Fim de trégua entre gangues aumenta violência no bairro Sapiranga

Diante da violência que se instaurou no bairro nos últimos dias, a Polícia Militar do Ceará reforçou o efetivo na região

Escrito por Redação ,
A paz e a segurança que os moradores do bairro Sapiranga, em Fortaleza, experimentaram durante mais de um ano foram interrompidas por tiroteios que começam à noite e se prolongam na madrugada dos últimos dias.
 
Um morador da Rua Corrêa Lima, que não será identificado pela reportagem, contou que a troca de tiros incessante durante a noite começou na última sexta-feira (14). "Acabou a trégua de paz. A gente ouve tiro a noite inteira. Fazia tempo que não era assim", relatou.
 
Já um comerciante da Rua Marcelo Réis, que também não será identificado, afirmou que os moradores do bairro e áreas vizinhas estão assustados. "Tá todo mundo com medo. Foi muito tiro", disse o homem, visivelmente preocupado.
 
A violência e os disparos se agravaram na noite da última terça-feira (18), o que teria causado o esvaziamento de ruas, escolas e da feira do bairro, no dia de ontem, devido ao medo, segundo os moradores. "Tem ninguém nas escolas", apontou o morador da Rua Corrêa Lima ouvido pela reportagem. "A feira amanheceu vazia", contou o comerciante, que disse que não teve coragem de fazer compras para reabastecer o seu mercadinho.
 
Gangues
 
O fim da trégua de paz entre gangues de dentro da Sapiranga teria se dado após a quebra do pacto nacional entre as grandes facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando (CV), que chegaram aos presídios do Ceará e aliciaram gangues menores da periferia de Fortaleza.
 
Um servidor da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE) confirmou que a pacificação articulada por PCC e CV em Fortaleza, que colaborou para a queda do número de homicídios na cidade, está abalada pelo racha entre as duas organizações. Segundo ele, a Sapiranga (que foi justamente o primeiro bairro a firmar a paz) já vem demonstrando o fim do pacto. "Estava totalmente calma. Em menos de uma semana, já ocorreram vários tiroteios e até mortes", revelou.
 
O acordo de paz no bairro Sapiranga pode ter sido firmado em março de 2015, quando um vídeo, em que gangues se reúnem em um campo de futebol, conhecido como "Campo da Leda", circulou nas redes sociais. As organizações criminosas seriam pertencentes às comunidades Alecrim, Piçarreira, Lagoa Seca e Muro Alto, dos bairros Sapiranga, Édson Queiroz e Conjunto Alvorada, que são reverenciadas no vídeo, que finaliza com aplausos e gritos de "Uh é só na paz! Uh é só na paz!".
 
PM procura ocupar o bairro
 
Diante da violência que se instaurou no bairro Sapiranga nos últimos dias, a Polícia Militar do Ceará reforçou, na última terça (18), o efetivo na região com o patrulhamento do Batalhão de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio) e do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque).
 
Na primeira noite presente no bairro, uma equipe do BPRaio conseguiu apreender armas, munições e um rádio de comunicação, após os suspeitos que estavam com o material se evadirem do local. Entre as armas estavam dois rifles de caça, calibres 22 e 36, e uma pistola 380, segundo o comandante da Área Integrada de Segurança (AIS) 3 - que abrange a Sapiranga, tenente-coronel Ricardo Colares, da Polícia Militar. O material apreendido foi levado ao 2º DP (Aldeota).
 
"O Raio e o Choque estão na Sapiranga para trazer uma maior sensação de segurança aos moradores. Tivemos algumas ocorências de disparos durante a noite, nos últimos dias, na Sapiranga, o que não era normal até uma semana atrás. Estão circulando mensagens em redes sociais que, muitas vezes, não são verdades e podem assustar essas pessoas", afirmou o tenente coronel Ricardo, referindo-se a áudios que estão circulando no aplicativo WhatsApp e que atribuem o tiroteio à briga entre gangues rivais, ligadas a PCC e CV, na Sapiranga. O militar não confirmou a presença dessas facções nas comunidades do bairro.
 
A população teme que a insegurança e a violência se instalem de novo no bairro por um tempo maior. "Enquianto tiver alguma demanda nos próximos dias, o reforço policial vai continuar", avisou o comandante da AIS 3.
 
A reportagem presenciou, na manhã desta quarta-feira (19), a chegada de cinco detidos ao 2º DP, que estavam portando uma pistola e droga, no bairro Sapiranga. Os policiais militares que realizaram a prisão não ligaram o grupo ao tiroteio e ao conflito de gangues.
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