Modelos vivos de embriões humanos são criados a partir de células-tronco pela primeira vez

Chamados de "blastoides", os embriões não são réplicas perfeitas, mas podem influenciar estudos sobre clonagem de seres humanos

Legenda: As equipes fizeram o cultivo dos blastoides a partir de células-tronco, as quais são extraídas de embriões ou derivam da reprogramação de células adultas.
Foto: reprodução/Monash University

Cientistas conseguiram, pela primeira vez na história, desenvolver os primeiros modelos vivos de embriões humanos primitivos. Os resultados foram visualizados por grupos de pesquisadores da Monash University, na Austrália, e da University of Texas, nos Estados Unidos. As informações são da Revista Exame.

Os estudiosos classificaram os embriões como "blastoides", conjuntos celulares similares aos blastócitos, estágio de desenvolvimento de embriões entre cinco a dez dias após o óvulo ser fertilizado. Os blastoides contêm células de todos os tipos, além da mesma atividade bioquímica e estrutura dos embriões naturais. Eles, no entanto, não são réplicas perfeitas — não podem ser implantados em um útero, por exemplo.

A existência deles, porém, pode influenciar estudos na área de Engenharia Genética Humana e até mesmo na clonagem de seres humanos. Isso foi o que levou a Sociedade Internacional para Pesquisas com Células-Tronco a desenvolver novos protocolos éticos para que modelos de embriões com base em células-tronco fossem cultivados. As novas diretrizes devem vir a público em maio de 2021.

“Os blastoides permitirão aos cientistas estudar as primeiras etapas do desenvolvimento humano e algumas das causas da infertilidade, doenças congênitas e o impacto de toxinas e vírus em embriões precoces — sem o uso de blastocistos humanos e, principalmente, em uma escala sem precedentes, acelerando nossa compreensão e o desenvolvimento de novas terapias”, afirmou o líder do projeto na Monash University, Jose Polo.

Como as equipes trabalharam na pesquisa

As equipes fizeram o cultivo dos blastoides a partir de células-tronco, as quais são extraídas de embriões ou derivam da reprogramação de células adultas. Os materiais foram cultivados em placas de laboratório para ser desenvolvidos como embriões reais no prazo de uma semana, até que se tornasse blastoides de tamanho e formas parecidas aos naturais.

O cultivo de embriões humanos, por motivos éticos, não deve passar dos 14 dias. Em razão disso, os pesquisadores, mesmo trabalhando com os blastoides, seguiram o mesmo prazo.

Desenvolvimento de células

Os blastoides chegaram a desenvolver mais de cem células, as quais estavam começando a se diferenciar em outros tipos. Tal ocorrência indica que elas chegariam a produzir tecidos diferentes caso a evolução tivesse continuado. Alguns dos blastoides chegaram até mesmo a simular a implantação no útero ao se fixarem na placa usada em laboratório, desenvolvendo células utilizadas na formação da placenta.

Os cientistas insistem que, embora os blastoides sejam bastante valiosos para o estudo do início da gestação, não devem ser considerados embriões sintéticos. “Existem muitas diferenças entre blastoides e blastocistos”, disse Jun Wu, líder dos pesquisadores dos Estados Unidos. “Blastoides não seriam embriões viáveis”, assinalou.

Segundo a pesquisadora Naomi Moris, os modelos estudados têm potencial de melhorar tratamentos para casos de infertilidade, intervenções para defeitos cardíacos e cerebrais congênitos e até mesmo outras doenças genéticas. “À medida que esses modelos continuam a avançar, os comitês de revisão de pesquisa precisarão de um conjunto de critérios para revisar a permissibilidade das propostas de pesquisa”.