Terremoto no Haiti mata Zilda Arns e 11 brasileiros

Escrito por Redação ,
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O brasileiro Luiz Carlos da Costa, representante especial adjunto das Nações Unidas no Haiti, está desaparecido

Porto Príncipe. A médica pediatra e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, morreu vítima do terremoto de 7 graus de magnitude que atingiu na noite da terça-feira o Haiti, onde estava para uma missão humanitária. O Exército brasileiro anunciou que 11 militares brasileiros também morreram no tremor em Porto Príncipe, a capital do Haiti.

Outros sete militares estão feridos e outros sete continuam desaparecidos, segundo comunicado do Exército. Luiz Carlos da Costa, representante especial adjunto das Nações Unidas no Haiti, o mais alto funcionário civil da ONU de nacionalidade brasileira no país, também está desaparecido.

Os militares mortos foram identificados como o 1º tenente Bruno Ribeiro Mário, o 2º sargento Davi Ramos de Lima, o 2º sargento Leonardo de Castro Carvalho, o cabo Douglas Pedrotti Neckel, o cabo Washington Luís de Souza Seraphin, o soldado Tiago Anaya Detimermani, e o coronel Emílio Carlos Torres dos Santos, o soldado Antonio José Anacleto, o cabo Ari Dirceu Fernandes Júnior e o soldado Kleber da Silva Santos, e o subtenente Raniel Batista de Camargos.

O Brasil tem 1.266 militares na força de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) no Haiti, a Minustah, dos quais 250 são da engenharia do Exército. Os militares já tiveram participação no socorro às vítimas dos furacões de 2004 e de 2008, que atingiram o Haiti.

Exemplo de vida

Zilda Arns Neumann, 73 anos, era médica pediatra e sanitarista, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Nascida em Forquilhinha (SC), residia em Curitiba (PR), era mãe de cinco filhos e avó de dez netos. Escolheu a medicina como missão e enveredou pelos caminhos da saúde pública.

Em 1983, a pedido da CNBB, a Dra. Zilda Arns criou a Pastoral da Criança. Foi então que desenvolveu a metodologia comunitária de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres. Após 25 anos, a Pastoral acompanha mais de 1,9 milhão de gestantes e crianças menores seis anos e 1,4 milhão de famílias pobres, em 4.063 municípios brasileiros. Em 2004, Zilda Arns fundou a Pastoral da Pessoa Idosa, com 129 mil idosos acompanhados atualmente.

Efetivo

1.266 militares brasileiros integram a força de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) no Haiti, a Minustah, dos quais 250 são pertencentes da engenharia do Exército

CEARÁ

Pastoral da Criança colabora para redução de desnutrição

Uma colher de chá de sal, duas de açúcar, um copo de água. Com essa receita simples, a mortalidade infantil e a desnutrição, no Ceará, reduziram bastante. E essa mudança começou através do combate efetivo da Pastoral da Criança, fundada 1985 pela médica e missionária Zilda Arns, que faleceu em um terremoto no Haiti.

Para se ter uma ideia, segundo dados da Pastoral da Criança em 1980, de cada 1.000 crianças nascidas, 100 morriam ainda no primeiro ano de vida. Em meados da década de 1990, o número estava em 40 mortos na mesma proporção. Neste início de século, houve uma redução significativa, em 2008, segundo o Ministério da Saúde a cada mil nascidos vivos ocorriam 27 óbitos em todo o estado. Hoje, entre as crianças acompanhadas pela Pastoral, são oito óbitos, a cada mil nascimentos.

Segundo a coordenadora Arquidiocesana de Fortaleza, Francisca Ferreira, além do soro caseiro a multimistura - complemento alimentar à base de sementes naturais, farelo de trigo, fubá de milho, folha de macaxeira e casca de ovo, dentre outros produtos - têm sido os principais trunfos da Pastoral da Criança nesse trabalho.

Ainda muito emocionada com a notícia da morte trágica da companheira de trabalho, a coordenadora regional da Pastoral da Criança Marister Guimarães, ressalta que Arns foi muito mais que uma bela história, ela deixou um legado de fé, coragem devoção e respeito. "É uma grande perda, não só para o nosso Estado, mas a para todo o mundo. Devemos a ela e redução da mortalidade infantil e da desnutrição no Ceará", frisa. Para o arcebispo de Fortaleza, dom Antônio Tosi, a médica e missionária era uma pessoa ímpar, que utilizou o dom que Deus a deu para fazer um grande feito: A Pastoral da Criança.

Ele ressalta que Arns morreu em missão, ainda com muita vitalidade em defesa das crianças e das pessoas idosas. "Ela é um testemunho, de alguém que lutou até o fim da vida por uma causa nobre, e por um desastre da natureza, entregou sua vida. Agora ela está junto de Deus", afirma.

Cidadã Fortalezense

A médica pediatra curitibana Zilda Arns Neumann recebeu o título de Cidadã de Fortaleza, em abril de 2006. Na ocasião, Arns declarou que se sentia extremamente honrada em ser cidadã honorária de uma cidade cujo povo é tão inteligente, criativo, trabalhador e poeta. "O título não é só meu, mas de todas as crianças, dos líderes e dos que fazem a Pastoral da Criança", afirmou Zilda Arns.

Repercussão

"Consternado com a tragédia, transmito meu pesar à família de de Zilda Arns"
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente do Brasil

"Que nosso Deus acolha no céu aqueles que na terra lutaram pelas crianças"
Dom Paulo Evaristo Arns
Arcebispo emérito de São Paulo, irmão de Zilda

"Ela é o testemunho de alguém que lutou até o fim por uma causa nobre"
Dom Antônio Tosi
Arcebispo de Fortaleza

"Ela era um exemplo extraordinário de dedicação às crianças e aos pobres"
José Sarney
Presidente do Senado

"A morte de Zilda Arns deixa milhões de órfãos em todo o Brasil"
Michel Temer
Presidente da Câmara dos Deputados

KARLA CAMILA
REPÓRTER