Polícia capturou ao menos 63 suspeitos por ações criminosas

Entre os detidos está uma nova liderança da facção GDE. A Polícia encontrou conversas do suspeito com comparsas, sobre os ataques, em um celular. O Estado já definiu a transferência de dez presos para presídios federais

Escrito por Messias Borges , messias.borges@diariodonordeste.com.br
Legenda: Os ataques continuaram, ontem, apesar do reforço no policiamento nas ruas da Capital e Interior
Foto: Foto: Halisson Ferreira

Em meio a uma série de ataques criminosos que se estende por seis dias, as Forças de Segurança do Estado intensificaram os trabalhos ostensivos para dar uma resposta à sociedade. Pelo menos 63 suspeitos de praticar os crimes já foram capturados, até as 20 horas de ontem. Por outro lado, o Governo já definiu a transferência de dez lideranças da facção Guardiões do Estado (GDE) para presídios federais.

A Polícia está atenta na região envolta dos bairros Papicu e Cidade 2000, em Fortaleza, onde já aconteceram ao menos cinco ações criminosas. As buscas da PM resultaram na captura de oito suspeitos (sendo cinco adultos e três adolescentes), na Comunidade do Pau Finim, na madrugada de ontem. O grupo é investigado por participar do ataque a uma concessionária, na Avenida Santos Dumont, na última terça-feira (24), que deixou 16 veículos incendiados; e estaria preparado para atacar um posto de combustíveis, na mesma via.

No Município de Chorozinho, também ontem, uma operação deflagrada pela Polícia Civil prendeu sete pessoas. A ação policial visava cumprir 20 mandados de prisão e de busca e apreensão contra integrantes da GDE, suspeitos de envolvimento com homicídios e tráfico de drogas. Um total de 100 agentes participou das diligências, em 20 viaturas e um helicóptero da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer).

“As respostas estão sendo cada vez mais rápidas por parte da Polícia. E, à medida que a gente vai prendendo, a gente vai demonstrando para os demais: 'quer fazer? Vai acabar preso e não muda nada a situação do Sistema Penitenciário'. Enquanto isso tiver acontecendo, o endurecimento vai ser maior ainda, dentro dos limites legais”, afirmou o titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa.

Liderança

A reportagem apurou, com fontes ligadas à Segurança Pública, que a maior parte das ações criminosas está sendo ordenada de fora dos presídios – ao contrário do que aconteceu na maior série de ataques da história do Estado, em janeiro deste ano. Integrantes do 2º e do 3º escalões da Guardiões do Estado assumiram a responsabilidade de comandar os ataques.

Um desses novos líderes da facção foi preso, na última terça-feira (24). Conforme as investigações da Polícia Civil, Francisco Romário Passos de Sousa Oliveira, conhecido como ‘Escob@’, estaria na função de Sintonia Final da GDE, no bairro Alto Alegre, na divisa de Maracanaú com Fortaleza, além de ser o Geral das Biqueiras (uma espécie de tesoureiro do grupo criminoso). 

No depoimento à Polícia, ele confessou que é “simpatizante da GDE, porque é a facção que domina o bairro onde mora”, mas negou ser chefe do grupo criminoso e ter ordenado ataques. A Vara de Audiências de Custódia da Justiça Estadual converteu a prisão em flagrante do suspeito em prisão preventiva, ontem.O 19º DP (Conjunto Esperança) chegou até ‘Escob@’ após apreender um aparelho celular que outro integrante da facção deixou cair em um ataque criminoso e encontrar conversas de um grupo, no aplicativo WhatsApp. O chefe da organização criminosa utilizava o recurso para planejar e controlar as ações criminosas, junto aos comparsas.

As conversas foram obtidas pela reportagem. Em uma mensagem, ‘Escob@’ se mostrava satisfeito com a atuação do bando: “Todos que estão se esforçando para cumprir o salve estão de parabéns. Muitos concluídos com êxito”. E afirmava que a quadrilha não ia se intimidar diante da reação do Estado: “Só vamos parar quando conseguirmos nosso objetivo, que é a melhoria pros nossos irmãos privados (sic)”. Os criminosos compartilhavam vídeos e áudios referentes à série de ataques. 

Transferência

O Governo do Estado divulgou que foi definida a transferência de dez presos que estão ligados às ocorrências para presídios federais. São novas lideranças da GDE, que emergiram na organização criminosa com o envio da alta cúpula da facção para presídios federais, em janeiro deste ano, durante a maior série de ataques criminosos da história do Ceará. 

A reportagem apurou que Francisco Tiago Alves do Nascimento, um dos membros da cúpula da Guardiões do Estado, pediu, nesta semana, por meio da sua defesa, para ser transferido a um presídio federal. A defesa de Francisco Tiago alegou à Justiça que o preso recebeu uma “visita indigna”, no último fim de semana, na CPPL 3. Pessoas não identificadas teriam ameaçado e torturado o requerente. A defesa de Alves alega que a transferência tem como finalidade resguardar a vida dele. 

Ontem, os ataques diminuíram em Fortaleza e passaram a se concentrar no interior. Foram registradas ocorrências nos municípios de Choró, Juazeiro do Norte, Paraipaba, Tauá e Várzea Alegre. Ao todo, já são 64 ações criminosas, desde sexta-feira (20).

O proprietário de um caminhão incendiado no Município de Tauá contou à reportagem que terminou de pagar o financiamento do veículo há dois meses. O veículo era utilizado para fazer serviços de frete. 

A estimativa do prejuízo é de cerca R$ 20 mil. “O caminhão estava estacionado do lado de casa. Uma viatura que estava fazendo ronda passou por lá e não tinha nada. Cinco minutos depois, o caminhão estava pegando fogo”, lamenta, aos prantos, Ronaldo Melo.