No tiro com arco do Pan, Yaci representa os indígenas brasileiros

Graziela Paulino dos Santos utiliza seu nome indígena em todo local que vai e diz estar focada na conquista de vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Ela conta que o esporte realizou o seu sonho de viajar para diferentes locais do mundo

Legenda: Yaci é a representação indígena nos Jogos de Lima, no Peru
Foto: Divulgação

Pela primeira vez na história, o Time Brasil tem uma atleta indígena nos Jogos Pan-Americanos. Trata-se de Graziela Paulino dos Santos, atleta de tiro com arco e que vem da comunidade indígena Nova Canaã, no Rio Cuieiras, na região amazônica do Rio Negro, perto de Manaus. Ela é da etnia Karapanã e até os 17 anos viveu em uma comunidade de 64 habitantes. “Eu sou a primeira indígena a representar o Brasil no Pan, me sinto feliz e orgulhosa por isso. Nos treinos oficiais atirei bem e espero que essa sensação boa fique até o término da competição”, afirma.

Agora, aos 23 anos, sonha ganhar o mundo com arco e flecha na mão. Algo que fazia como uma brincadeira quando era criança. “Nessa época que era pequena, sempre sonhei em fazer faculdade e ter um trabalho que viajasse muito. Com o esporte consegui isso e o meu sonho de criança se realizou”, conta a indígena, que viajou para alguns países para participar de torneios.

Em Lima, Graziela vai disputar a competição de tiro com arco e o foco é a conquista da vaga olímpica para o Brasil. “Estou muito feliz de estar aqui. O Pan é uma competição muito importante e espero que a gente consiga um bom resultado e a vaga para os Jogos Olímpicos”, explica.

Tradição de berço

Sua história com o arco e flecha começou no interior do Amazonas, como diversão. Isso já faz parte da cultura de seu povo e ela sempre gostou.

“Eu nasci e me criei no rio, comecei a brincar aos 10 anos. Em 2013, apareceu uma senhora procurando atletas para o tiro com arco. Teve seletiva e me interessei. Ela escolheu dois jovens, depois mais 12 foram treinar em Manaus. Foi assim que comecei no Arqueria Indígena”.

Ela costumava usar o arco nativo, algo comum entre os Karapanãs. “Antigamente era utilizado principalmente para sobrevivência, para trazer o alimento para casa. Mas com o tempo foram aparecendo outras formas para caçar, inclusive armas de fogo, e passamos a usar como diversão”.

O projeto social que Graziela - ou Yaci, seu nome indígena que ela mesma escolheu e significa “lua” - frequentou a ajudou também a se formar no curso de Ciências Contábeis. Ela tinha bolsa, treinava de manhã e à tarde, e estudava à noite. Concluiu no ano passado e, em 2019, optou por se dedicar apenas ao esporte em período integral, para ajudar o Time Brasil a obter a vaga olímpica.

“Quando volto para casa, meus pais me recebem muito bem, gosto muito de estar com eles. Quando estou longe sinto falta deles e do lugar em si”, diz Graziela, que sabe que precisa ser campeã do torneio feminino no Pan de Lima.

Além dela, a equipe feminina de tiro com arco terá ainda Ana Luiza Caetano e Ane Marcelle dos Santos. No masculino, o time é liderado pelo talentoso Marcus Vinicius D’Almeida e conta também com Bernardo Oliveira e Marcelo Costa. Todos são atletas do recurvo. No arco composto, o País terá Bruno Brassaroto e Gisele Meleti.