Cearense denuncia que filho com autismo foi agredido por professora em escola nos Estados Unidos

Residente no país estrangeiro há quatro meses, empresária relata que registrou caso contra o filho de 6 anos às autoridades locais

Escrito por Carol Melo , carolina.melo@svm.com.br
Imagem mostra a fachada da Hammock Pointe Elementary School, na cidade de Boca Raton, no estado da Flórida, Estados Unidos. Mãe cearense denuncia que filho com autismo foi agredido por professora em escola nos Estados Unidos
Legenda: Mãe não fala inglês e afirma que instituição de ensino foi negligente ao demorar reportar ao fato à família
Foto: reprodução/GoogleMaps

A empresária e maquiadora cearense Edlany Bezerra, de 27 anos, denunciou às autoridades dos Estados Unidos que o filho, uma criança de 6 anos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), foi agredido por uma professora numa escola pública de Boca Raton, no estado da Flórida. 

Ao Diário do Nordeste, a brasileira, que reside no país estrangeiro há quatro meses, relatou que o garoto teria sido empurrado e atacado pela docente, no último dia 10 de outubro. Segundo ela, na ocasião, a Hammock Pointe Elementary School acionou a Polícia e afastou a profissional, que seria a especialista em cuidados de estudantes com autismo do local, mas não notificou a mãe sobre o caso.

O Departamento de Crianças e Famílias da Flórida (DCF, na sigla em inglês) informou, em nota enviada ao Diário do Nordeste, que está conduzindo "investigações sobre todas as alegações de abuso, negligência ou abandono" e que "as informações relativas às investigações são confidenciais, de acordo com a seção 39.202 dos estatutos da Flórida", diz o documento.

 Edlany Bezerra desconfiou que algo de errado poderia ter acontecido após o menino retornar do colégio com um brinquedo. "Achei muito estranho, porque o meu filho não pode levar carrinho para escola, e ele, [de repente], ganhou um. A escola já queria comprar meu filho de alguma forma", relembra.

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No dia seguinte, a cearense foi chamada para participar de uma reunião na instituição de ensino. No entanto, novamente não foi notificada sobre a situação. No encontro, que deveria ser uma reunião de rotina sobre a inclusão do garoto na escola, a quantidade de especialistas presente surpreendeu Edlany e reforçou a desconfiança de que algo estava errado.

No entanto, por não falar inglês e confiar na tradutora presente, que também seria uma brasileira, a mãe seguiu alheia à situação até receber um telefonema do colégio, após o encontro, em que um funcionário relatou, em espanhol — língua que a cearense não tem fluência —, que o aluno foi empurrado. A pessoa, porém, não detalhou para a mãe que a suspeita seria uma pessoa adulta. 

Somente quando uma investigadora da polícia entrou em contato, dois dias depois, foi que empresária entendeu que o filho tinha sido agredido por uma professora.

Meu mundo parou. Fiquei totalmente anestesiada. Não conseguia nem falar nada. [...] Na minha cabeça, era uma criança que tinha empurrado meu filho. Nunca pensei na minha vida que meu filho tinha sido espancado na escola e ninguém tinha me dito nada."
Edlany Bezerra
Empresária e maquiadora
 

Hematomas e mudança comportamental

Na ligação, a agente da Polícia ainda questionou se a garoto apresentava hematomas ou se a brasileira conhecia alguém da escola que não gostasse dele. Ao verificar o corpo da criança, Edlany Bezerra encontrou marcas roxas e entendeu a mudança comportamental que ela vinha apresentando.  

Meu filho mudou, ficou oprimido, em pânico, ficou quieto. E a escola não me falou nada, em nenhum momento, do que tinha acontecido. As pessoas ao redor percebiam que ele estava muito agitado, e ele não é assim. Ele não queria que ninguém encostasse nele. Ele ficou muito reativo", detalha.
Edlany Bezerra
Empresária e maquiadora

Ao conversar com o filho, que ainda não relatara a agressão, a mãe descobriu que a criança teria recebido golpes, em formato de punho, da professora e sido empurrada por ela na frente de outros colegas. Ainda segundo o garoto, outros estudantes também foram alvos da docente.

Montagem mostra três imagens de costas de criança com hematoma. Criança com autismo cearense é agredida por professora nos Estados Unidos.
Legenda: Inicialmente, mãe entendeu que filho tinha sido agredido por outra criança
Foto: Arquivo pessoal

Investigação

Um dia depois da ligação da agente de segurança, a cearense procurou ajuda de conhecidos, outros brasileiros fluentes em inglês, que também moram no estado norte-americano. Ela levou o garoto a um médico e, na semana seguinte, com auxílio dos conterrâneos, registrou o caso no Departamento de Crianças e Famílias da Flórida.

Durante este período, o garoto continuava frequentando a instituição pública de ensino. Mas, ao tomar conhecimento que a professora retornara à sala de aula, Edlany Bezerra decidiu retirar o menino da escola. 

"A escola não está nem aí, porque sou imigrante. Eles não demostram nem um pingo de empatia. [...] Não confio em deixar meu filho com uma pessoa dessa, é o mesmo que deixá-lo preso numa sala com um leão. Não dá não, o leão vai atacar uma hora ou outra."

O Diário do Nordeste entrou em contato nessa quarta-feira (25) com a Hammock Pointe Elementary School, mas, até a publicação deste material, não recebeu respostas sobre o caso.

Espero que a Justiça aja rápido. Puna a escola, puna a professora da melhor forma, para que nunca mais isso aconteça com outras crianças e que sirva de exemplo. Não é porque somos imigrantes que vamos ficar calados. Somos humanos, são nossos filhos, [...] eles têm que ser protegidos e amados, não maltratados."
Edlany Bezerra
Empresária e maquiadora
  

Mãe se diz decepcionada

Antes da mudança, a empresária residia em Fortaleza e detalhou que nunca vivenciou nada parecido na capital cearense. A decisão de ir morar nos Estados Unidos foi motivada pela crença de que o país oferecia melhores condições de vida para a família. No entanto, após a situação, ela se diz decepcionada

"É um sentimento de tristeza, de decepção, de revolta, porque a gente se sente incapaz, porque é imigrante, e eles realmente discriminam muito, tem até casos de xenofobia. Não é esse mar de rosas que a gente imagina".

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