Brasileiros resgatados lembram o terror em Israel: 'Parecia cidade fantasma'

Ao todo, mais de 1200 cidadãos já foram repatriados por meio da Operação Voltando em Paz, realizada pelo Governo Federal

Escrito por Agência Brasil / Diário do Nordeste ,
Repatriação de Brasileiros
Legenda: Grupo que espera em Gaza faz parte de nova leva de repatriados
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A Aeronáutica repatriou, neste sábado (21), mais 69 cidadãos brasileiros que estavam em Israel. O voo, realizado em um Embraer KC-390 Millennium da FAB, foi o sétimo da Operação Voltando em Paz, realizada em conjunto com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Itamaraty.

A aeronave decolou na noite de sexta-feira (20) de Tel Aviv e teve como destino o Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife, e a Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro. Além dos brasileiros, três bolivianas, uma mãe e duas filhas estavam a bordo. Nove animais de estimação também foram trazidos. 

Veja também

Um dos resgatados, Renato Abreu, de 33 anos, que vivia em Ashkelon, cidade no sul de Israel, a cerca de 10 km da Faixa de Gaza, contou que a localidade em que estava foi isolada por conta dos ataques. "Parecia uma cidade fantasma. A cidade entrou em lockdown. Há duas semanas, nada funciona, as escolas, o comércio, setores públicos, as empresas", disse.

Mineiro, ele morava no país desde 2016, embora tenha passado um período no Brasil durante a pandemia da Covid-19. "Tínhamos que seguir a recomendação de segurança de não sair às ruas, de forma alguma", completou o profissional em entrevista à Agência Brasil.

O passageiro contou que só soube que seria repatriado na manhã do dia que embarcou. A notícia veio por meio de um telefonema da embaixada do Brasil. Ele morava com um irmão, que seguiu em um voo comercial para Londres. Um tio e um primo ficaram em uma cidade vizinha a Gaza. "Os barulhos são muito altos, a nossa rua foi bombardeada por quatro mísseis. O Sul [de Israel] realmente virou uma zona de guerra", completou.

Outro repatriado foi Pedro Terpins, 23. Ele morava no Oriente Médio há 18 anos e desembarcou no Galeão. "Eu estava desempregado, a minha faculdade parou, toda a minha vida está parada. Eu estava havia duas semanas só no meu quarto, sem sair, sem encontrar amigos, sem trabalhar", relatou o jovem, que tem família em São Paulo. 

Tanto Pedro quanto Renato conheciam pessoas que foram vítimas dos ataques do dia 7 de outubro. "Tem mais pessoas que eu ainda não sei se estão [sequestradas] em Gaza ou se estão mortos e ainda não foram descobertos os corpos", lamentou Terpins.

Mais de 1.200 brasileiros voltaram por meio da operação coordenada pelo Governo Federal. De acordo com o MRE, as três cidadãs bolivianas foram incluídas no avião que partiu nesta sexta "após constatado o não comparecimento de passageiros brasileiros".

"Tivemos que, várias vezes, ir para bunkers. Mas nada que se aproximasse do que se passou perto de Gaza. Graças a Deus, a gente estava um pouco mais seguro, mas era um desespero porque não tinha ninguém nas ruas, todo mundo com medo de tudo", descreveu a administradora gaúcha Michele Antunes, moradora de Jerusalém há cinco anos. 

Último voo de Israel e negociação em Gaza

O Itamaraty vai realizar um voo, o último que está previsto até agora, trazendo mais brasileiros. A aeronave deve partir de Tel Aviv neste domingo (22) e chegar na segunda-feira (23). "Tendo em conta as condições locais atuais e a operação regular do aeroporto de Ben Gurion, não se preveem voos adicionais para brasileiros em Israel", informou a pasta.

Até o fim do ano passado, segundo o Ministério, 14 mil brasileiros viviam em Israel. A orientação das autoridades brasileiras é que "todos os nacionais que possuam passagens aéreas, ou condições de adquiri-las, embarquem em voos comerciais a partir do aeroporto Ben Gurion, que segue operando". 

No Sul de Gaza, 30 brasileiros aguardam pela repatriação. Uma aeronave VC-2 (Embraer 190), cedida pela Presidência da República, está no Cairo, capital do Egito, onde espera autorização para os resgatá-los. O Planalto mantém tratativas com Israel, autoridades palestinas e o Egito para que os cidadãos possam ser retirados.

Assuntos Relacionados