Clubes e atletas da Série B do Campeonato Cearense vivem incerteza

Dos 10 clubes da 2ª divisão estadual, cinco são de cidades em isolamento social rígido, ainda com forte contaminação pelo novo coronavírus, e sem projeção de volta às atividades físicas em campo. Competição está sem data

Se para a elite do futebol cearense não há previsão para o retorno dos jogos, para a 2ª divisão do Estado a situação é ainda mais incerta durante a pandemia do novo coronavírus. A tabela da Federação Cearense de Futebol (FCF) previa o início da Série B no dia 18 ou 19 de abril, com o fim da 1ª fase no dia 13 ou 14 de junho. O corrente ano já está em julho e não há previsão de retorno. A reformulação do calendário será discutida pelos clubes e a organização da competição, que deve começar somente após a retomada da 1ª divisão.

As dúvidas quanto ao retorno às atividades em campo são ainda maiores para os times de fora da Capital, maioria na Série B cearense. Das 10 equipes que devem disputar o campeonato, apenas dois são de Fortaleza, onde o crescimento da doença começa a desacelerar, enquanto outras cidades ainda esperam pelo pico de contaminação.

Juazeiro do Norte, Crato e Iguatu estão em lockdown (isolamento social rígido), impossibilitando qualquer atividade coletiva para os cinco clubes que englobam. Itapipoca afrouxou as restrições, mas ainda está na fase 2 da retomada gradual da economia cearense, por exemplo.

Exemplo de dificuldade

Alguns clubes estavam no começo da preparação, no fim de março, para disputar o Cearense, fazendo testes médicos e planejando os treinos, mas foram interrompidos pela pandemia. O Iguatu, por exemplo, não assinou contratos com novos jogadores e suspendeu aqueles já firmados, como explica o presidente do clube, Gabriel Uchôa.

"Não assinamos contrato com jogadores ainda, fizemos apenas pré-contratos. Estamos em conversa se esse pessoal ainda vem pra Iguatu. Os nossos jogadores, que são da região e já estavam aqui, suspendemos os contratos e eles estão recebendo de acordo com a MP do Governo Federal", disse Gabriel.

Sem poder trabalhar nos gramados, o goleiro do Iguatu, Gefferson Fernandes, de 23 anos, vai se mantendo nesta pandemia. Com o contrato suspenso, o atleta recebe um auxílio.

"Já tinha contrato feito até o final da competição, só que começou essa pandemia, e o contrato foi suspenso. Não chegamos a realizar nenhum tipo de exames, pois não teve apresentação. Falei com o presidente a respeito da situação e ele me informou que eu tinha direito de receber, e fizemos meu contrato individual de trabalhador para receber um auxílio", explica Gefferson, que treina diariamente em casa para manter a forma física para a volta dos treinos.

A cidade de Iguatu registrou mais de mil casos confirmados de Covid-19, além de mais de 30 mortes pela doença, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde. Os números preocupam o presidente do time da casa, que alega não ter resposta da Federação sobre qualquer ajuda financeira neste período ou doação de testes para a doença.

"Tivemos uma reunião com a FCF. Os times falaram sobre suas situações e quando pensavam que a competição ia iniciar. Essa decisão não cabe aos times, mas sim às autoridades de saúde pública. Não foi falado sobre ajuda financeira ou testes para Covid aos clubes", afirma o presidente do Iguatu.

Rebaixado para a Série B em 2019, o Azulão vinha firme na preparação para retornar à elite, mas vê seus planos desmoronando sem o apoio de patrocínio e, principalmente, de sua torcida.

"Vínhamos de vento em popa. Estávamos fazendo uma grande estrutura para que o Iguatu pudesse voltar à 1ª divisão. Com a pandemia, inúmeras situações acabam mudando, desde os valores a serem recebidos com os portões fechados e isso dá uma quebra na venda de camisas e de sócio-torcedor. A maior dificuldade é a incerteza, se os patrocinadores vão continuar da mesma forma, se o torcedor vai estar no mesmo gás que estava", lamenta Gabriel.

Legenda: Icasa já passou por mudanças desde que a pandemia começou no Estado
Foto: Antônio Rodrigues

No Cariri

O Icasa também não finalizou os exames e nem acertou os contratos de seus atletas para o Cearense antes do isolamento começar. Leonardo Santana, zagueiro de 21 anos do Verdão do Cariri, aguarda as atividades do clube retornarem para ser oficializado.

"Foi deixado nas conversas que, pela situação financeira, quando a pandemia der uma amenizada, vamos conversar novamente sobre os contratos", falou o jogador que treina a parte física em casa sob acompanhamento remoto do preparador físico do Icasa.

Kleber Lavor, diretor de futebol do Verdão, explica que o clube pretende firmar os contratos assim que a retomada for liberada e que, enquanto isso não ocorre, os atletas recebem um suporte financeiro durante este período. Como é o caso de Leonardo Santana.

"O Icasa começou a testar atletas em janeiro. O Flávio Araújo (técnico) começou a trabalhar no dia 20 de março, mas, infelizmente, no dia 29, o decreto do Governo do Estado proibiu as atividades. Assim que pudermos voltar, vamos assinar os contratos, e acho que todos os atletas vão voltar. Estamos ajudando a todos com cestas básicas e ajuda financeira dentro de nossas condições", revelou Kleber.

Neste meio tempo, Flávio Araújo deixou o clube após proposta do River/PI e Washington Luís assumiu o Icasa.

Em Juazeiro do Norte são quase 4 mil casos confirmados de Covid-19 e 100 óbitos pelo vírus. No eventual retorno da 2ª divisão, os times devem passar por testagens para a doença, assim como ocorreu na elite. O dirigente do Icasa espera da Federação Cearense que "todas as condições dadas aos times da 1ª divisão sejam dadas aos da 2ª".

Em resposta à reportagem, o presidente da FCF, Mauro Carmélio, afirmou que vai disponibilizar gratuitamente testes para Covid-19, como fez com seis clubes da Série A do Cearense. "Os clubes são iguais. Quer estejam momentaneamente na Série A, B ou C", afirmou o mandatário.