Presidente da Cruz Vermelha, cearense Júlio Cals de Alencar é afastado temporariamente do cargo

Jornalista ocupa presidência da organização desde 2017

Escrito por Mariana Lemos , mariana.lemos@svm.com.br
Júlio Cals de Alencar
Legenda: Júlio Cals de Alencar foi afastado da presidência da Cruz Vermelha Brasileira
Foto: Reprodução

O jornalista cearense Júlio Cals de Alencar foi afastado temporariamente da presidência da Cruz Vermelha Brasileira, conforme decisão liminar proferida na última segunda-feira (5) pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDF). 

Júlio Cals havia sido afastado em julho pela Comissão de Ética da Cruz Vermelha Brasileira, sob suspeita de abusos, irregularidades e práticas ilícitas na condução da gestão. Ex-funcionários da organização ouvidos pelo Diário do Nordeste alegam comportamento abusivo do presidente. 

O cearense recorreu judicialmente do afastamento, derrubado pelo Juízo da 4ª Vara Cível de Brasília. As filiais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais entraram com recurso pedindo restabelecimento da decisão da comissão, que foi acatado pelo desembargador Alfeu Machado, do TJDF.

O afastamento liminar deve durar por 60 dias. A Cruz Vermelha Brasileira afirmou, em comunicado, que Júlio Cals exerce voluntariamente e sem qualquer remuneração a função de Presidente, como todos os demais presidentes estaduais e municipais da instituição.

"O departamento jurídico da Cruz Vermelha Brasileira está acompanhando os fatos e se pronunciará ao término do processo", disse o órgão sobre a liminar. 

A decisão do desembargador não levou em conta análise das condutas ilícitas apontadas. Foi considerado apenas a legalidade da decisão tomada pelo conselho da instituição.

"É inequívoco o risco à imagem da organização, o que justifica a aplicação pela Comissão de Ética da medida cautelar liminar preconizada no art. 22 do Anexo III do Regulamento Nacional da CVB", diz a decisão.

O que diz Júlio Cals

Em comunicado divulgado nas redes sociais, as filiais da Cruz Vermelha de São Paulo e Alagoas apontam que acionaram os órgãos internacionais da Cruz Vermelha, "em respeito à soberania do maior movimento humanitário do mundo, presente no Brasil há mais de 115 anos".

Júlio Cals afirmou, por meio de sua assessoria, que o seu afastamento não é justificado por nenhum fato administrativo. "Estamos absolutamente tranquilos sobre a decisão liminar, monocrática, não colegiada do TJDF, que deve cair a qualquer momento, por tratar-se de denúncia vazia", diz o comunicado.

O pronunciamento do presidente afirma ainda que é necessária uma maior supervisão das filiais estaduais da Cruz Vermelha.

Ex-funcionários alegam abusos e má gestão de dinheiro doado

Um ex-coordenador da Cruz Vermelha, que integrou a organização por 10 anos, cuja identidade não será revelada, afirma que pediu demissão devido ao comportamento abusivo de Júlio. Ele alega que o presidente assediava os voluntários e fazia má gestão do dinheiro doado à organização.

"Em reuniões, ele fazia questão de tentar me envergonhar, me humilhar. Falou diversas vezes que, se eu não tivesse satisfeito, procurasse outro lugar ou abrisse outra instituição, se eu não concordasse com as decisões dele", aponta.

O ex-funcionário afirma que Júlio colocou dois irmãos nas folhas de pagamento da Cruz Vermelha e fazia viagens sem necessidade para solicitar ajuda de custo. Além disso, alega que, mesmo com o apoio financeiro, custos de alimentação eram financiados pela organização. Como o cargo de presidente não é remunerado, Cals se valeria desses benefícios para conseguir dinheiro. 

Ele afirma ainda que teria sido convidado pelo presidente para uma casa de massagem, com custos pagos com o dinheiro doado à instituição. "Achei que seria um convite de trabalho. Mas, na verdade, ele falou: 'Nós vamos comemorar o aniversário do conselheiro e queria te convidar para ir em uma casa de massagem'. Eu fiquei espantando e falei que não tinha dinheiro, que tava trabalhando. Aí ele falou: 'Não, fica tranquilo, que a Cruz Vermelha paga'", afirma o ex-funcionário.

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Outro ex-funcionário da organização, que trabalhou até fevereiro de 2022, alega que Júlio estaria envolvido com desvio de recursos e criação de uma sociedade oculta. Ele alega que fez um acordo com a organização para ser demitido e receber os deveres trabalhistas, mas não recebeu os pagamentos até agora. 

"Muitas pessoas na instituição saíram em razão do comportamento dele. Mas a maioria, assim como eu, foi demitida, dispensada. Não imaginávamos, entretanto, que a instituição não estava fazendo o pagamento do INSS. A instituição não repassou para o INSS e para a Receita Federa e, por isso, tantos de nós caíram na malha fila", alega.

O ex-funcionário afirma ainda que Júlio tentou dissolver o conselho de ética quando descobriu a investigação sobre ele. "São casos que se espalham pelo Brasil inteiro. Durante anos, o Júlio se portou como um grande preador e é assim que ele se portava. Ele sempre se sentiu muito impune e muito poderoso por ser o presidente da associação", disse. 

Júlio Cals, de 41 anos, tomou pose como Presidente Nacional da Cruz Vermelha Brasileira em 2017. Anteriormente, comandou a filial do Ceará e coordenou a Região Nordeste na sede do comitê internacional da organização.

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