Cearense suspeito de planejar atentado a bomba em Brasília ‘surtou’ e ‘perdeu noção da realidade’, diz família

Segundo advogado, Lucas Ribeiro Leitão não é filiado a nenhum partido político e delírios mentais teriam feito ele sair de casa e chegar até o local do suposto atentado

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(Atualizado às 20:09)
Legenda: Médicos do Samu suspeitaram de esquizofrenia e transtorno de bipolaridade em Lucas às vésperas do Natal
Foto: Reprodução/Redes sociais

Preso no último domingo (29) suspeito de planejar um atentado a bomba em Brasília, Lucas Ribeiro Leitão teria agido assim porque “perdeu a noção da realidade” decorrente de um “surto”. A afirmação, sustentada pela família do corretor de imóveis, foi repassada ao Diário do Nordeste pelo advogado do cearense, Daniel Andrade.

“Ele é apenas alguém que surtou, perdeu a noção do que é a realidade, de quem ele realmente é, já que estava se achando um ser mítico”, contextualiza o advogado. Segundo Daniel, Lucas tinha um plano, cuja única ferramenta para executá-lo era um canivete. “Então é algo absurdo. A olhos leigos, já dá pra chegar à conclusão de que seriam delírios”.

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Nas redes sociais, contudo, as ameaças eram frequentes. Em uma conta fechada no Instagram, Lucas afirmou que iria “botar fogo” em Brasília e que faria um “ataque cirúrgico”. O suspeito pontuou ainda que a segurança pública do Distrito Federal deveria ser aumentada. A defesa do cearense, porém, alega não saber qual plano específico ele queria executar.

“Uma hora era encontrar uma criança desaparecida em Portugal; outra hora era encontrar a irmã do Vitor Belfort; em outra, era fazer o Lula e o Bolsonaro serem amigos… Então a gente não sabe qual era exatamente o plano dele. Mas ele dizia que esse plano seria conquistado apenas com um canivete, que era o que ele tinha”.

Questionado sobre o posicionamento da família diante da confissão de Lucas sobre o planejamento do atentado, Daniel Andrade conta que os parentes entenderam ser a manifestação de um “lunático que apresentava surtos psicóticos”, e que, em algum momento, quando a consciência dele fosse recobrada, ele cairia em si. 

Histórico

A viagem até Brasília para realizar o suposto atentado foi o estopim de algo iniciado há alguns meses. De acordo com Daniel, a família sempre considerou Lucas um rapaz “pacato e muito esforçado em estudar e trabalhar”. Por enfrentar dificuldades financeiras na infância, cresceu com a obsessão de melhorar de vida.

Ele chegou a conseguir a carteira de corretor de imóveis e agia no ramo com distinção, sendo respeitado por clientes e colegas. Em algum momento, inclusive, chegou a abrir a própria imobiliária, a Vem Ser Feliz de Casa Nova, mas, por motivos não especificados, não deu andamento ao projeto. Desanimado com a profissão, decidiu fazer intercâmbio na Irlanda.

Legenda: Advogado conta que, diante da confissão do planejamento do atentado, parentes de Lucas entenderam ser a manifestação de um “lunático"
Foto: Reprodução/Redes sociais

Por lá, onde vivia com um amigo, estudou, trabalhou e conheceu novos países. O amigo, entretanto, não continuou o intercâmbio e Lucas ficou sozinho. Foi nessa época que a família acredita terem iniciado os problemas psicológicos devido ao teor das informações que ele repassava. Não à toa, convenceram-no a retornar ao Brasil, e assim ele o fez.

De acordo com o advogado, Lucas chegou em Fortaleza com um laudo em inglês assinado por um médico da Irlanda. A família não sabe o que consta no documento por estar em outro idioma, mas percebia que, dia após dia, o quadro mental dele se agravava. 

“Então procuraram ajuda. Na semana passada, nos dias que antecederam a véspera de Natal, o 'Samu psiquiátrico' compareceu à casa dele, esteve lá junto com uma viatura. Ele foi levado, medicado, e depois, por conta da burocracia do sistema, não pôde ficar internado. Mas era caso de internação. Estava com suspeita de esquizofrenia e transtorno de bipolaridade”.

Apesar disso, conforme a mãe de Lucas, ele passou o Natal bem, medicado, e, exatamente no dia 25, saiu de casa dizendo que ia “tentar salvar a humanidade”. Tinha apenas uma mochila com duas mudas de roupa e um canivete. “Era tudo o que ele tinha, e isso preocupou os familiares porque não sabiam para onde ele iria. Ninguém imaginou que seria para tão longe. Por ser um rapaz muito alto e forte, ninguém conseguiu detê-lo”.

Próximos passos

Após ter registrado Boletim de Ocorrência em face do desaparecimento de Lucas, apenas no último domingo (29) a família ficou sabendo do paradeiro dele, já com a informação do suposto atentado a bomba. Daniel Andrade diz que conversou com o caminhoneiro que levou o cearense até a Bahia, e o motorista “elogiou bastante” o passageiro.

“O Lucas não contava pra ele sobre plano de atentado nem nada, somente não apresentava nexo nas conversas. Ficava difícil de entender a mensagem que ele queria passar. Mas o caminhoneiro elogiou, disse que era um rapaz muito inteligente, por mais que não imaginasse qual era o intuito dele de ir para Brasília”.

Legenda: Suspeito passou por audiência de custódia e prisão é temporária
Foto: Reprodução/Redes sociais

O advogado, portanto, salienta que o caso não diz respeito a fanatismo político, tendo em vista que o suspeito não era “militante nem afiliado de qualquer partido que seja”. “Ele só tinha na cabeça de que precisava salvar o mundo de algum poder. Resumindo, era isso. Não tem nenhum histórico de movimento estudantil, filiação a partido político, nada. Na verdade, ele não expunha a opinião política dele nas redes sociais para que não tivesse prejuízo com clientes”.

Conforme o Metrópoles, a Justiça mantém Lucas preso até o momento. Por sua vez, o advogado do cearense diz que o suspeito passou por uma audiência de custódia e que a prisão dele é temporária – durará, no máximo, cinco dias.

“Ele vai passar por exames médicos. Se constatada a insanidade mental conforme todos suspeitam, a prisão temporária será revogada e, provavelmente, ele será internado em hospital psiquiátrico – que, no caso, é a solução para ele”.

 

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