Estado monta cerco contra líderes de facção criminosa

Uma investigação da PF chegou a suspeitos de ordenar ataques, no Ceará. Doze chefes da GDE devem ser enviados para presídios federais. Ainda assim, as ações criminosas continuaram durante o dia de ontem

Escrito por Messias Borges , messias.borges@diariodonordeste.com.br
Legenda: Apesar das ações da Polícia, os ataques continuaram durante o dia de ontem
Foto: FOTO: CAMILA LIMA

As Forças de Segurança chegaram a mais líderes da facção Guardiões do Estado (GDE), suspeitos de ordenar os ataques criminosos que acontecem há sete dias, no Ceará. O roteiro da vez é semelhante ao de janeiro deste ano. Nesses oito meses, o grupo se reorganizou, voltou a aterrorizar o Estado e teve a cúpula novamente desarticulada. Além da transferência de doze chefes da GDE, outros 557 presos foram remanejados internamente dentro de unidades prisionais cearenses.

A Operação Torre, deflagrada ontem pela Polícia Federal (PF) e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Ceará (MPCE), com apoio do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), cumpriu mandados de prisão contra cinco líderes da GDE que teriam dado ordens para incendiar veículos em todo o Ceará (todos já se encontravam detidos) - além de prender um suspeito de executar os crimes.

Paralelamente, o Gaeco recebeu relatórios da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) e pediu pela transferência de 12 chefes da mesma organização criminosa para presídios federais de segurança máxima, com o objetivo de isolá-los. Os pedidos serão analisados pela Justiça Estadual.

Nas ruas, pelo menos 80 suspeitos de participar dos ataques já foram capturados. Apesar dos esforços das Forças de Segurança, as ações continuam a assustar a população cearense. Já são, pelo menos, 87 ocorrências no Estado. Ontem, os criminosos tentaram incendiar a Câmara Municipal de Pindoretama; e atearam fogo em uma ambulância do Samu, no bairro Cajazeiras, em Fortaleza e em uma viatura da Polícia, em Aratuba.

"A nossa determinação é que todos que cometerem qualquer crime no Ceará serão presos e punidos. Confio na minha Polícia, estamos agindo. Essa é uma luta constante, e o Estado tem feito ações duras e concretas para desarticular o crime organizado. Não vamos nos intimidar em nenhum momento. Ao contrário, vamos endurecer cada vez mais, mantendo os princípios da lei dentro dos presídios", prometeu o governador Camilo Santana.

Investigação

Uma investigação da PF sobre os ataques às torres de transmissão de energia da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), localizadas em Fortaleza e Maracanaú, em abril deste ano, levou aos líderes da GDE que também estariam comandando as ações criminosas que começaram há uma semana.

O principal alvo da Operação Torre era um preso recolhido no Município de Limoeiro, em Pernambuco. O paraibano Ednal Braz da Silva, o 'Siciliano', de 45 anos, era um dos fundadores e um dos principais chefes dos Guardiões do Estado e também era o último dono de um anel templário (símbolo de distinção na facção) desconhecido pela Polícia cearense.

"Esse preso do Estado de Pernambuco seria da cúpula da facção. Lá, ele tinha acesso a celular, o qual foi apreendido. E, além das ordens que ele emanou em abril para atacar as torres, ele teria possivelmente emanado as ordens para os ataques no Ceará, agora em setembro", revelou o coordenador da Operação, delegado federal Samuel Elânio.

Outros cinco mandados de prisão e nove mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Fortaleza, Caucaia e Maracanaú, na manhã de ontem. Foram apreendidos aparelhos celulares, computadores e outras mídias. Nove alvos da ofensiva policial não foram encontrados e agora são considerados foragidos.

Os investigadores afirmam que os presos que já estavam em presídios cearenses estão sem acesso a aparelhos celulares. As ordens para os ataques teriam sido anunciadas de outras formas. "Sobre os presídios do Ceará, fizemos buscas e não foram encontrados telefones celulares nas celas destes presos. A comunicação deles não acontece pelo telefone celular. A única forma de eles terem comunicação com mundo exterior é através das visitas ou contatos com advogados", apontou o titular da SSPDS, André Costa.

Facção

A reportagem apurou que 'Siciliano' se notabilizou por ataques a instituições financeiras, em vários estados do Nordeste. Ao ser levado para um presídio federal, ele teve contato com Francisco de Assis Fernandes da Silva, o 'Barrinha' ou 'Guardião', e a dupla decidiu instalar uma facção criminosa no Ceará. O paraibano terminou preso, junto ao irmão, por explodir caixas eletrônicos, em Pernambuco, em 2013. A PF também pediu a transferência de 'Siciliano' para um presídio federal.

Todos os seis maiores líderes da GDE, donos dos anéis templários, agora são conhecidos pela Polícia cearense: 'Siciliano'; 'Guardião'; Francisco Tiago Alves do Nascimento, o 'Magão' ou 'Juara'; Marcos André Silva Ferreira, o 'Branquinho' ou 'Dedé'; Yago Steferson Alves dos Santos, o 'Supremo' ou 'Gordão'; e Deijair de Souza Silva, o 'Mestre' ou 'De Deus'. Cada joia vale cerca de R$ 7 mil.

Conforme documentos obtidos pelo Sistema Verdes Mares, a facção cearense, nascida em 2015, tem cerca de 20 mil membros e 20 líderes. Chefes de escalões abaixo dos donos dos anéis também foram detidos pela Polícia entre 2018 e o ano corrente: os irmãos Noé de Paula Moreira, o 'Gripe Suína', e Misael de Paula Moreira, o 'Afeganistão'; Auricélio Sousa Freitas, o 'Celim da Babilônia'; Zaqueu Oliveira da Silva, o 'Macumbeiro'; João Paulo Félix Nogueira, o 'Paulim das Caixas'; Marcos da Silva Pereira, o 'Marquim Chinês'; e Francisco Romário Passos de Sousa Oliveira, o 'Escob@', preso na última terça-feira (24).

A maioria dos líderes da GDE já foram transferidos para presídios federais. Questionado sobre o motivo que leva o MPCE a pedir pelas transferências, o coordenador do Gaeco, promotor de Justiça Rinaldo Janja, explicou que "o critério utilizado é a qualidade do preso de fazer mal à sociedade. Agora, existe uma solução de inclusão em RDD, Regime Disciplinar Diferenciado, mas aqui (no Ceará), ainda, nós não temos presídios estruturados para uma inclusão em RDD", afirmou o coordenador do Gaeco, promotor Rinaldo Janja.

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