QUE NEM TU: Partideiro, batuqueiro, rimador, Belinho mostra que o Ceará também é terra do samba

O cearense faz sua roda de samba com clássicos da música e também tem trabalho autoral

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(Atualizado às 13:20, em 29 de Outubro de 2024)

Cearense da gema, nascido e criado na comunidade do Campo do América, em Fortaleza, Belinho da Silva se fez sambista. Apaixonado por versar, encontrou no partido alto, a rima da roda de samba, seu lugar. Menino, na escola, começou a escrever paródias e percebeu que tinha o dom de comunicar. Encantado com o samba, acompanhou músicos em rodas itinerantes e aprendeu- de olho e ouvido- a tocar. Daí em diante não existia outro caminho a trilhar que não fosse acompanhado dos seus, entoando sambas e versos.

O nome artístico, ele conta em entrevista ao Que Nem Tu desta quinta-feira (10), veio em referência a um outro sambista famoso. Louro no cabelo e o pagode romântico na ponta da língua. Belo lá, Belinho cá. E o cearense chegou até a conhecer e conversar com seu xará.

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Além de Belo, Belinho também fez seu show para outras referências suas. Episódio que marcou sua vida e carreira foi quando ele viajou para uma temporada no Rio de Janeiro e chegou a versar com um de seus ídolos, Xande de Pilares, numa espécie de batalha de improviso numa roda de partido alto. O cearense guarda pra sempre o momento e explica o que representa.

"Lá no camarim,  ele pediu pra gravar um vídeo pra me apresentar. O cara me deu maior atenção, me deu força, me deu conselho. Quando eu desci do palco lá, uma mulher chegou pra mim e falou assim: 'Cara, Ceará tem partido alto?' Eu: 'Tem.  Tem roda de samba muito foda lá, tem vários sambistas, vários artistas incríveis no meu Ceará'. E muita gente lá do Rio não sabe. A gente precisa levar nosso nome pra fora, a gente precisa expandir nosso trabalho, levar outros sambistas daqui também. Porque quando, a partir do momento que a gente consegue uma porta aberta no Rio, que eu consiga uma porta aberta lá. automaticamente eu trago meus parceiros da música daqui também de Fortaleza, entendeu?".

Belinho faz parte dessa nova geração que faz samba em Fortaleza. Agenda lotada, de segunda a segunda, ele vê novos palcos se abrirem e uma legião se formar público cativo. O partideiro celebra esse momento bom de si e do samba de Fortaleza. "Cresceu muito o samba em Fortaleza. Hoje em dia tem festa de segunda a segunda na cidade, entendeu? A gente cantar um lado B da música hoje e todo mundo cantar, todo mundo vir abraçar junto com a gente, todo mundo escutando samba, acho que o samba tá vivendo o melhor momento dentro da nossa cidade. Com todo respeito a história, porque eu sou novo ainda, teve um galera que viveu muito antes. E foi abrindo os caminhos pra gente".

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Mas nem sempre foi assim. O cearense revela que chegou a enfrentar um período muito difícil e que por pouco desistiu da música. "Foi uma época difícil pra mim, que foi uma época em que eu me envolvi com droga. E aí eu fiquei mais pra baixo, não tinha show, não aparecia festa, eu não sabia o que eu ia fazer da vida. Aí chegou pandemia. Vou desistir da música, vou fazer um curso de mecânica, eletricista, fazer qualquer coisa pra ver se eu me profissionalizo, porque o que me deixava mais triste era porque eu não conseguia ter um retorno grande, nem de um e nem de outro. Tava cansado no trabalho, e na música não aparecia mais eventos". Um combo que faria muitos desistirem.

Belinho
Legenda: Belinho também compõe e já tem canções autorais
Foto: Ismael Soares

No entanto, foi na pandemia que Belinho conseguiu uma vitrine importante. Ele fez uma paródia com uma forte crítica social e política e ela viralizou. O viral trouxe a visibilidade que o artista precisava para mostrar seu talento. "Pra você ver o poder da arte, né? Ali foi uma virada de chave na minha vida. Alí eu disse que agora eu vou levar meu projeto pra frente, vou fazer meu samba, vou estudar mais música e eu vou viver só de música". Dito e feito!

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