Dilma criticou ofensiva militar contra EI e defendeu diálogo durante passagem pela ONU

"O Brasil sempre acreditará que a melhor forma (de resolução dos conflitos) é o diálogo, é o acordo, é a intermediação da ONU", declarou a presidente a jornalistas após participar da Cúpula do Clima, em Nova York

Escrito por Estadão Conteúdo ,
Durante passagem pelas Nações Unidas em setembro do ano passado, em plena campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff deu uma controversa declaração em que criticou a ofensiva militar contra o Estado Islâmico e defendeu uma saída baseada no "diálogo".
 
Neste domingo, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que o Palácio do Planalto recebeu relatórios de setores da inteligência que detectaram tentativas de cooptação de jovens brasileiros pelo Estado Islâmico, o que representaria um "fator de risco" - a principal preocupação das autoridades é com a segurança dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
 
"O Brasil sempre acreditará que a melhor forma (de resolução dos conflitos) é o diálogo, é o acordo, é a intermediação da ONU", declarou a presidente a jornalistas após participar da Cúpula do Clima, em Nova York.
 
Na época, os Estados Unidos, com apoio de aliados árabes, realizaram ataques aéreos contra campos de treinamento do grupo na Síria. "Lamento enormemente isso. Nós repudiamos sempre o morticínio e a agressão dos dois lados e não acreditamos que seja eficaz. O Brasil é contra todas as agressões", comentou a petista.
 
No dia seguinte, a presidente voltou a criticar a ofensiva militar. "Vocês acreditam que bombardear o Isis (Islamic State, na sigla em inglês) resolve o problema? Porque se resolvesse, eu acho que estaria resolvido no Iraque. O Isis tem apoio de comunidades sunitas. Então, o que se tem de olhar é, de fato, a raiz desse problema", afirmou a presidente.
 
"Vocês sabem aquele negócio, quando você destampa a caixa e sai todos os demônios? Os demônios estão soltos, todos. Não vamos esquecer o que ocorreu no Iraque: houve uma dissolução do Estado iraquiano, uma dissolução. Então, hoje, a gente querer simplesmente bombardear o Isis, dizer que você resolve porque o diálogo não dá. Eu acho que não dá, também, só o bombardeio, porque o bombardeio não leva a consequências de paz."
 
Repercussão
 
As declarações da presidente causaram repercussão no Brasil. O então candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, acusou Dilma de propor "diálogo com um grupo que está decapitando pessoas".
 
O então ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, foi escalado pelo Planalto para rebater as críticas do tucano. Figueiredo teve de voltar às pressas, cancelando em cima da hora uma audiência que teria com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.
 
Na época, Figueiredo avaliou que houve uma "grande confusão" na interpretação da fala de Dilma. "Você tem de ter um diálogo na comunidade internacional para resolver essas questões. Diálogo com a comunidade internacional é exatamente o que é uma solução política, não militar, e isso é dentro sempre das melhores tradições da política externa brasileira, até porque a gente sabe que não há solução militar para isso", comentou Figueiredo.