Fiocruz relata 1º caso raro de encefalite associada à infecção por zika no Brasil
Paciente de 21 anos apresentou sintomas leves típicos de infecção viral.
Publicado na revista científica Viruses, um estudo conduzido por pesquisadores da Fiocruz Bahia descreve o primeiro caso documentado no Brasil de encefalite do tronco encefálico — também conhecida como rombencefalite — associada à infecção pelo vírus zika. O registro foi publicado no site da instituição na última terça-feira (22).
O registro reforça o potencial neuroinvasivo do patógeno, já conhecido por causar complicações como a síndrome de Guillain-Barré e a síndrome congênita em recém-nascidos durante o surto de 2015.
A paciente, uma jovem de 21 anos, previamente saudável, apresentou inicialmente sintomas leves típicos de infecção viral, como febre, erupção cutânea e dores articulares.
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Sete dias depois, evoluiu com sinais neurológicos graves — confusão mental, dificuldade para falar e caminhar, convulsões e paralisia facial — indicativos de comprometimento do tronco encefálico.
Os exames laboratoriais descartaram outros vírus, como dengue e chikungunya. Embora os testes moleculares (RT-PCR) tenham sido negativos, a infecção por zika foi confirmada por meio de sorologia (ELISA IgM) e teste de neutralização por redução de placas (PRNT), método considerado padrão para detecção do vírus.
A paciente recebeu tratamento com corticosteroides e antiepilépticos, apresentando melhora significativa após 25 dias de internação. Atualmente, nove anos após o episódio, encontra-se plenamente funcional, com apenas sintomas residuais leves, como cefaleia e lapsos de memória.
Implicações e recomendações
Conforme a coordenadora do estudo, a pesquisadora Isadora Siqueira, a descoberta amplia o entendimento sobre os efeitos neurológicos do zika e destaca a necessidade de vigilância clínica contínua. “Este trabalho amplia o conhecimento sobre os efeitos neurológicos do vírus zika e alerta para a necessidade de vigilância clínica e estratégias de diagnóstico mais eficazes”, afirmou.
O estudo ressalta ainda a importância de se utilizar métodos sorológicos em fases mais tardias da infecção, quando a carga viral é baixa e os testes moleculares tendem a falhar.
Os autores defendem o investimento em estratégias diagnósticas mais sensíveis e em abordagens terapêuticas capazes de reduzir sequelas neurológicas a longo prazo.