Legislativo Judiciário Executivo

Tramitando na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) desde o início de setembro, o Plano Plurianual (PPA) para o período 2026–2029, o primeiro elaborado no governo do prefeito Evandro Leitão (PT), apresenta uma série de mudanças em relação ao planejamento vigente, mas também um prosseguimento em estratégias tocadas pelas gestões anteriores. 

A elaboração do PPA para o próximo quadriênio contou com a realização de fóruns territoriais presenciais, abrangendo os territórios da cidade, além do lançamento de uma plataforma virtual de participação popular. O plano abrange um conjunto de promessas feitas pelo petista quando da campanha eleitoral de 2024.

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Neste texto, o PontoPoder compara o planejamento orçamentário vigente, elaborado durante o mandato do ex-prefeito José Sarto (PDT), com a proposição que está no Legislativo municipal. A fim de ampliar a discussão, especialistas em Gestão e Finanças Públicas opinam sobre as similaridades e as diferenças das duas peças.

Esta produção integra uma série especial veiculada pelo Diário do Nordeste com um diagnóstico do Plano Plurianual 2026–2029, investigando os desafios para o próximo ciclo de gestão e qual a Fortaleza planejada pelo Poder Público municipal.

Separador PPA

Volume de recursos e receitas

A primeira diferença está no volume de recursos. O texto que está no Legislativo prevê um orçamento de R$ 70,5 bilhões para os próximos quatro anos, representando um aumento substancial em relação aos R$ 42,543 bilhões previstos no PPA 2022–2025. 

A alocação destas cifras também mostra algumas mudanças. Quando da sua sanção, o Plano Plurianual vigente destinou 64,84% para Programas Finalísticos, 29,84% para Programas de Apoio Administrativo e 5,31% para Programas Especiais. 

Agora, o PPA aloca 58,34% (R$ 41,1 bilhões) para Programas Finalísticos e 33,79% (R$ 23,8 bilhões) para Programas de Apoio Administrativo. E, embora o valor para programas finalísticos tenha crescido, a proporção no orçamento total diminuiu, enquanto a fatia administrativa aumentou percentualmente.

Saúde (com 19 bilhões), Educação (com seus R$ 18 bilhões) e Previdência Social (cujo aporte é de R$ 7,3 bilhões) são as áreas com os principais aportes financeiros, ao que elenca o orçamento para o período.

Para Ricardo Aquino Coimbra, mestre em Economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), observando os dois planos, “há uma certa continuidade nos eixos centrais”.

“Mas também existem alguns sinais claros de evolução na ênfase e na arquitetura da gestão, principalmente objetivos ligados à qualidade dos serviços públicos”, completa o docente, que indica também outros avanços no âmbito da mobilidade e acessibilidade, e na estrutura institucional, que se volta para a gestão de resultados. 

A previsão de receitas é um aspecto contemplado pela peça. Os dois planos reconhecem a alta dependência do município em relação às transferências da União e do Estado. No entanto, o PPA 2026–2029 introduz um novo elemento: a reforma tributária. Ambos os planos evidenciam o fortalecimento das receitas próprias.

Sobre as estratégias para redução da dependência, Samuel Leite Castelo, doutor em Gestão de Empresas pela Universidade de Coimbra e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), aponta que na peça mais recente há uma “atenção para as atividades de controle e para a atividade da administração tributária”. 

“Uma voltada para a captação de recursos, para o financiamento das políticas públicas, e a outra para a questão de implementação de processos, de efetividade e eficiência e eficácia dos processos, que seria exatamente a consolidação dos controles internos”, comenta. 

Reconfiguração dos eixos estratégicos

Os sete eixos estratégicos que norteiam o planejamento governamental em Fortaleza foram reorganizados e, em alguns casos, redefinidos para o quadriênio 2026–2029. Isso aponta para um reposicionamento nas prioridades e na abordagem da gestão.

No PPA 2022–2025, foram dispostos os seguintes eixos:

  • Equidade Territorial, Social e Econômica 
  • Cidade Integrada, Acessível e Justa 
  • Vida Comunitária, Acolhimento e Bem-Estar 
  • Desenvolvimento da Cultura e do Conhecimento 
  • Qualidade do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 
  • Dinamização Econômica e Inclusão Produtiva 
  • Governança Municipal 

No projeto de lei do PPA 2026–2029, eles aparecem da seguinte maneira:

  • Equidade Social e Territorial
  • Emprego e Renda
  • Acolhimento Inclusivo e Qualidade nos Serviços Públicos
  • Segurança Viária, Mobilidade Urbana e Acessibilidade
  • Convivência Ambiental Sustentável
  • Patrimônio Cultural e Requalificação do Centro Urbano
  • Governança e Gestão Pública Compartilhada

“Em termos processuais de elaboração, eles são extremamente semelhantes”, discorre Samuel Leite Castelo. “Os dois governos têm como característica base o aspecto social. Então, praticamente, eles têm o mesmo enfoque em relação ao atendimento das demandas exigidas pela população”, continua.

Mas o que a gente percebe, em relação aos eixos, é a mesma quantidade — alguns são até semelhantes em termos de nome — e observamos um deslocamento de programas e de ações de um determinado eixo para outro.
Samuel Leite Castelo
Especialista em Administração Pública

Coimbra, por sua vez, frisa que o novo PPA “aponta mais arranjos de governança e monitoramento, um processo de interlocução comunitária, para priorizar as entregas”. Nas palavras do especialista, se percebe “um novo modo de operacionalizar a cidade com focos e direcionamento”. 

De acordo com Coimbra, eixos como Acolhimento Inclusivo e Qualidade nos Serviços Públicos, Convivência Ambiental Sustentável, Emprego e Renda, Segurança Viária, Mobilidade Urbana e Acessibilidade e Patrimônio Cultural e Requalificação do Centro Urbano “ganharam mais visibilidade” no texto do Plano Plurianual que está na CMFor.

Novos programas

O PPA 2026–2029 introduz e consolida diversas políticas e programas promovidas em outros ciclos de gestão que antecederam o governo de Evandro Leitão. O novo plano abarca, por exemplo, o Plano Fortaleza Inclusiva (PFI), que não está no PPA anterior. No guarda-chuva desta política, que começou a ser implementada pela Prefeitura de Fortaleza, está um rol de programas.

Fazem parte do PFI, a Superação da Situação de Rua, o Infância Viva, o Saúde que Cuida, o Fortaleza para Todas as Idades, Fortaleza Sem Fome e a Atenção às Pessoas com Deficiência. Tais iniciativas contemplam públicos vulneráveis, por meio de políticas de ampliação do acesso à saúde, de segurança alimentar e de garantia de serviços essenciais.

Se mantém uma prioridade para a Saúde, Educação e políticas de equidade do que a gente chama territorial-social. Ou seja, a organização por eixos temáticos, com metas e indicadores. E isso, de certa forma, dá um indicativo de uma base conceitual estável sobre as prioridades urbanas da cidade.
Ricardo Aquino Coimbra
Economista

No PPA do próximo quadriênio consta uma expansão dos orçamentos temáticos, que, conforme define a própria administração municipal, permitem visualizar melhor a execução orçamentária de políticas públicas transversais que mobilizam diversos órgãos.

Além dos já existentes para Criança e Adolescente e Primeira Infância, o plano para 2026–2029 propõe novos orçamentos temáticos como Orçamento Mulher, Orçamento Emprego e Geração de Renda e Orçamento Idoso. 

O novo plano propõe a Plataforma de Velocidade Operacional para aprimorar o transporte público e a regulamentação/fiscalização de novos modais (como bugueiros e aplicativos de entrega). Há também um foco na redução de acidentes e óbitos no trânsito através de melhorias na infraestrutura e campanhas educativas. 

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Legenda: PPA 2026-2029 traz novas políticas como o Plano Fortaleza Inclusiva, que começou a ser implementado
Foto: (1 e 2) Kiko Silva / (3) Beatriz Boblitz

Propostas como o resgate e ampliação do Programa Fortaleza das Artes e Mostra de Música Petrúcio Maia, a criação da Casa do Artista, e a formação do Fundo de Incentivo ao Esporte e Lazer (Fiel) são citadas no planejamento para a Cultura, Esporte e Juventude.

O PPA 2026–2029 explicita programas de Enfrentamento e Adaptação às Mudanças Climáticas, Gestão das Águas Urbanas e soluções baseadas na natureza. O PPA anterior já mencionava a proteção de recursos naturais e ampliação de áreas verdes, mas com um foco mais direto nas questões climáticas. Ele também previa a criação de 40 novos parques e um plano de arborização.