurança pública, estudiosos, outras esferas do poder público (e porque não particular), Educação... Precisa haver uma grande mobilização desses atores e tantos outros. A trajetória não será perfeita. Mas a necessidade de um caminho mais sólido sobre como avançar com o tema urge.
Lidar com violência não é só responder com repressão. Talvez seja a medida menos eficaz, inclusive. E são realidades distintas num país continental como o Brasil. O esporte é só mais um retrato dessas diversidades e não pode - nem deve - se isolar para combater o problema.
Como disse José Lins do Rego: "O conhecimento do Brasil passa pelo futebol." Esse esporte ainda tem muito a nos ensinar. Precisamos enxergar isso e encarar essa possibilidade como uma saída plausível para entender muitos dos desafios que vêm com ele.