Combinação de CoronaVac e AstraZeneca potencializa produção de anticorpos, diz estudo

Conforme a análise, a inoculação com as duas vacinas produz até quatro vezes mais anticorpos neutralizantes

Legenda: No Brasil, a CoronaVac e a AstraZeneca representam 79,5% dos imunizantes aplicados
Foto: Thiago Gadelha

Uma pesquisa tailandesa indica que a combinação de imunizantes contra a Covid-19 de diferentes plataformas — como é chamada as tecnologias de fabricação das vacinas — pode potencializar a proteção contra o coronavírus, mais do que quando é usado apenas um tipo de fármaco. As informações são do jornal O Globo.   

O estudo utiliza a associação da CoranaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, aliada à vacina produzida pela farmacêutica AstraZeneca. Conforme a análise, a inoculação com os dois imunizantes produz quatro vezes mais anticorpos neutralizantes que com às duas etapas com a CoronaVac, e pouco mais de três vezes do que com duas doses da AstraZeneca.  

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Os pesquisadores avaliaram as descobertas como importantes e positivas, mas frisaram que o estudo ainda não define que existe a necessidade da intercambialidade entre os imunizantes.  

"O trabalho mostra a produção dos anticorpos neutralizantes contra a proteína spike, mas isso não é sinônimo de que a pessoa estará protegida. Porque ainda não conhecemos o chamado correlato de proteção [volume necessário de anticorpos para estar imunizado contra a doença]", frisou o médico geneticista e diretor do Laboratório Genetika, de Curitiba, Salmo Raskin, ao O Globo.  

O estudo foi realizado por cientistas do Centro de Excelência em Virologia da Universidade de Chulalongkorn, na Tailândia, e ainda não foi revisado por outros pesquisadores. O país do Sudeste Asiático é um dos que utilizam a CoronaVac na campanha de vacinação contra a Covid-19.  

O grupo que recebeu a associação dos imunizantes era formado por 77 voluntário; outros 79 receberam duas doses de fármaco do laboratório Sinovac; e 80 pessoas duas doses da vacina desenvolvida pela AstraZeneca. Os voluntários eram do sexo feminino e masculino, e alguns possuíam doenças relacionadas — mais frequente no grupo que recebeu apenas AstraZeneca.  

"É uma boa notícia. O estudo fortalece as medidas que têm sido tomadas no mundo todo. O que se espera agora são novas análises que ampliem o número de participantes e tragam novas informações em relação ao esquema heterólogo [quando há a combinação de plataformas distintas num único esquema de imunização]", disse Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de Infectologia, ao jornal. 

Esquema vacinal brasileiro 

No Brasil, a CoronaVac e a AstraZeneca representam 79,5% das vacinas aplicadas. Ambos os imunizantes possuem parcerias com laboratórios brasileiros, a primeira com o Instituto Butantan e segunda com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para transferência de tecnologia — cessão da fórmula para fabricação das vacinas.   

O infectologista e diretor médico do grupo Fleury, Celso Granato, afirmou ao O Globo que o estudo tailandês é “muito útil”, pois apresentar uma situação que remete à imunização brasileira ao utilizar as principais vacinas aplicadas no país. No entanto, frisou que a análise não considera as variantes Delta e Gama, em circulação no território brasileiro.   

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Atualmente, a combinação de imunizantes de diferentes fabricantes já está prevista no Brasil. Na semana passada, o Ministério da Saúde determinou que preferencialmente a vacina desenvolvida pela Pfizer seja usada como dose de reforço em idosos acima de 70 anos e em imunossuprimidos.

Antes da determinação, o fármaco da fabricante já era usado como segunda dose em grávidas que receberam a primeira dose da AstraZeneca — imunizante que teve a aplicação em gestante suspensa pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).