Memória viva: colecionador restaura camisas de times extintos do futebol cearense

Neto Cavalcante é apaixonado por futebol cearense e mantém a memória no nosso futebol através dos uniformes

Legenda: Neto Cavalcante com sua coleção de camisas retrô do futebol cearense
Foto: KID JUNIOR / SVM

Quem já teve a curiosidade de estudar a história do futebol cearense, lendo livros, fichas técnicas, resumos de campeonatos e tabelas, já observou inúmeros clubes que tiveram sua importância, mas que foram extintos após deixar sua contribuição aos gramados do nosso Estado. Quem nunca se perguntou: "Que time é esse?", "Que campanha legal esse time fez?", "Este ano ele bateu de frente com Ceará, Fortaleza e Ferroviário!". Eu mesmo fiz isso várias vezes.

Equipes como Maguari, Gentilândia, Usina Ceará, Orion, Tramways estão no imaginário de quem ama o nosso futebol, mas não pôde vê-los jogar, nem admirar sua cores.

Por muito tempo, ter registro de suas cores, uniforme e escudos, apenas em fotos raras de livros. Até que surgiram colecionadores e idealizadores de projetos para preservar a memória do futebol cearense. O professor Neto Cavalcante é um deles. Ele é responsável pela coleção "Mantos Alencarinos", projeto de 2023 que resgata camisas retrôs de clubes cearenses já extintos.

O Diário do Nordeste conversou com Neto, que mostrou todo seu acervo e amor pelo futebol cearense e suas camisas maravilhosas. Ter acesso ao acervo dele nos dá um impacto instantâneo, de respeito à memória destes clubes, que cada um com seu tamanho, teve sua relevância e as mantém até hoje, como você entenderá ao longo do texto.

Neto concedeu entrevista orgulhosamente vestido com a camisa do Maguari, campeão cearense de 1929, 1936, 1943 e 1944. "O Maguary só não tem mais títulos que Ceará, Fortaleza e Ferroviário. É um time histórico, foi uma potência", diz ele, empolgado.

Legenda: Neto vestido com a camisa do Maguari, time quatro vezes campeão cearense
Foto: KID JUNIOR / SVM

Sobre como tudo começou, Neto destacou que a coleção teve início com times de todas as divisões no futebol cearense.

"Eu sou apaixonado por futebol, há muitos anos coleciono camisas do futebol cearense. Eu comecei a minha coleção de camisas dos times da 1ª, 2ª e 3ª divisões do Campeonato Cearense. Ao praticamente completar a coleção - faltam apenas as camisas do Palmácia e Jardim - resgatei as camisas dos clubes extintos. São clubes antigos, centenários e que ficaram para trás, mas que possuem relevância histórica. A idéia surgiu há mais de 10a anos, mas só em novembro do ano passado fiz o primeiro lote, com equipes que marcaram história: Maguari, Gentilândia, Usina Ceará, Orion, Tramways", disse ele.

Legenda: Camisas históricas do futebol cearense restauradas: Orion, Tramways, e duas do Gentilândia
Foto: KID JUNIOR / SVM

Neto fez um trabalho minucioso de estudo para que as camisas dos times tenham sido replicadas de forma fiel e com qualidade.
 

"Esse resgate foi feito depois de muitas leituras, idas a bibliotecas, conversa com historiadores. Fui atrás de jornais da época, olhar estatutos, flamulas, como era escudo de cada clube, já que muitas imagens que conseguíamos não ajudava bastante".

Legenda: Neto com a camisa do "Football" primeiro time cearense, de 1906
Foto: KID JUNIOR / SVM


Veja mais sobre estes 5 clubes no instagram dos Mantos Alencarinos

Outros modelos

Após lançar os modelos dos clubes extintos mais relevantes, Neto fez outros lotes, com equipes como Bangu, Santa Cecília, Somda, Penarol, Nacional (Correios), Riachuelo, Guarani, José de Alencar, Federação Cearense (disputava campeonatos nacionais, como seleção cearense), Volante (clube dos taxistas), Duque de Caxias (clube do exército) e Cearazinho.

Legenda: Neto mostra a camisa do Somda, time da fábrica de louças São José
Foto: KID JUNIOR / SVM

Memória afetiva

Mais do que resgatar a história do futebol cearense com as camisas destes clubes, com elas, são construídas memórias afetivas. Neto se impressionou com o número de pessoas que buscou as camisas, com muitas deles se emocionando ao terem acesso aos 'mantos'. São familiares de ex-jogadores destes clubes, de torcedores que eram crianças e viram estes times jogarem. 

"Eu não faço para ganhar dinheiro, o custo é quase o da camisa mesmo e a ideia é expandir o acervo para o máximo de pessoas possível. Teve muita procura. No dia dos pais foi incrível, de filho que queria presentear o pai, já que o avô tinha jogado no clube.  Tive contato com torcedores do Usina Ceará, de avô que jogou no Maguary, de pessoas que tem lembrança afetiva destes times, de quando era era criança. Este resgate era para materializar a história, sentir a camisa, ter orgulho de usá-la", descreveu Neto.

Curiosidade

Camisas de clubes de futebol sempre despertam a curiosidade de amantes do esporte. E quando a camisa é rara, retrô e praticamente desconhecida do torcedor 'médio', é resenha na certa.

O colecionador sempre exibe suas camisas pelas ruas de Fortaleza ao vestí-las e não escapa de curiosos ao longo das caminhadas. Neto sempre é abordado por curiosos, que perguntam: "Legal, que time é esse?"

Próximos passos

Neto espera ainda criar um novo lote de 5 clubes para amantes do futebol cearense: Stella (atual Fortaleza), Rio Branco (Atual Ceará), Alcione e América.

"A galera pede muita camisa do América, por memória afetiva. O América não acabou. Continua com Sub-20, categorias de base. Me pedem muito a camisa do Mequinha".

 

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